I - O casamento de Luanda

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Estava prestes a me casar quando vi que não era aquilo que queria para mim mas sim, o que minha família queria e tinha me preparado há anos.

Me lembro bem quando conheci Zango no baile beneficente que meu pai havia dado, ele era o tipo de homem que toda mulher sempre sonhou. Mas era só a primeira vista.

Sua pele negra, olhos de jabuticaba, boca carnuda, tudo isso junto com um conjunto de terno azul o tornava insuportavelmente lindo.

Nos primeiros meses eram flores, viagens e jóias. Depois, começou a gritar comigo, mandar em mim, me dizer o que eu tinha que vestir... E ontem, na nossa despedida de solteiro, ele me bateu na frente de todos os convidados. Eu não queria que ficassem preocupados comigo, dei a desculpa que foi a bebida e que tinha sido eu que causei aquela situação.

Uma noite divertida, virou uma noite desastrosa. Horrível. Que vai para sempre me marcar.

Mali, minha melhor amiga, me disse há uns dez minutos atrás. "Ele não é o cara certo para você. Desiste desse casamento Lu, ainda está em tempo de salvar sua vida."

Ela sempre soube dos nossos conflitos e do jeito agressivo dele. Foi ele que me afastou dos meus amigos, mas só Mali insistiu em ficar comigo esse tempo todo e nunca desistiu de mim, sempre se mostrava presente, que eu poderia contar com ela. Não estava sozinha, eu poderia terminar com ele ali e agora.

"Mas e meus pais, e meus convidados?"

Foi quando um vento forte soprou em meu rosto, bagunçando todo meu penteado, fazendo meus cachos caírem sobre meus ombros. Foi como esse vento fosse um sopro de coragem de alguém, um sopro de Iansã me mostrando que aquilo não era para mim.

- Luanda, vamos? - Disse minha mãe entrando na sala da noiva. - Oh meu Deus, seu penteado! Está todo bagunçado! Precisamos arrumar isso rapidamente e agora!
- Calma mãe, eu não quero fazer outro penteado.
- E vai se casar assim? - Disse, espantada.
- Não vou me casar. - suspirei, saindo da sala da noiva e indo em direção a porta que dava para cerimônia.

Estava tudo tão lindo. Quando vi a decoração, vi a chácara decorada com flores brancas e rosas, o por do sol me abraçando pensei em desistir. Fechei os olhos e senti algo queimando em meu corpo. Era minha mãe me segurando pelos braços.

- Luanda você não vai desistir desse casamento, não agora. Vamos comigo para o altar AGORA, seu pai já está te esperando. Não me faça passar vergonha.

Assim que cheguei no altar, vi Mali com uma expressão de carinho e ao mesmo tempo tristeza. Só ela sabia o que estava acontecendo, minha mãe apenas ignorava pelo bem dos negócio. Zango era muito rico, e nosso casamento iria fazer bem para a empresa da família.

Meu pai, bom. Meu pai nunca foi próximo e sempre se importou mais com dinheiro.

Entrei. Passos curtos e tristes, ao mesmo tempo que por fora esbanjava sorrisos, por dentro, estava correndo.

Caminhei. Fui entregue. Tudo corria bem. O padre conduzindo a cerimônia, todos chorando de emoção e alegria. Mas esse não era o meu destino.

- Luanda Alika Azalee, você aceita se casar com Zango Siham Zunduri?

O gelo tomou conta do meu corpo, paralisei por segundos que mais pareciam minutos, horas. Olhei para a saída da capela da chácara, e por um impulso, corri o mais rápido que pude.

Ouvia várias vozes da capela, todas ao mesmo tempo, uns de indignação, outros de pavor, mas a voz de Mali ecoou nos meus ouvidos e me deu um gás.

"Vá ser feliz Luanda!!! Corre"

E eu fugi daquilo que seria minha prisão, o meu fim, minha morte certeira. Fugi do meu casamento, do meu relacionamento abusivo.

Nunca mais vi meus pais, nem minha melhor amiga. Peguei o dinheiro que eu tinha e fugi para longe da África, fugi para o Rio de Janeiro. Vou viver a vida que sempre quis! A vida de liberdade.

Iansã : Deusa do vento.

Relacionamentos abusivos acontecem todos os dias, em todos os lugares. Relacionamentos abusivos matam. Se você está passando por isso, converse com alguém. Você não está sozinha(o)!

 Você não está sozinha(o)!

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