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Acho que você agora é parte dessa história e antes de você conhecer meu quarto, quero que saiba como a mente pode te salvar quando nem mesmo seu corpo aguenta mais e pede para que você desista. 

Já vou avisar que daqui para frente você, talvez, não aguente saber tudo aquilo que preciso contar. Mas tudo bem, não te culpo sabia? Antes de tudo isso eu achava que era livre e merecia curtir, então não gostava de saber como outras pessoas sofriam também. Na verdade, achava que até uma boa parte merecia o sofrimento que passava. Engraçado como dizemos por aí que o mundo precisa de empatia mas não temos nenhuma, né?

Não vou ser hipócrita e dizer que tudo foi obra do acaso e que eu fui vítima do destino, que alguém lá em cima quis me punir por algo que fiz ou qualquer coisa do tipo. Eu sei que também sou responsável por tudo isso, e, sabendo o que sei hoje, talvez eu tivesse escolhido outros caminhos.

Uma coisa eu sei: estou viva. Quero ficar viva. E para isso eu tive que jogar conforme as regras.

Não está entendendo nada do que eu estou falando, eu sei. Esses discursos sempre antecedem alguma merda que fazemos e achamos que temos o direito de justificar, afinal, errar é humano. Mas calma, você já vai entender.

 Vamos começar diferente, pode ser? Vamos começar do meio, do dia em que eu achei que ia morrer.

                                                                                ********************

Eu estou no quarto X, e o jogador zero já exibiu minha punição aos convidados da partida.

Descumpri a regra e, num momento de loucura ao logo da minha primeira partida, pedi por socorro para os convidados. Eu achei que fossem prisioneiros como eu, apenas mais uma peça no jogo dele, mas eu devia ter percebido... Como eu sou burra! Eles não se importam! Sentem prazer no que veem! Ao menos, é o que parece! Estão todos me olhando como se esperassem para me atacar ou mesmo me comer... 

Eles usam máscara e eu não sei se consegui fazer com que algum deles tenha piedade de mim... Na verdade, tenho certeza. Só escuto suas respirações passando pelos vãos... nem seus olhos posso ver. Zero está usando a máscara mestre, um porco com chifres longos... Parecem reais e eu não duvido que sejam. A máscara, assim como suas roupas está limpa, impecável. Isso só me faz ter mais nojo.

Ele me amarrou no X que existe no teto, primeiro as mãos na base do x, elevou meu corpo com um cinto que fica no meio e os pés nas outras pontas. A minha túnica de peoa foi rasgada, e eu estou completamente nua enquanto ele organiza uma mesa com objetos que os convidados podem usar em mim como quiserem, mesmo que machuque... Ou mate.

Ele sempre abre os trabalhos de punição. O ferro que marca nosso corpo já está esquentando. Ele gosta de queimar riscos que marcam quantas vezes fomos desobedientes e isso parece ser o ápice do prazer para ele. É o meu primeiro, mas  ele explicou que 10 eram o limite antes de marcar.

Agora que estou marcada, Zero liberou a passagem para os convidados. Eles começam a se aproximar e a me tocar. Eu não sei a punição que me foi dada pois o telão onde ela aparece fica virado para a plateia. O quarto possui uma mesa abaixo do X onde fui amarrada e ele me desceu, até que eu ficasse deitada. Quatro convidados soltaram as amarras que me prendiam ao X e me amarraram na mesa onde estou deitada. Tiraram o que sobrou da fantasia e, então, Zero anunciou:

- Lembrem-se, a morte da peça não está permitida. Caso algum de vocês descumpra o aviso, será punido da mesma maneira que ela.

Os convidados então começam a se despir, um a um, deixando apenas as máscaras que cobrem seus rostos. O primeiro se aproxima da mesa e passa os dedos por entre os objetos, como se escolhesse aquilo que lhe desse mais prazer. Escolhe então algo que não consigo ver, estão segurando meu rosto e cobrindo meus olhos como se fosse uma surpresa, um presente de aniversário. 

