Parte Dois

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Dois meses tinham se passado.

Zabdiel apareceu apenas três vezes, para fazer shows, e logo desapareceu.

Tentei ligar para ele, mas não me atendia. Chegou uma hora que a dor se tornou ilusão, e eu parei de ligar.

Estando de volta a Syco, com um pedido de desculpas deles pela minha demissão, eu foquei em meu trabalho. Achei que eles só me contrataram de volta a mando do meu pai, mas após vê-lo gritando com meu chefe, exigindo que ele me contratasse de volta, um dia após eu já ter sido recontratada, notei que não foi por causa dele.

Tirei a tinta do cabelo, e ele estava loiro novamente, já tendo crescido também. Recuperei o peso que tinha perdido, e alguns extras vieram. Eu estava na parte de me afundar em chocolate e sorvete, não fiquei surpresa em começara a engordar.

Tive que me adaptar novamente a rotina de Londres, e também ao fato de não ter mais Zabdiel ao meu lado. Todos os dias de manhã eu ainda acordava e entrava em seu contato, pronta para enviar uma mensagem de bom dia, como fazia antes. O coração se apertava ao ver que as ultimas vinte mensagens eram minhas, e que ele não havia respondido nenhuma. Eu bloqueava o celular e o deixava jogado embaixo do travesseiro pelo rosto do dia.

Ficava pior ao chegar ao trabalho e ver CNCO em diversos andares, com fotos e musica sempre tocando. Afinal de contas, eles são da mesma gravadora que eu trabalho, uma hora ou outra alguma coisa deles aparecia.

Mas o pior mesmo, o que me fez prender o fôlego por diversos segundos e ficar sem reação, foi saber que eu teria que compor para eles.

Foi como um tiro.

Aparentemente a gravadora não se importava com meu término com Zabdiel, ou talvez não soubesse. Independente disso, eu teria que continuar trabalhando como sempre trabalhei. O acordo que eu fiz com meus chefes quando comecei a namorar Zabdiel foi que eu continuaria escrevendo para eles mesmo se nós terminássemos e o resultado do meu trabalho com eles fosse bom. Naquela época eu achava que isso não seria um problema, mas agora eu via que estava completamente enganada.

Eu tinha um prazo de uma semana para entregar três musicas, e 10 dias para entregar uma gravação delas. Nos dois primeiros dias eu não consegui escrever nada, e minha equipe simplesmente parou, aguardando algo meu. Quando finalmente consegui compor saíram musicas triste demais, que não combinava com o estilo do grupo, e meu chefe ficou bem estressado, me mudando de projeto. Porém ele ainda ficou com duas musicas, dizendo que iria mandar para a gravadora em Miami e tentaria transformar em um ritmo para CNCO cantar.

Alguns dias depois eu recebi um vídeo de Christopher e Erick, agradecendo pelas musicas e dizendo que amaram. Mais tarde naquele dia eles me ligaram por vídeo, para que Erick pegasse os acordes da musica no violão e Richard as notas no teclado. Foi como quando trabalhávamos juntos.

Não perguntei por Zabdiel, mas antes de encerrarmos a chamada Christopher pediu desculpas e disse que não tinha noticias do amigo, que ele continuava afastado.

Eu não sabia como lidar com isso.

Já fazia semanas, e onde estava Zabdiel?

Tinham se passado alguns dias desde a ligação com o grupo, e eu estava começando a aceitar a atual situação. Zabdiel teria que aparecer uma hora, mas eu não acho que isso seria por nós. Afinal de contas, ele não podia continuar afastado do trabalho para sempre.

Eu estava quase, quase, aceitando minha atual situação.

Até receber a encomenda.

— Olha o que estava lá em baixo para você — disse Esther, entrando em minha sala com uma caixa retangular toda embrulhada em papel de presente.

— Adoro presentes — falei, me levantando.

— Ninguém me da presentes — choraminga Julia.

Fui até Esther, que havia colocado a caixa sobre a mesa de centro do estúdio. O pacote era todo florido, em tons de rosa e branco. Minhas cores preferidas. Não tinha nenhuma indicação por fora de quem era.

Tiro o papel de presente, o abrindo pelas beiradas e o soltando da caixa. Ao levantar a tampa, papel de seda ainda escondia o que realmente havia na caixa. Por cima desse papel, um envelope cinza. O deixei de lado.

O presente dentro da caixa era um vestido branco.

— Vai casar? — pergunta Julia.

Franzo a testa, tirando o vestido da caixa e o colocando em minha frente, para poder vê-lo. Era longo e com mangas, inteiro branco.

— "Espero que chegue na data certa. Mal posso esperar para fazermos de Londres nossa." — leu Esther o bilhete que tinha dentro do envelope. — Assinado... Zabdiel.

Respirei fundo, olhando para o vestido.

— Ele comprou quando ainda estávamos juntos. Tínhamos combinado de virmos para Londres esse mês, conhecer minha família...

Soltei um suspiro e o vestido.

—E só chegou agora?

— Era essa a intenção... — Me joguei em minha cadeira e passei a mão pelo rosto. — Eu deveria devolver?

— De forma alguma! — disse Julia, pegando o vestido. — É lindo, você tem que usar. E daí que é um presente de ex?! — Deu de ombros.

Esther e eu trocamos olhares.

— O que?! Ai gente, por favor. Sejam menos rancorosas. O vestido já ta aqui mesmo, o que tem erado usar? Ele nem te deu diretamente, é só você ignorar o bilhete.

Respirei fundo para não falar nada.

— Eu concordo com ela — revelou Esther.

Abri a boca, chocada.

— É um vestido lindo, Soph, não podemos negar. Você podia usar ele amanhã...

— O que tem amanha? — pergunta Julia, curiosa.

— Vamos à abertura de uma galeria na cidade. Compraram uma igreja e transformaram em museu, galeria, não sei bem o que é... — explicou Esther. — Vamos colocar meu plano para capturar o Daniel em ação. Você deveria ir!

Revirei os olhos.

— Que plano? — Julia me olhou.

Abri as mãos indicando que eu não tinha nada a ver com isso.

— Chamei Daniel para ir com a gente. O plano é a Sophie entrar primeiro, ficar lá linda e plena tomando champanhe, e então o Daniel chega... — começou Esther.

— E onde você vai estar? — perguntou Julia, interrompendo.

— Eu vou fingir chegar atrasada. Ai quando eu chegar, vou conversar com a Soph e ignorar o Daniel. Ai a Soph vai sair e me deixar sozinha com ele eu vou dar um gelo nele...

— Eca Esther, que plano horrível. Voltou para o colegial? Esse lance de ignorar pra pessoa correr atrás não funciona.

Esther deu de ombros.

— Com Daniel vai dar certo.

Revirei os olhos.

— Só manda a real para ele — falei. — É muito mais fácil.

Devolvi o vestido para a caixa e fiquei encarando o envelope. Lembrei-me de quando vimos aquele vestido, Joel e Claire estavam juntos com a gente.

Eu sentia saudade do drama deles.

— Meu Deus! — Peguei o bilhete, finalmente me tocando de algo. — É claro!

— O que? — perguntaram Julia e Esther.

— Eu sei onde o Zabdiel esta.

Peguei minha bolsa e sai da sala, com a caixa do vestido embaixo do braço.

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