Eu só queria um cigarro Jeon.
Agora são três e quarenta da madrugada de uma sexta-feira qualquer do mês e eu só queria um cigarro.
Então ascendo um, daqueles mentolados que não são os melhores, mas que me lembram das suas balas de mentas e do gosto que seus lábios tinham, logo não me importo com a qualidade deles desde que ele me traga você.
Cigarros, balas de mentas e o cheiro do oceano - forte e meio palpável, tanto que quase posso senti-lo sobre mim, mesmo quando você permanece apenas na minha memória.
Na verdade, tecnicamente hoje já é sábado, essa foi minha primeira semana de estágio no observatório da UCLA teoricamente estava realizando todos os meus objetivos pré-estabelecidos desde que ingressei na universidade a três anos, mas mesmo que tenha a maior média em astrofísica do meu ano e uma cadeira no programa de verão da NASA...
Eu ainda só quero um cigarro.
Para apagar teu toque da minha epiderme porque ele e seu moletom grande do The Doors foram as únicas coisas que sobraram de você e elas continuam a assombrar-me provando que sim, um dia você já foi meu.
Acho engraçado como nosso cérebro funciona nos levando a reviver memorias amarelas como quando te vi pela primeira vez -era um dia frio de outono, estava feliz em poder usar meus suéteres de lã da vovó mesmo que fosse a primeira semana de aula e como todo calouro de respeito estivesse totalmente perdida dentro daquele imenso campus. Tinha Física I em quinze minutos e cada passo que dava parecia tornar os lugares mais distantes então como todo clichê, em meio a toda minha confusão de mapas e livros eu vi você.
Você estava do outro lado da rua apenas existindo de maneira tão singular e emanando essa sua áurea hipnotizante me fazendo te achar o mais bonito fenômeno da natureza enquanto andava tranquilamente acompanhado de alguns amigos tão mal-encarados quanto você.
Com suas tradicionais calças jeans, camiseta branca, all-star e aquela jaqueta de couro -que você nunca tira- e não Jeon, você não se lembra disso porque decepcionando os clichês, você não me viu naquele dia, mas eu sabia assim que pus meus olhos sobre você que devia me manter afastada.
Não estava nos meus planos me entregar a você Jeon, nem perto disso! Todo mundo sabia que os irmãos Jeon eram sinal de perigo e que se você fosse uma garota romântica que sonhava com o príncipe encantado, como eu era, você devia fazer o caminho contrário ao de qualquer um de vocês dois.
Mas a sirene escandalosa que grita perigo que anda ligada em cima das suas cabeças não impediu que Laurie, minha melhor amiga nenhum pouco adepta a religiões e a príncipes encantados, se apaixonasse por seu irmão mais velho, Seokjin, e começasse a me arrastar por cada festa que esse campus universitário dava enquanto estava colada ao pescoço dele.
Mesmo que em menos de meia hora ela acabasse nem se lembrando mais que estava ali do seu lado, ela continuava a me arrastar para todas essas festas dizendo que não queria ficar sozinha, mas todos sabem que Laurie, a bonita Laurie dos olhos azuis e um ótimo senso de humor, ela jamais ficaria sem companhia.
E ali estava eu em mais uma festa no meio da semana, em plena semana de prova, sentada do lado de fora de uma casa de fraternidade ao lado de Seokjin e uma Laurie já meio embriagada sentada em seu colo no maior amasso da vida deles e tudo que podia fazer era observar Marte, que brilhava refletindo sua superfície avermelhada mesmo a quilômetros de nós, se misturando as outras estrelas nessa noite quente para me fazer companhia, obrigada Marte.
Suspiro pelo que parece ser a quinquagésima vez ao perceber que meu copo está vazio o que me obriga a levantar e avisar a Laurie que iria enche-lo mesmo sabendo que provavelmente eles nem haviam me ouvido. Não me surpreendo em vê-lo sentado de frente para Seokjin e Laurie conversando calmamente com eles quando volto, sabia que cedo ou tarde acabaríamos nos esbarrando se eu continuasse a ter tanto contato com Seokjin como estava tendo.
Não que ele fosse chato, Seokjin era um cara legal, um pouco estourado às vezes, mas ele nunca havia feito nada de perigoso na minha presença e de Laurie, mesmo que já o tenha visto quebrar a cara de um veterano no mês passado, e sempre o veja discutir com alguém pelo campus, toda sua violência nunca foi direcionada a mim, então seguia não tendo nada contra ele.
Acabo o encarando mais do que queria enquanto os escuto conversar, é claro que você estava vestindo calças jeans e uma camiseta branca por baixo da jaqueta de couro, por mais que estivesse quente em junho, junto de um par de all-star preto que já havia notado nunca deixar seus pés e me peguei querendo descobrir mais sobre o que pensava quando mantemos contato visual por um tempo longo demais quando você me pegou te olhando.
Você sorriu para mim Jeon, e eu sei que não devia ter feito isso porque acabei descobrindo que seu sorriso contrastava toda sua pose de menino mal e embora isso não significasse que gostaria de ficar perto de você porque sabia do seu histórico de ex amores e sabia que você não era para mim mesmo quando seus bonitos olhos grandes e redondos me encaravam de modo que parecia que eu era o foco do mundo agora e toda sua atenção me pertencia, leis de Newton nunca falham, e ela diz que dois corpos quaisquer no universo se atraem com uma força diretamente proporcional.
-Você não é para mim loirinha. -Foi o que disse depois de me deixar no meu dormitório tarde da noite com sua moto perigosa demais, aquela que pensei que nunca subiria.
Você tinha razão Jeon, eu não era para você.
Porem saber disso não me impediu de ir dormir pensando em como seu corpo pareceu se encaixar perfeitamente ao meu enquanto mantinha minhas mãos em sua cintura me agarrando a você mais forte do que era recomendado, e também não impediu que meu vestido de verão favorito, branco com bolinhas azuis, agora estivesse inundado pelo seu cheiro de cigarros e oceano.
Assim como minha epiderme foi abraçada pela sua jaqueta grande e transferiu você para mim como uma droga que me viciava inconscientemente e meus pensamentos me levassem a você por todo o resto da semana, mesmo enquanto estava ocupada com a conversa que jogava fora com alguém que não era você, ou mais tarde quando me peguei sendo jogada sobre seu colchão macio e tudo que conseguia pensar era em como queria que aquelas fossem as suas mãos sobre meu corpo e não as dele.
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Camiseta branca
Short Story"-Você não é para mim loirinha. -Foi o que disse depois de me deixar no meu dormitório tarde da noite com sua moto perigosa demais, aquela que pensei que nunca subiria. Você tinha razão Jeon, eu não era para você." - Shortfic -