cap. 3 - ninfetas, rivais e negociações

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jorge on

após contratar vitoria, a clientela do meu cabaré duplicou. em duas semanas a tv bagaço (jornal local) visitou a moulin rola duas vezes, e agora estamos impestados de velhos estribados que pagariam uma fortuna para encostar um dedo na vitoria, que passou a ser a atração principal.
acontece que eu deixo bem claro pra eles que ela não quer nada com ninguém. mas isso não impede eles de continuarem insistindo. se fosse eu no lugar dela, já teria virado a putinha de todos eles.

- miss. fortune? - iago interrompe meus pensamentos, como sempre.

- pois não? plebeu - respondo.

- um senhor chamado tomás elpinto deseja falar com vossa senhoria.

- tomás elpinto? não conheço esse cafajeste.

- ele disse ser um velho amigo.

suspiro. o que será que a poc tem a me dizer?

- mande-o entrar - respondo

me assusto ao rever a caricatura entrar em minha sala.

- olá jorge, ou devo dizer "pobre coitada"?

me levanto da minha mesa, batendo minhas mãos na mesma. sinto minhas pernas e braços tremerem.

- o que a querida pensa que está fazendo no meu cabaré? - falo com raiva.

- ué, só vim revê-lo... colocar as fofocas em dias... você sabe, como nos velhos tempos - ele fala delicadamente, passando a mão no pinto de borracha que tenho de enfeite na minha mesa.

- faça o favor de se retirar, bixa - falo tentando me acalmar.

- calma, mona. eu sou inofensivo. rs.

- o que você quer?

ele se senta na cadeira a minha frente, calmamente.

- bom, somos amigues a muito tempo, não é?

me sento em minha cadeira, tentando parecer tranquilo, e escondendo o nervosismo.

- não, não somos. e nunca fomos.

- ah por favor, vai dizer que ainda tem raiva de mim?

- meu ranço por ti é maior que o meu fogo no rabo.

- querida, esquece o passado. eu vim aqui negociar contigo, bixa.

- que?

- bom, a moulin rola é um cabaré famosíssimo, e isso não é novidade para ninguém. - assenti - mas o meu cabaré, o tomais elpinto, está praticamente acima do seu.

- cof cof - interrompo - sinto-lhe informar que não há cabaré acima do meu.

- ok amore, esse é seu ponto de vista, mas acontece que...

- nada disso meu bem. esse é um fato. nunca nem ouvi falar desse tomais elpinto - me levantei - agora, saia, por favor - apontei para a porta.

ele continuou sentado, completamente relaxado.

- querido, lembre-se de nossas infâncias. sempre fomos rivais não fomos? - continuei ouvindo-o - competíamos por tudo. quem usava o short mais curto, quem rebolava mais nas raves, quem beijava mais garotos - sorri, ao lembrar que eu sempre vencia as competições - e isso tudo já na quarta série. agora, isso pode acabar. soube de uma dançarina sua que anda chamando atenção...

fechei minhas mãos e apertei com força. ele queria vitoria. eu não aceitaria isso.

OS DESFAVORECIDOSOnde histórias criam vida. Descubra agora