Quebrado

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6 de Maio de 2013

"Vou chegar um pouco atrasado, acho que... ", o relógio do celular mostra 15:03, "15:25 tô ai!"  Nico pressiona enviar e muda de música antes de bloquear seu smartphone, e enquanto o metrô atravessa a cidade, que passa pela janela em uma confusão de prédios e casas e carros, ele se perde por todas aquelas ruas que nunca visitou.

"Hey, eu vi no twitter que você também quer ir no show da Clarice dia 25 no Beco, que tal irmos juntos?", foi a mensagem que recebera na noite anterior, e ele tinha certeza que Thomas havia mesmo dito aquilo, pois lera repetidas vezes, e enquanto sua cabeça rodopiava em torno de cada palavra naquela mensagem, seu estômago tombava para todos os lados.

Quando percebe que já se passou muito tempo desde que visualizou a mensagem e ainda não providenciou uma resposta, ele inicia um longo processo de digitar e apagar. "Preciso parecer de boa... opa, mano...não". Deleta. "hey gatinho!... não". Deleta. "minha nossa com certeza eu aceito, eu não teria com quem ir... uou, não". Deleta. "obrigado pelo convite eu concerteza... merda Nico, com certeza junto, você quer mesmo que ele te ache um idiota", balbuciando, seus dedos pressionam violentamente uma série de caracteres e enviam a mensagem.

"Claro que eu topo sim! Com certeza!"

Nico respira, em parte aliviado em parte aceitando seu fim, ou o fim do que quer que fosse acontecer antes mesmo de ter acontecido ou sequer começado a acontecer.

"Massa! Então, o site de ingressos aceita cartão e eu poderia comprar os ingressos para nós e você me dava o dinheiro no dia, mas eu tava pensando... a gente pode usar boleto, eu faço a compra aqui, e pelo que vi o pagamento só pode ser feito num banco lá na Liberdade, aí a gente aproveita e já se conhece... que tal, você pode amanhã?"

"Amanhã..." - seu estômago já não tombava, mas rolava, ladeira abaixo, rolava abaixo todas as ladeiras existentes neste universo, e atravessava para outros universos onde rolava abaixo de todas as ladeiras existentes neles.

"Okok, tudo bem por mim!" enviar.

"Ótimo! Eu tenho algumas coisas para fazer, mas depois das 13 estarei tranquilo, pode ser às 15 na saída da estação Liberdade?"

"Claro que ele tem coisas para fazer, só eu que sou um desocupado"

"Claro, pode ser sim, estarei de boa amanhã" - digitou e enviou, e para si, "E a semana toda".

"Okay então, amanhã na saída da estação Liberdade, às 15"

"Fechado. 15 na saída da Liberdade. Eu te aviso quando acordar e quando estiver saindo de casa" enviou.

"Okay, farei o mesmo. Agora, vou dormir, amanhã quando acordar compro os ingressos e imprimo o boleto. Boa noite e durma bem quando for dormir!"

A boca de seu estômago queimava e sua mente passeava por tudo que podia dar errado, seu peito se enchia de um calor estranho e maravilhoso que não sentia havia muito, Nico tentava manter sua mente no presente, mas sempre foi incapaz de impedir seus pensamentos de derivar por vias perigosas de esperanças e expectativas e ele ainda carrega em si as complicações da última vez em que falhou em não se iludir. Em sua cabeça, seus desejos rapidamente se tornaram receios e ele desperta, percebendo que ainda não respondeu a última mensagem de Thomas.

"Boa noite menino Thomas, até amanhã, se cuida e durma bem :))" e com um leve sorriso nos lábios, enviou.

Deixou o celular sobre a cama e voltou sua atenção para a tela do computador, e logo sentiu a vibração do aparelho e o pegou novamente, mas sem desbloquear, apenas olhou a última notificação. Era da conversa com Thomas. Apenas três caracteres.

Eu Você Nós ElesOnde histórias criam vida. Descubra agora