Capítulo 02.

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--- AAAAAAAH! --- Gritei aterrorizada e mordi a mão que me segurava, pronta para correr.

--- porra! Está maluca? Eu vim ajudar! --- balançou o local dolorido fazendo uma careta. --- não é de se admirar que queiram acabar com você.

Os batimentos acelerados do meu coração ainda martelavam na minha cabeça.

--- eu estava me defendendo!

--- e por acaso, você foi treinada por um pinscher? --- perguntou sarcástico.

--- o que faz aqui? --- perguntei irritada com a confusão. --- Eu já paguei o que devia e o carro não teve um arranhão!

Na verdade, eu não tive tempo para analisar o veículo, mas não podia perder tempo brigando por conta de um motivo medíocre.

--- você não sabe ser salva, né?

--- sei me virar sozinha. Não preciso de um herói, muito menos um mole igual a você. Por favor, foi só uma mordidazinha. --- gesticulei e puxei a trava da porta. --- quer abrir? --- continuei a forçar, mas sem sucesso.

--- eu não posso. --- falou pausadamente. --- Porque a partir do momento que você confirmou essa corrida também me meteu nesta confusão!

--- claro que não! Você não sabe de nada, não viu nada. Vai pro seu ponto e segue com sua vidinha normal. Porque eu, preciso sumir!

--- acha que terminar o dia como fugitivo foi o que eu planejei? Menos de 24 horas nessa profissão e já odeio! - quase gritou.

--- não seja chorão e abre essa porta de uma vez. --- ordenei impaciente.

--- você que sabe. - destravou-as. --- ah, pra você saber. --- apontou por cima do ombro para o lado esquerdo.

Lá estava as duas mulheres que me perseguiam.

--- divirta-se, elas devem estar ansiosas para vender esse treco num beco qualquer. --- olhando diretamente para o meu cordão.

Coloquei a mão sobre ele e voltei a olhar na direção que o motorista indicava.

--- mamãe, para de falar essas coisas, você vai ficar bem? Nós vamos superar isso. Eu vou te ajudar, vamos sair dessa casa e ir para bem longe, onde eu possa dar o conforto que você merece. Sem gritos ou humilhações. --- segurei sua mão e beijei.

--- não, querida, não vamos. Esse é o fim, pelos menos para mim. --- deu um sorriso fraco e foi tomada pela tosse incessante outra vez.

--- não pode me deixar. É injusto! Eu... eu só tenho você.

--- você vai superar, Dulce. É uma menina muito forte e não tem medo de nada.

--- sem você eu não sou. Não passo da desaforada filha da empregada.

Minha mãe negou.

--- se você soubesse...

Marichelo deu um passo a frente e passou a mão pelo rosto de minha mãe, demonstrando que não sairia do seu lado.

Desde que eu me entendia por gente ela sempre estivera ali, nas boas e nas más, minha madrinha sempre assumiu o papel de segunda mãe, era até mais barra pesada do que a doce dona Blanca. --- também, pudera... minha mãe já tinha inumeras dificudades de criar uma filha sozinha, tia Marichelo tinha duas: Belinda e Anahí.

--- Dulce, preciso que me escute com atenção... --- deu uma pausa para tentar recuperar o fôlego. --- você precisa ir morar com a sua madrinha. Não pode voltar aquela casa.

Franzi o cenho sem entender. Tudo bem que Natalia deixava bem clara sua antipatia por nós duas, mas Fernando... ele era gentil, paciente.

--- mas mamãe, meus estudos... --- fui interrompida.

--- me prometa! ---  insistiu e eu assenti mesmo contrariada. Pude ver sua expressão suavizar e ela estendeu a mão até mim abrindo-a. --- guarde bem consigo. Esse pingente foi da sua avó, meu e agora é seu. Proteja-o e por nada o perca, pois um dia ele vai salvar você...

--- Blanca, por favor, você precisa descansar. --- minha madrinha pediu a ver dificuldade dela em se comunicar.

--- eu vou, Marichelo. Mas antes preciso... falar com minha filha.

--- podemos conversar outra hora, eu prometo. --- falei com a garganta embargada, eu sabia que aquele era o fim. Só não queria aceitar.

--- cuide-se, querida. Defenda seus princípios e lembre-se que você jamais estará sozinha... você é muito amad... --- o monitor cardíaco começou a apitar e eu olhei desperada para minha madrinha.

--- mamãe, não! Por favor, não! Faça alguma coisa, madrinha!

Marichelo permaneceu imóvel com a mão na boca e o rosto molhado pelas lágrimas.

Abracei minha mãe na esperança que ela voltasse para mim.

--- qual o seu plano? Porque eu vou logo avisando, todos que eu conheço ou estão mortos ou, me querem morta.

--- tem um lugar. É simples, mas serve até pensarmos em uma saída.

--- que seja. --- dei de ombros. Eu já não me importava se continuasse viva ou morta. --- Só me diga que tem comida. ---  meu estômago roncou querendo apresentar-se. --- essa confusão tinha que começar bem na hora do almoço?

Ele riu baixando a cabeça e abriu o porta luvas e entregou-me uma barra de Hershey's.

--- esse era o meu, mas acho que todo criminoso tem direito a uma última refeição. --- me encarou com uma expressão desavergonhada. --- pode ficar.

Tomei e rasguei a embalagem com o dente para logo dar a primeira mordida e suspirar. --- Nunca um chocolate pareceu tão apetitoso.

--- você não tem cerimônia, né. --- riu negando.

--- esperava que eu rezasse o pai nosso ou o quê? --- falei ao sentir o doce derreter em minha boca. --- A propósito, não sou uma criminosa. Mas não tenho que dar explicações a um estranho.

--- sou Christopher e não costumo ser cúmplice de não criminosas. --- olhei para sua mão a espera de um aperto e dei um meio sorriso, o mais falso de todos. --- essa é a hora que você diz seu nome. --- falou como se desse instruções a uma criança.

--- María. --- falei com a boca cheia.

María Tem Que Morrer! - VONDY. Onde histórias criam vida. Descubra agora