Parte Quatro

261 28 0
                                    

— Meu Deus, você esta horrível — falou Julia, me olhando fazer minha maquiagem. — O que aconteceu ontem à noite?

Não foi ontem à noite, foi há duas noites. Eu pensei em responder, mas achei melhor não. A ignorei e continuei o que estava fazendo.

Chorar até dormir acabava com minha pele. E com a minha cabeça. Meus olhos estavam inchados até pouco tempo atrás, e minhas olheiras tinham voltado. Minha cabeça, por sua vez, estava prestes a explodir.

Meu celular aparentemente permaneceu ligado na chamada a noite inteira, porque quando acordei eu ainda ouvia a suave respiração de Zabdiel, que logo se cortou com a bateria do meu celular descarregando.

Passei aquele dia todo em casa, sem reação e sem saber o que fazer realmente.

Mas fiz o que sabia fazer melhor: comi e dormi.

No outro dia as meninas vieram até meu apartamento logo de manhã. Arrastaram-me, literalmente, para fora da cama. Elas me jogam embaixo do chuveiro gelado com roupa e tudo.

Elas estavam decididas que era hora de seguir em frente. O argumento era que eu tinha deixado Zabdiel, e não precisava sofrer, já que ele aparentemente não sofria.

Eu quase as soquei.

Outro ponto foi a questão de eu e ele só estarmos juntos por dois anos, e depois de semanas, eu já deveria estar aceitando a situação.

Quase as soquei de novo.

Acabaram me bateram por vinte minutos, contato no relógio, com travesseiro. E depois me arrastaram para dentro do meu closet e vestiram a roupa mais ridícula em mim. Eu tentava fugir, mas não adiantava. No final, sai arrastada do meu apartamento para irmos almoçar fora.

E eu vestia calça jeans e blusa de pijama com jaqueta de couro laranja e botas roxas.

O dia acabou sendo muito bom, e elas conseguiram fazer o que queriam: distrair-me. Saímos após o almoço para comprarmos roupas e maquiagem.

Foi um típico dia em Londres.

E claro, com muito frio.

A casa de Julia ficava perto da galeria aonde iríamos à noite, e por isso foi lá que nos arrumamos. Elas estavam muito animadas, muito mesmo. Eu não entendia o motivo, mas ao ver elas trocando mensagens com vários homens, ficou bem claro. As duas safadas estavam indo pra namorar. Por isso tanta produção.

É claro que eu acabei me envolvendo na super produção delas. Esther e Julia acabaram me convencendo sobre usar o vestido que Zabdiel tinha me dado.

— Meu Deus como eu engordei! — exclamei, indignada, me vendo no espelho. — De onde veio essa gordura?!

— Daquele contrato da academia que você fechou e das caixas de chocolate na sua cozinha, talvez?

Mostrei o dedo do meio para Julia.

— Eu preciso recuperar minha dignidade — falei, começando a tirar o vestido.

— Você quer dizer seu corpo, né?

— Isso ai.

Eu precisava urgentemente de uma dieta.

— Ai, para de ser paranóica — reclamou Esther. — Você ta ótima.

— Minhas calças não cabem mais em mim. Ou eu troco meu guarda roupa ou eu volto para meu corpo de sempre.

Esther deu de ombros.

— Eu não vou te dar roupas novas — deixou claro.

Revirei os olhos e voltei a fazer minha maquiagem.

O vestido que Zabdiel tinha me dado era aberto nas costas, e arrastava no chão mesmo com saltos. Era justo, mas de uma forma discreta, e se soltava nas pernas. Por sorte os poucos quilos que eu havia ganhado não ficavam a mostra.

Minha maquiagem foi básica, com um esfumado preto destacando meus olhos. As franjas estavam presas embaixo do cabelo, que caiam por meu ombro, soltos.

Vesti um sobretudo preto, e apenas aguardei as meninas terminarem de se arrumarem.

Querias estar com meu celular, mas Julia tinha escondido ele.

Chegamos em torno das dez horas na galeria, apenas eu e Julia, enquanto Esther esperava no carro para fazer seu teatro.

— Daniel disse que vai se atrasar e é para esperarmos ele la dentro — avisou Julia, olhando a mensagem no celular e soltando um suspiro. — Acho que o feitiço virou contra o feiticeiro. Bem feito.

Soltei uma risada, vendo que Julia estava adorando zoar com a cara da Esther.

O telefone dela tocou em seguida, e ela me olhou, revirando os olhos.

— Meu irmão... — sussurrou. Após alguns minutos, ela encerrou a chamada. — Como sempre, ele se meteu em encrenca. Mas por sorte ele esta perto, então eu vou lá limpar a sujeira dele. Aviso a Esther para vim, você já quer ir entrando?

Olhei ao redor, vendo as folhas se espalhando pelo chão por causa do vento que chegava.

— Sem duvidas.

Eu não estava a fim de continuar ali fora.

Despedi-me de Julia e subi os degraus da antiga igreja. Encarei a grande estrutura decorada com ouro. Era de tirar o fôlego.

As grandes portas estavam abertas, diversas pessoas andando pela recepção. Guardei meu casaco e parei em um espelho, arrumando meu cabelo e minha roupa.

Portas de vidro fosco, com moldura de dourada, separavam aquele hall da parte de dentro. As portas estavam fechadas, mas pessoas entravam.

Pensei em esperar as meninas, mas o vento ali não estava muito diferente do da rua, por causa das portas abertas. Como eu já tinha tirado meu sobretudo, achei que entrar realmente seria a melhor opção.

Segui até as portas fechadas, e uma mulher ao lado delas a abriu para mim.

Quando entrei, todo o barulho da recepção e da rua sumiram, e eu fui envolvida por uma escuridão. Ao meu redor, paredes pretas se estendiam em um corredor.

Andei por ele, seu final se abrindo em algo que eu não conseguia ver. Tudo era escuro e silencioso.

Uma luz surgiu atrás de mim, e uma musica começou a tocar.

Gold ClubOnde histórias criam vida. Descubra agora