every angle

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Tudo cheirava a cigarro, sabão e madeira; jamais antes aromas tão distintos entraram em tal sintonia. As luzes coloridas eram unicamente o que me permitia enxergar dentro daquele quarto pequeno e macabro, flashes verdes e azul neon mesclados à fumaça e ao ar seco do ar-condicionado. De nada adiantava, minha visão estava turva.

Não fazia ideia de como havia chegado ali, em que ponto eu me acomodei na cama grande de colchão mole, ou como tinha me despido tão rápido, ou quando a necessidade de ser tomada pairou sobre meu corpo.

Uma música começou a tocar e eu demorei a reconhecer pelo índice alto de inibição temporária de meus sentidos. Hurt me Harder, da Zolita.

Ergui-me sobre meus joelhos e rodei os olhos pelo cômodo. Não pude encontrar janelas, mas uma porta de varanda estava erguida a metros de mim, aparentando estar trancada. Havia uma poltrona escura e uma escrivaninha pequena. Ninguém morava ali, disso eu tinha certeza.

Foi apenas quando a porta do banheiro se abriu que eu a vi. Pálida. Bagunçada. Majestosa.

Seulgi sempre foi a figura mais próxima de uma divindade que eu já pude encontrar.

Sua pele estava azul de tão branca que era e, assim como eu, não desviou o olhar, sincero com seu desejo; era costumeiro que seus olhos dissessem muito, cumprindo bem o papel de janelas da alma. Senti todo o meu interior queimar ao tê-los vasculhando meu corpo, secando a única peça de pano que ainda me restava e terminando por cerrá-los como os de um gato. Peguei a Kang mordendo o maldito lábio. Porra. Não havia uma só singularidade naquela mulher que não me levasse à loucura.

Ela riu de escárnio, assumindo a onisciente que era para com o efeito que causava sobre mim. Seus pés passaram a se movimentar, um na frente do outro, calmos por saberem que eu não me moveria um centímetro. Seu tronco os acompanhava, o balanço dos ombros faziam os curtos cabelos escuros balançarem, como se já não estivessem bagunçados o suficiente, erguidos sem ordem sobre sua cabeça.

Quis gozar apenas por olhá-la.

Seulgi deixou a blusa social branca cair no chão propositalmente, estava exposta. Tão nua. Tão transparente. Tão momentaneamente minha.

Fui atraída por suas pernas. Céus, que pernas. Não sabia mais como lidar com as sensações que Seulgi me fazia sentir. Algo em mim, indefinível a identificação até notar minha calcinha completamente molhada, vibrou de dentro para fora. Gemi vergonhosamente.

E ela sequer tinha me tocado.

Seulgi sorriu e se aproximou. Nossos corpos por pouco não se tocavam; ela nos queria assim. Ela me queria assim. Sedenta, implorando. Mas eu não imploraria.

— Você fica bonita assim — ela disse, e agarrou minha minha cintura, colando-me a ela de tal modo que mal respirei. — Tão minha. Tão minha, Irene.

Seulgi brincava com meu desespero. Aproximava sua boca da minha, apertava minha cintura e me fazia gemer, para então afastar o rosto sem sequer um roçar digno de lábios. Ela lambeu meu pescoço, sua língua quente acariciando a pele descoberta, fazendo-me fechar os olhos para apreciar o toque, tentando não ceder, falhando miseravelmente.

A Kang me virou com força e rapidez, e devo dizer que seu rosto visto tão de perto, tão mais real, era ainda mais perfeito. Os olhos castanhos, a feição infantil, a boca de boneca, controlada para não me atacar. Sua beleza me excitava. Ela me pôs sentada em seu quadril com certa pressa e houve também uma breve troca de olhares. Nossos corpos se tocaram e eu a senti. Eu a senti. Quente como nunca antes, Seulgi me fizera gemer como uma desesperada mais uma vez.

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