Não demora muito até que ele começa a passar as mãos por minhas pernas, subindo até o meu íntimo. Sinto uma energia, como alta tensão no ar conforme os segundos passam e nada acontece... Então sinto algo sendo derramado em mim, um líquido que parece óleo... então começam os abusos. Enquanto o primeiro começa a introduzir o objeto escolhido em mim, movimentando como se fosse algo consentido, meus olhos são descobertos e as máscaras dos convidados já não são mais impecáveis. Parecem sujos, nojentos e me amedrontam...

Dois posicionam seus membros em minhas mãos e, antes que eu possa começar a gritar, amordaçam minha boca. É então quando as coisas começam a ficar mais intensas e os objetos colocados em mim começam a ficar cada vez maiores... Um deles posiciona suas mãos em meu pescoço e começa a apertar, como que para me asfixiar e tudo que posso fazer é acompanhar o tique e taque do relógio. A nossa punição é de uma hora por cada marca e eu tenho longas 6 horas por vir.

Agora já se passaram 5 horas e escuto um aviso sonoro. Todos eles param, como animais sendo repreendidos por fazer algo ruim e se posicionam ao longo das paredes, encostados e eretos, como se esperassem uma ordem para marchar no exército.

Zero entrou na sala.

- Vocês já se divertiram o suficiente. Vistam-se e vão embora. Todos tem dois minutos para sair.

Quando a sala ficou vazia, Zero havia me limpado. Nenhum dos convidados me penetrou e dei graças a Deus, pelo menos isso não havia acontecido. Mas meus olhos já estavam inchados de tanto que chorei... Zero olhou para mim e tirou minha mordaça, dizendo:

- Vou livrar você disso, mas não lhe dou permissão para falar. Somente quando eu lhe perguntar algo, deverá responder. Entendeu?

- Sim.

-Sua punição de hoje foi leve, mas espero que tenha gozado bastante - deu uma risada enquando abaixava meus braços e me trazia para mais próximo da beirada, como quando vamos ao ginecologista. - Normalmente, autorizo meus convidados a usar e abusar da punida, metendo o quanto quiser. Mas com você é diferente, não gosto da ideia de alguém dentro de você, além de mim, claro.

Permaneço em silêncio mas não consigo entender o que ele diz. Como assim, além de mim?

- Pelo jeito você já esqueceu da nossa Rave não é?

Meu. Deus. Eu sei quem ele é agora.

- Que tal relembrar?

Ele reinicia o relógio, que agora mostra os 60 minutos restantes. Se posiciona na ponta da mesa e começa a colocar seu membro em mim, enquanto geme, como se fosse algo que esperava há muito tempo.

Eu já nem tenho mais força para chorar e, sinceramente, agora tudo começa a ficar claro pra mim. Como eu não percebi antes? Tudo o que me resta agora é esperar esse pesadelo acabar.

Mas quer saber? Enquanto espero, vou te contar como é onde vivo nos últimos dois anos.

O quarto é branco e os móveis são escuros, acho que o nome dessa cor é mogno. Quando você vira o rei do jogo (mesmo que todas nós sejamos mulheres), passamos a ter direito a coisas aconchegantes ou que tenhamos vontade, desde que isso não envolva nenhum tipo de contato com quem está fora da Caixa.

Não, eu não moro em uma caixa. É que a chamam assim desde antes de eu ser uma peça do jogo. O jogador zero faz questão de que os quartos pareçam impecáveis o suficiente para que quando os jogadores convidados nos visitem antes ou depois da partida, possam ver que somos tão valiosas quanto o valor que eles investem para jogar.

Temos um tipo de uniforme para quando não estamos jogando: os peões vestem preto, as torres azul, bispos branco, cavalos marrom, rei lilás e rainha vermelho, mas durante as partidas nos vestimos a caráter, acho que é por conta da elegância, ainda que estejamos um trapo.

Até que gosto da cor que visto agora. Quando eu era livre, tinha um quarto lilás, cheio de borboletas e isso me traz boas lembranças.

Preciso ir agora. Zero está chegando e acho que quer conversar... Amanhã posso te contar um pouco mais.

Nova PartidaOnde histórias criam vida. Descubra agora