Capítulo 8

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Tive que acordar mais cedo hoje para uma reunião que a diretora Sonia havia marcado com todos os professores, ainda não era 6:20 da manha quando eu estava na cantina da escola buscando desesperadamente por uma xícara de café.

A reunião foi tão tediosa quanto uma aula de matemática sobre frações exponenciais, se bem que tenho quase certeza de que a professora Mariana de matemática disse alguma coisa sobre isso.

E eu tinha quase certeza por que toda minha atenção estava voltada para o meu Tinder, que havia entrado em uma fase de boa sorte com uns caras muito gatos e uns mats fantásticos. Ganhei ate um super like de um tal de Ricardo, que por sinal é uma delicia.

Das poucas coisas de que prestei atenção da reunião, pude entender que se tratava de uma gincana de matemática que a escola fazia, uma competição entre as escolas da cidade, que rendia patrocínios e benefícios aos vencedores. Sonia estava muito empolgada com a participação de algumas escolas particulares esse ano.

Eu só queria saber o que é que aquilo tinha a ver comigo, e por que eu tive que acordar as cinco da manha para uma reunião que não tem exatamente nada haver com o que eu ensino.

- Esse ano estamos com um problema com os inscritos, é ano de vestibular e os alunos do terceiro ano estão usando isso como desculpa para não participar. A única que se inscreveu e tem chances reais de conseguir alguns pontos é a Zoé D'Avila. Mas sozinha ela não vai ganhar. Principalmente contra escolas particulares. – Mariana disse.

- E o Sergio Machado? Ele fez uma ótima parceria com a Zoé no ano passado.

- Eu já tentei convencer o Sergio a participar de todas as formas, mas ele não esta interessado. Disse que tem estado ocupado durante as tardes.

- Provavelmente em algum cursinho de pré-vestibular, muitos dos alunos do terceiro ano tem feito isso, é muito comum. – A professora de historia disse.

- Vocês não podem mesmo esperar que os alunos do terceiro ano dêem prioridade a uma competição de matemática a oportunidade de uma bolsa em faculdade. – A professora de português disse.

- Nos precisamos do patrocínio e da verba.

- Bem, os alunos do terceiro ano não vão aproveitar muito dos benefícios que a escola conseguir com uma vitoria, mas os do segundo e primeiro vão. Não é mais justo que eles lutem pra conseguir os benefícios. – Disse.

- A escola só terá chances reais de ganhar se o Sergio participar. Ele é o melhor na matéria entre todos os alunos da escola.

- Então o problema não é o terceiro ano, mas sim um aluno em particular? – Perguntei. – Se ele é tão bom assim na matéria, não deve precisar de estudos extras pra participar de alguns dias de competição.

- Mas como vamos garantir que ele esteja preparado? – Mariana parecia muito preocupada com a questão.

- Se o problema é preparo, vocês podem preparar qualquer outro aluno. – Disse.

Não estava com intenção de causar brigas com a professora de matemática, mas as palavras pulavam da minha boca sem que eu tivesse muito tempo pra evitar.

- A Savana esta certa Mariana, não podemos obrigar um aluno a participar de um programa que é voluntario. Se o Sergio não quer participar, você deve se dedicar mais aos interessados, e prepará-los.

Mariana olhou para mim como um leão olha para uma hiena, dei de ombros somente.

Assim que os portões se fecharam, Sonia iniciou seus avisos sobre as olimpíadas de matemática.

Pouquíssimos alunos estavam prestando alguma atenção, identifiquei algumas das minhas alunas espalhadas pelo pátio, Sergio estava no refeitório com os meninos jogando baralho.

Acho que você não vai conseguir mesmo obrigar ele Mariana.

Antonio chegou de repente, chamando a atenção de Sergio e apontando para o outro lado do refeitório. Onde Elisa estava sentada no colo de Henrique Andrade e beijava o pescoço dele. Henrique era uma das beldades da escola. Nos sempre comentávamos na sala de professores o quanto Henrique deslumbrante quando fosse mais velho.

