Prólogo

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Adam se remexeu inquieto em seu assento. Coçou o cabelo atrás da orelha de forma compulsiva. Nunca havia gostado de assembleias, e sendo a décima no intervalo de poucas semanas, estava particularmente indisposto com aquela. No fundo, ainda queria ser uma fera para poder rugir e sair de forma tempestuosa sem ser julgado, mas agora era um príncipe, e precisava agir como tal.

─ A Revolução das Princesas tem afetado todo o Reino da Fantasia, como bem sabemos. E isso precisa ser controlado depressa, antes que se espalhe. ─ a Fada Madrinha, a autoridade máxima entre os seres encantados, caminhava de um lado para o outro da sala, encarando os presentes ─ Existem boatos do início de um grupo clandestino de caça aos lobos, fundado por Chapeuzinho e os três porquinhos.

─ Tudo por causa das princesas, Fada Madrinha? ─ eram tantas fadas presentes que ele não sabia mais quem eram qual.

─ Sim, por causa das princesas. Ao se rebelarem contra seus destinos, alteraram o equilíbrio de nosso Reino e de todos que vivem nele. Precisamos dar um jeito nisso!

E como esperado, o falatório começou. Adam bufou, se afundando mais em sua cadeira e observando que seu companheiro fazia o mesmo ao seu lado. Encarou príncipe Henry, que estava mais interessado em cutucar o forro do braço da cadeira.

Já havia ouvido aquele discurso mais vezes do que podia contar, dentro e fora daquela sala, por diversas bocas. Sabia que a rebeldia das princesas estava balançando o delicado equilíbrio do Reino da Fantasia e trazendo ideias até então desconhecidas à tona. Como, por exemplo, o fato de que o destino não era tão imutável quanto eles imaginavam.

─ Eu acho que deveríamos propor um duelo a elas! Sabemos que não vencerão, e que irão cair. E então, damos um beijo de amor verdadeiro e resolvemos tudo. ─ não importa quantas vezes dissessem que a ideia era idiota, Filipe sempre voltava a sugeri-la.

─ Não, Filipe, precisamos achar uma forma de restaurar o equilíbrio do Reino da Fantasia. E a melhor forma de fazer isso, é descobrindo o que o abalou. ─ rebateu Henry, recebendo uma careta.

Sim, restaurar o equilíbrio, essa era a grande questão. Mas como? O que havia perturbado o tão delicado mas aparentemente inabalável equilíbrio do mundo em que viviam?

─ Algo que não é desse mundo. ─ um sorriso tomou o rosto de Adam ─ Mas é claro! Só pode ser isso.

─ O que, Adam? ─ a voz de Henry veio em um sussurro, enquanto as fadas retomavam seu repetitivo debate.

─ Pense comigo, Henry... Sempre vivemos em paz e harmonia. E então, de uma hora para outra, Branca começou a agir de forma estranha. Se fosse uma maldição, como todas as outras, o beijo de Florian teria resolvido. Mas não resolveu. Isso quer dizer que não é uma maldição. O que se abateu sobre ela não deve ser deste mundo!

─ Que ideia estapafúrdia, Adam... Outro mundo? ─ Eric entrou na discussão, também em voz baixa ─ Não existe outro mundo. Certo?

─ Já ouvi lendas, mas são apenas isso: lendas. ─ Henry tentou soar firme, mas estava intrigado ─ De qualquer forma, se isso fosse uma possibilidade, as fadas teriam mencionado.

─ Já aprendemos a confiar em fadas e bruxas com um pé atrás, meu amigo. Elas nunca nos contam a história por inteiro. ─ Adam encarou o debate inútil ─ De qualquer forma, acho que sei alguém que pode nos falar mais sobre isso.

─ Quem?

─ Peguem os três abobalhados e vamos sair daqui, discretamente. ─ ele indicou os demais príncipes e a saída.

A Revolução das PrincesasOnde histórias criam vida. Descubra agora