... that I want to keep...

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Shino passou a semana seguinte comendo curry todas as tardes. Ele saia da Academia e ia para a beira do lago treinar. Passava algum tempo até o shifter se mostrar, provavelmente esperando para ter certeza que era seguro.

Então vinha todo cheio de dentes e sorrisos e aceitava o bento extra que Shino começou a levar.

Também teve confiança o bastante para sentar-se e passar a fazer as refeições ao lado de Shino.

— Minha mãe não pode nem desconfiar disso — revelou numa tarde, tentando comer ao mesmo tempo — Ela disse pra manter distância de humanos sempre. Mas alguém que cozinha tão bem não pode me causar problemas!

Shino ergueu as sobrancelhas, sorvendo o curry com menos ímpeto. Estava um tanto enjoado daquilo, mas se obrigava a comer para aproveitar da companhia do outro garoto.

— Obrigado — agradeceu um tanto incerto.

— Isso é uma delícia! Mas vocês não se cansam de comer a mesma coisa todo dia? — ele perguntou ao finalizar a porção.

— Não entendi — Shino foi sincero.

— É que você come isso todo dia. Não enjoa? — Kiba soou genuinamente curioso. Pescou uns grãozinhos de arroz presos na bochecha e os levou aos lábios. Akamaru cochilava preguiçoso deitado aos pés do dono.

— Não comemos apenas isso — Shino explicou — Eu trouxe porque pensei que quisesse comer. Mas posso cozinhar coisas diferentes.

Nesse ponto Kiba olhou meio admirado para Shino.

— Fez só pra mim? Por quê?

A questão desconcertou o outro.

— Você pareceu gostar — deu de ombros. O que poderia dizer? Que apesar de toda sua postura indiferente até então, conhecer um shifter de verdade foi emocionante. Ter a oportunidade de reencontrá-lo foi o gatilho para que Shino cozinhasse curry todos os dias! Surpreendendo inclusive ao pai, que não entendeu nada, apenas respeitou sem perguntar.

— Caralho! Obrigado. Mas pode fazer outras coisas, não se importe comigo — garantiu. Shino tentou sondar se aquela era a despedida para as tardes partilhadas, a frase seguinte esclareceu — Eu gosto de qualquer tipo de comida! Só não tinha provado curry antes.

Shino sacou fácil que o shifter se convidava para continuar comendo de graça!

— Claro. Posso trazer outros pratos.

— Ah, mas não sou tão folgado assim. Em troca eu te dou umas aulas, o que acha? Sua defesa tem várias brechas. Treinar sozinho te leva até certo ponto, posso te ajudar a melhorar.

A proposta foi interessante. Shino sabia que as criaturas sobrenaturais eram superiores em questão de força e agilidade. Receber lições de um shifter era uma chance que não abriria mão jamais. Trocar as aulas por comida era muita pechincha!

— Aceito.

— E eu estava tipo "coitados dos humanos, não tem muita opção de refeição"... fui meio besta! Mas como eu ia saber?

A frase reclamona veio, como sempre, acompanhada de expressões faciais exageradas e gestos de mãos expansivos. Divertiu Aburame Shino.

— É. Como você ia saber?

— Por que você faz seu próprio almoço? Sua mãe não sabe cozinhar?

Shino observou o garoto sentado ao seu lado, abraçando os joelhos numa pose displicente e relaxada, diferente do primeiro encontro de ambos em que Kiba parecia pronto para correr caso Shino sequer olhasse torto. Havia curiosidade e certa confiança na postura de guarda-baixa. De alguma forma aquilo encantou Shino, saber que um shifter considerava seguro ficar ao seu lado.

Visco de Sangue (ShinoKiba)Onde histórias criam vida. Descubra agora