Um jantar informal. Era isto que dizia o convite - um tanto quanto formal - recebido por Jair Bolsonaro na manhã do dia 22 de novembro, além dos dizeres supostamente informais, o convite também mencionava que a futura primeira-dama deveria comparecer.
Michelle. Mulher bela, recatada, e do lar, referenciando a famosa frase dita pela agora quase ex-primeira dama.
Michelle odiava os holofotes, evitava entrevistas, fotos e evitava acima de tudo isto, ser vista. Mas a cada dia se tornava mais difícil recorrer ao simples ato cotidiano de sair de casa sem ter que ouvir elogios ou ofensas de pessoas aleatórias na rua, na maioria das vezes, ou, se fosse sincera consigo mesma, a maioria massante e absoluta das vezes, nem os elogios, tampouco as ofensas, eram para ela, tudo dizia a respeito de seu marido, o então presidente Jair Messias Bolsonaro, com quem Michelle se casara há alguns anos.
Estava exausta, ouvir as pessoas apoiarem e elogiarem seu marido era gratificante no início, e há alguns meses a cada vez que ela era parada nas ruas para ouvir uma frase do tipo: "Ele é o melhor para esse país." Seu coração se aquecia de pura alegria e orgulho daquele com quem se casara.
Mas o tempo havia passado, ela ouvira muitas e muitas bobagens, fora parada na rua inúmeras vezes, fora ofendida, também, mais vezes do que podia se lembrar, e, infelizmente, estava cansada.
Talvez fosse ingratidão de sua parte, mas realmente não aguentava mais ser um receptáculo estúpido para as bobagens que os outros gostariam de dizer a seu marido, e estava há poucos elogios (ou ofensas, tudo era muito variado nas ruas) de disparar algo do tipo: "DIGA ISTO PARA ELE, SEU MERDA!". A frase não combinava em nada com seu jeitinho quieto e educado, mas nem mesmo Michelle acreditava mais na existência daquele seu lado, achava que algo havia se quebrado dentro dela naquela campanha, algo essencial.
Ela sentia-se quebrada, como se houvesse alguma peça balançando solta dentro de sua cabeça, onde estaria a antiga Michelle? A sã e sensata Michelle? Sentia-se um trapo 24 horas por dia, sete dias por semana. E o sentimento se agravava quando seu marido estava por perto.
Sair daquele avião sentindo a brisa gelada e admirando o céu cinzento e chuvoso de Brasília por alguma razão fez cada pelinho de Michelle se arrepiar, poderia ser o frio, é claro, ela acabara de sair do conforto de um avião para o clima frio que antecipava um temporal, mas havia no ar uma vibração, um algo a mais que somente Michelle sentiu, o universo havia acabado de lhe parar, no meio da escada do avião, para lhe dar um recado, o arrepio percorreu seu corpo, e ela sorriu, involuntariamente, como se tivesse entendido exatamente o que havia acabado de acontecer.
Não havia.
Alguém resmungou às suas costas, e Michelle voltou a si, alarmada, continuou caminhando, reparando que o marido seguira pela escada sem sequer reparar que a mulher havia ficado para trás.
Michelle conseguiu alcança-lo após apertar o passo, e eles seguiram juntos e em silêncio para a saída do aeroporto, onde um carro do governo os esperava.
Algo havia acontecido na saída do avião, Michelle sentia isso, algo diferente pairara sobre ela a partir do momento em que pisara naquela cidade, como se algo fosse mudar em sua vida a partir dali.
- O convite não dizia "informal"? - Michelle questionou, já no fim da tarde, enquanto observava o marido andar engravatado para lá e para cá no quarto do hotel, ensaiando as falas para o jantar.
- E você acreditou? - Bolsonaro virou-se para a esposa, apertando a gravata compulsivamente.
Michelle pensou que ele deveria se acalmar, mas não disse nada, ao invés de confortar o marido, virou-se para o lado, apanhou um livro aleatório na cabeceira e começou a lê-lo. Após algum tempo, os ruídos dos passos do marido cessaram, e ela sentiu Bolsonaro deitar-se ao seu lado, abraçando-a.
- Eu te amo... - ele disse, aproximando-se o máximo que podia, grudando seu corpo no dela.
- Eu também.
A cada dia se tornava mais difícil dizer aquilo.
NO JANTAR
- É um prazer... - lá vinha ele, Michel Temer, a mão estendida para apertar a de Jair, um sorriso maldoso no rosto, não por intenção, seu sorriso simplesmente exalava uma maldade natural.
A bela e loiríssima esposa vinha ao lado, caminhava como uma modelo, e de fato era bela como uma.
Os homens se comprimentaram num exagerado aperto de mão enquanto as esposas trocaram beijinhos no rosto. Michelle sentiu um calor envolver-lhe o estômago ao sentir a pele quente de Marcela sob seus lábios, e separou-se da loira o mais rápido possível, temendo mais reações corporais inesperadas.
Não conseguia pensar em nada para dizer, e aquele calor em seu estômago persistia, encarar a loira enquanto os maridos terminavam o longo comprimento com perguntas educadas revelou-se uma tortura, Michelle não sabia se o sentimento de intimidação se devia ao fato de estar frente a frente com a mulher que brevemente substituiria no papel social de primeira-dama ou pelo simples fato de Marcela ser dona de uma beleza estonteante.
Talvez fossem os dois.
Algo muito estranho estava acontecendo com ela.
Michelle lembrou-se, repentinamente, enquanto seguia de mãos dadas com Bolsonaro para a sala de jantar do Palácio da Alvorada, de seu estranho transe na saída do avião, aquele sentimento de que algo iria mudar, naquela cidade, naquele jantar, talvez.
Marcela ia logo a frente, e Michelle, não por intenção, acabou fitando seu corpo enquanto ela caminhava, mas ao se dar conta do que estivera fazendo, desviou os olhos rapidamente, constrangida. Seus olhos a traíam, sua respiração a traía, seu corpo a traía, e até mesmo Bolsonaro, ao seu lado, a traía também, fitando sem disfarce o corpo definido da loira que caminhava a sua frente.
Michelle poderia ficar com raiva. Mas apenas suspirou.
O que será que eles jantariam?
AUTORA: Tenho fic pra atualizar mas to criando novas rsssss desgurpa gent
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Bela, Recatada, e do lar
RandomMichelle e Jair Bolsonaro são convidados a um jantar no Palácio da Alvorada com o presidente e a primeira dama, Michelle sente que algo vai mudar em sua vida no mesmo instante em que pisa em Brasília, e as mudanças se iniciam no tortuoso jantar daqu...