Carta nº 1 - De um Chuuya rancoroso

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Yokohama, 1 de Dezembro de 2018.

Osamu Dazai,

Não faço ideia alguma do motivo de estar escrevendo isso, já que de qualquer forma você não vai ler... Talvez seja pura e simplesmente para mim mesmo, algo como um desabafo, mas as pessoas normalmente escrevem cartas que nunca enviarão apenas para tirar o peso da consciência?

Bem, o que realmente importa é o fato de que não se trata só de mim, é sobre você, Dazai. Para ser mais específico, sobre nós dois.

Osamu Dazai. Prodígio demoníaco e executivo mais jovem da Máfia do Porto. Ou ao menos esse costumava ser você. Ah Dazai, o que aconteceu conosco? Como chegamos a esse ponto, de não sermos capazes nem de nos reconhecermos mais? Por que você nos deixou chegar a isso?

Olhe para mim, já se passaram quatro meses desde que se foi, e ainda não me conformei com sua partida repentina. Fico pior a cada dia que passa, sobretudo quando pareço melhorar visivelmente, tudo é ilusão. Às vezes tenho pequenos lapsos de consciência onde me vejo melhor sem você, e confesso que aceitaria de bom grado ser assim, se tudo aquilo que tivemos - se é que realmente tivemos alguma coisa, no fim das contas - não deixasse tantas marcas e memórias de nossos momentos.

Por um instante você foi meu, Dazai, e juro que foi o instante mais feliz da minha vida. Encontrei tudo o que mais necessitava na vida, um ombro amigo, um companheiro e acima de tudo um amor. Sim, eu acreditei na falsa ideia de ser correspondido, de ser amado e desejado por alguém; não faz ideia de como eu te amava, Osamu. Eu daria minha vida sem pestanejar, mataria e morreria única e exclusivamente por você, aquele a quem amei acima de tudo e todos. Queria te odiar, sabe? Acho que meu maior desejo seria esquecer sua existência, mas argh, me dói a alma saber que ainda te amo... Não como antes... É, ainda te amo, seu idiota.

Por me fazer acreditar que seríamos algo além de ótimos amigos; por me encher de esperanças e promessas vazias para me manter junto a você; por me fazer quebrar as regras de tempo e espaço a fim de não te deixar sozinho por aí; por tudo isso e mais uma infinidade de outras coisas, eu te odeio. Não me arrependo de ter apostado todas as minhas fichas em você, ou de ter me desdobrado de todas as formas possíveis (e impossíveis) só por um sorriso seu, mas me entristece ver que só fui útil a você até o ponto em que julgou conveniente. Isso sim me faz querer voltar ao passado e apagar minha estupidez, prevenindo-me de ser futuramente descartado.

Por que abandonou a Máfia? Por que me abandonou, Osamu Dazai? O que fiz a você para sumir assim, sem ao menos me dar um último adeus? Eu sinto a sua falta, seu idiota, sinto muito. E o que isso importa, já que para você eu não significo mais nada? Dazai, eu nem te conheço depois de tudo o que passou, por incontáveis vezes nos cruzamos sem olhar um nos olhos do outro. Nunca mais me deu um único sinal de vida, ou uma explicação de seu desaparecimento, ainda que esteja vivo e aparentemente muito melhor sem minha companhia.

Sim, Dazai, eu te odeio com todas as minhas forças, odeio todas as coisas que passei a gostar por sua causa, odeio cada música que dediquei a você nesse devaneio louco de achar que me amava. Não, não é possível você ter me amado apenas para sumir da minha vida tão de repente e mergulhar nesse fingimento de que eu não existo... Acreditei, Osamu, eu acreditei que você me amava! Me afundei mais e mais em sentimentos por você, em gastar tempo planejando nossa casa e nossas coisas, em escrever nosso futuro! Você simplesmente jogou no lixo cada mísero pedaço de felicidade que um dia eu sonhei em te dar! Por tudo isso, desgraçado, eu o odeio.

Te odeio tanto, a ponto de não conseguir mais encontrar palavras para descrever a confusão que se passa dentro de mim, e é culpa sua. Você alimentou as emoções que me trouxeram a esse ponto deprimente, ao quebrar todas as esperanças de sermos um, eu e você. Chuuya e Dazai. Dazai e Chuuya. Acabou, Osamu Dazai. Aqui coloco a pontuação final dessa derradeira e trágica história, que poderia muito bem ter sido digna de um autor como Shakespeare, Vivaldi ou Picasso.

Nós poderíamos ter sido arte.

Daquele que um dia amou você,

Nakahara Chuuya

I Still Miss YouOnde histórias criam vida. Descubra agora