Capítulo 01.

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Abri a porta do carro e praticamente joguei-me para dentro sem me atentar se havia fechado-a ou não.

--- Corre! --- exclamei. Para logo ouvir os gritos atrás de mim.

--- ei, espera. Você não é nenhuma crimonosa ou algo assim? Porque se for, eu cancelo a corrida agora mesmo. Não quero problemas.

--- corre! - gritei ao ver Belinda sacar a arma e mirar em nossa direção.

O motorista soltou um palavrão antes de pisar fundo no acelerador e nos tirar dali.

Belinda atirou por diversas vezes e nenhuma sequer arranhou a HB20 preto e peliculado. O que me fez concluir que talvez ela devesse passar mais horas treinando sua pontaria... Ao invés  de transar feito louca com o marido da irmã.

--- conseguimos despistá-los por um tempo. --- respirei aliviada. --- mas não significa que você deve parar! - o adverti.

--- o quê? Não! Essa corrida acabou aqui. Eu vou deixá-la no ponto de ônibus e você segue sozinha. Aliás, o que foi isso? Estou certo, né? Uma criminosa no meu carro!  Que azar o meu, justo hoje? --- tive a impressão que a última frase não era para mim.

--- se eu fosse uma criminosa você não estaria falando tantas besteiras. --- passei a mão o sobre o cabelo e praguejei Anahí por tê-lo puxado com tanta força.

Em que momento minha melhor amiga havia declarado guerra?

--- se não é uma criminosa, é uma fugitiva e isso ficou bem claro no terceiro disparo.  --- falou sem tirar os olhos do volante e eu bufei ao lembrar.

7 MESES ATRÁS:


--- filhos são tudo o que eu mais sonhei, Dulce. --- Anahí chorava sem parar e eu tentava lhe confortar, mas sem saber ao certo como.

O que dizer a uma mulher que acaba de se descobrir estéril?

--- eu sei, é algo que jamais podíamos imaginar.

--- como eu vou contar a ele? Alfonso vai me odiar. Eu acabei com a vida dele! Sou uma mulher seca! Vou terminar sozinha, ele vai me deixar e eu vou morrer, Dulce!

--- não, não vai. Eu estou aqui e vou estar com você sempre. Não é a mesma coisa, eu sei. Mas serei seu apoio. Poxa, Annie, isso não é o fim do mundo. Só abre seus olhos para outras opções.

--- o que quer dizer?

--- primeiro, você não pode tirar conclusões sem conversar com Alfonso. Ele te ama, não é o fim. Ele casou com você e com a oportunidade de viver ao seu lado, te amando e te respeitando. Não vai ser agora que esse juramento vai ser quebrado. Segundo, é muito cedo, eu sei. Mas amiga, essa é a oportunidade de planejar e realizar outro sonho. Lembra quando sonhava em viajar mundo a fora ajudando crianças necessitadas?

Anahí assentiu.

--- essa é a sua deixa. E não precisa ir muito longe. Há crianças aqui mesmo que precisam de um lar, uma família e amor. Que precisam de ajuda. E se for um sinal, Deus e o universo te dizendo que você pode fazer muito mais do que imagina.

--- eu não sei. Não quero pensar nisso agora. Preciso de tempo e de coragem. Não sei como encarar meu marido, adoraria ter minha irmã aqui e sentir que minha família me apoia.

--- acredite, você não vai querer saber.

Afundei no banco sem saber o que esperar ou para onde ir. Meu destino inicial era a capela de Christian, --- meu melhor amigo e agora padre. --- Pensei por um instante e não poderia o colocar em risco. Anahí logo de cara me procuraria ali.

--- pronto. --- encostou o carro e destravou as portas. --- essa é a parada mais movimentada do entorno e tem uma delegacia a poucas quadras. Vai ficar segura.

Suspirei pronta para sair.

--- um conselho, --- endireitei a postura e curvei a cabeça próximo a seu ouvido. --- livre-se dessa placa ou você já era.

Sob o olhar recriminante de algumas pessoas que escondiam-se a todo custo atrás da única sombra do ponto de ônibus, me dirigi até o fundo da estrutura e não vi em que momento o homem havia se mandado.

Não o culpava. Estava amedrontado. Afinal, quem protegeria uma mulher marcada para morrer? Seria pedir para fazer parte do crime. - sendo vítima ou o assassino.

Após perceber o olhar fixo de duas mulheres em meu colar o segurei com força e pedi para que a dona do presente continuasse a me proteger como em suas promessas. Com discrição pouco a pouco me afastava, porém quando dava por mim, elas estavam mais próximas. Isso me assustou como nunca. Apertei novamente o pingente sabendo que enfrentaria o que fosse para mantê-lo comigo.

Para meu azar o lugar foi esvaziando conforme as linhas de ônibus chegavam. Torci para que as duas mulheres pegassem o ônibus que acabava de chegar e acho que ambas perceberam minha decepção ao vê-lo partir sem as respectivas passageiras, pois sem pudor e com um sorriso malicioso vieram em minha direção.

Pensei em como faria, se teria tempo para correr, se ganharia uma possível luta corporal ou se minha voz e meu salto 9 cm aguentaria chegar até a delegacia de algumas quadras.

Fechei os olhos tentando tomar uma decisão e esbravejei quando fui puxada sem aviso para dentro do veículo.

María Tem Que Morrer! - VONDY. Onde histórias criam vida. Descubra agora