Parte Um

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Londres estava fria e cinzenta, como sempre esteve. A chuva caia fina ao meu redor, pingos molhando minhas meias e me causando calafrios. O ar gelado doía a cada vez que eu respirava, parecendo me rasgar por dentro. Me senti aliviada ao entrar no saguão do prédio e ser envolvida pelo ar quente.

Passei de cabeça baixa, seguindo até o elevador.

Meu celular vibrava no bolso, mas eu ignorei sabendo que seria meu pai.

Meu apartamento estava quente, o chão de carpete macio contra meus pés assim que tirei os sapatos e as meias molhadas. Joguei minha bolsa no sofá, junto com o casaco. Passei pelas janelas da sala, fechando as cortinas. Houve uma época em que eu amava a vista daquelas janelas, mas não mais...

Segui até meu quarto, encarando o cômodo, como se esperasse algo dele.

Soltei um suspiro, indo até o criado mudo e virando para baixo o porta retrato com a foto de Zabdiel. Coloquei meu celular ao seu lado, meu coração se apertando ao ver a foto dele ainda como tela de bloqueio.

Ele parecia estar em todo lugar.

Segui para o banheiro, trancando a porta e encarando as paredes brancas. Me assustei com minha imagem refletida no espelho. O cabelo estava preto e curto, poucos dedos acima do ombro. Eu não sabia dizer quanto tinha emagrecido em uma semana, mas não era pouco. E eu já era magra antes... O roxo da queda de ontem em meu braço e minha perna faziam um enorme contraste contra minha pele pálida.

Eu estava simplesmente acabada por fora. Por dentro era mil vezes pior.

Liguei o chuveiro, a água quente ardendo contra minha pele fria. Abaixei a cabeça, encarando a água correr no chão, esperando que junto a ela fosse toda a minha dor. Mas não ia.

Meus joelhos fraquejaram, e eu me ajoelhei, abraçando minhas pernas enquanto as lagrimas escorriam e eu sentia meu coração se apertando, cada vez mais apertado.

Era um sentimento sufocante. Coloquei as mãos nos ouvidos, os tampando, o coração apertado e a respiração pesada.

Eu queria tanto que aquela dor fosse embora.

Não sei quanto tempo fiquei ali, chorando de desespero. Quando me levantei estava zonza, e o banheiro todo estava cheio de vapor.

Desliguei o chuveiro, me enrolando em meu roupão e passando uma toalha pelo cabelo.

Sai do banheiro, pegando meu celular e vendo as chamadas perdidas de meu pai. Mandei uma mensagem pedindo que parasse de me ligar.

Encarei a foto de Zabdiel em meu papel de parede, batucando o dedo na tela.

Já fazia uma semana que eu tinha terminado com ele, e desde então nenhuma mensagem ou ligação veio de nenhuma parte.

Naquele momento, em um segundo de queda, eu apertei o botão de ligar. Meu coração pareceu saltar no peito.

Ele não atendeu, e a ligação caiu na caixa postal.

Fechei os olhos, me jogando contra a cama e abraçando o travesseiro.

Como sempre acontecia nos últimos dias, dormi após tanto chorar.


Dez dias após meu termino com Zabdiel eu já não aguentava mais. Ele não atendia minhas ligações, e nem respondia minhas mensagens. Quando vi, eu já estava de volta a Miami.

O primeiro lugar que fui foi o estúdio de gravação do CNCO. Os meninos ficaram bem surpresos em me verem. Quando perguntei por Zabdiel falaram que ele não aparecia há três dias, que foi quando suas férias começaram.

Passei dois dias ligando para ele, e quando vi que não adiantaria de nada, liguei para sua mãe. Ela disse que Zabdiel estava de ida a Porto Rico, mas que ainda não tinha chegado. Quando falei que iria até lá, ela não protestou, e disse que estava a minha espera.

Quando cheguei a Porto Rico não encontrei Zabdiel. Ele ainda não tinha chegado. Noemi disse que não sabia onde ele estava.

Liguei por mais três dias seguidos, e ele não atendeu. Ele não atendia nem mesmo sua mãe. Quando ela estava prestes a entrar em desespero, ele ligou para ela, avisando que passaria alguns dias fora.

Esses alguns dias se tornaram semanas.

Voltei para Miami, e após um mês sem noticias de Zabdiel, foi a minha hora de entrar em desespero. Tive um surto de choro no meio da rua, algo que eu nunca esperaria de mim, e se não fosse por Richard e Christopher, que me fizeram levantar do chão, eu teria ficado horas chorando ali mesmo.

A banda teria uma semana de entrevistas, e eu permaneci na cidade a espera que Zabdiel aparecesse, mas ele não apareceu.

Foi ai que vi o quão sério era a situação. Zabdiel simplesmente não apareceu em compromissos de sua carreira, e aparentemente não deu explicação para ninguém além de seus superiores. Os meninos apenas ficaram sabendo que ele iria se afastar por alguns dias.

Eu simplesmente não conseguia acreditar no que estava acontecendo.

Se não fosse uma ligação da Syco, perguntando se eu podia comparecer em uma reunião em Londres, eu teria permanecido em Miami.

Zabdiel uma hora ou outra teria que aparecer.

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