Mas pelas fofocas da sala dos professores e pelo que eu podia ver, Elisa namorava com Sergio há algum tempo. E pela reação do Serio e do Antonio, eles não ficaram sabendo do termino do namoro.

Tive vontade de rir, era como assistir a uma novela mexicana adolescente, mas fiquei com uma pontada de pena de Sergio. Ele continuou jogando como se nada tivesse acontecido, mas pela tristeza em seus olhos, eu vi que ele estava magoado.

Não tinha marcado nenhuma aula de dança para hoje, comecei a intercalar o dias de ensaio das meninas com o dia de ensaio dos instrumentistas e cantores, assim tinha dois dias de descanso antes de voltar a coreografar novamente.

Me despedi dos meus alunos cantores, nessa turma haviam dois meninos, fiquei feliz pela interação masculina nas minhas aulas, as aulas de instrumentos tinham uma quantidade maior de homens, eles estavam perdendo a vergonha.

Um barulho vindo do meu armário de instrumentos pequenos me assustou, fui olhar o que era um familiar tufo de cabelos amarelos.

- O que esta procurando Sergio?

Ele se assustou comigo e levantou de uma vez, batendo a cabeça no armário derrubando alguns instrumentos no chão.

- Nossa Savana, eu achei que você já tinha ido embora.

- Então pretendia pegar alguma coisa sem que eu soubesse. – Afirmei.

Ele começou a pegar o que havia caído no chão, achei que era melhor não ajudar.

- Eu não queria pegar, eu só queria saber se tinha.

- Eu conheço o acervo de equipamentos musicais da escola melhor do que qualquer pessoa, podia ter me perguntado. Afinal, o que você quer saber se tem aqui?

- Aqueles pedais de guitarra.

- Não temos nem guitarra, quanto mais os pedais de uma.

- Eu pensei que se não tivesse na escola, talvez você tivesse na sua casa.

- Sim eu tenho, mas o que você fez com meu violão?

- Ele esta ótimo, mas as musicas que quero aprender exigem uma guitarra.

- Você progrediu muito se esta precisando de uma guitarra para tocar musicas, deixa eu pensar, você anda praticando a tarde toda e a noite toda, todos os dias da semana.

- É por ai, mas como você sabe?

- Na reunião de hoje mais cedo sobre as olimpíadas de matemática, a professora Mariana estava bem descontente com o fato de você não participar, por que você havia alegado que estava ocupado no período da tarde. E eu ouvi Elisa comentando com as meninas no ensaio sobre a insatisfação dela com a sua ausência.

- Espero que a Mari não tenha uma reação tão radical quanto a Lis.

- Ela só vai te substituir, assim como a Elisa fez.

- Ai, não precisava ser tão direta.

- Bem, não é como se você e a Elisa fossem o amor da vida um do outro não é. Imagino que a fama de corno não seja boa mesmo. Mas você não esta sofrendo tanto assim.

- Eu e a Lis não iríamos durar muito mais do que isso mesmo.

- Vocês são muito novos ainda, deveriam mesmo conhecer novas pessoas.

- Você fala como uma quarentona divorciada. – Sergio sorria.

- É verdade, mas eu não tenho mais experiência que você em relacionamentos. Eu vejo a liberdade como algo valioso demais para abrir mão por qualquer pessoa.

- Vou começar a pensar assim de agora em diante. – Ele disse. – Desculpa por mexer nas suas coisas.

- Olha, minha guitarra mais barata custou 6 mil reais, então eu não vou deixar você levar para a sua casa. Mas você pode carregá-la para mim ate a escola e de volta a minha casa todos os dias em troca de poder tocar nela. Se quiser claro.

- Eu aceito.

Minha Doce ProfessoraWhere stories live. Discover now