A solidão nunca foi uma opção

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Dia de sol quente na capital da França, no auge do verão o calor parecia não estar brincando. As pessoas sentiam na pele o ardor que emanava naquela manhã ensolarada, fazendo com que todos procurassem o mínimo de sombra possível para se esconder daquele calor estupidamente exagerado.

- Cara, que calor dos diabos! – esbravejou enquanto bebia um gole de água gelada.

- Nem brinca, acho que nunca fez um calor desses em Paris! – Disse o moreno limpando uma gota de suor que escorrida sobre a testa franzida.

- Saudade das Bahamas e suas praias maravilhosas...

- Suas mulheres maravilhosas...

O loiro olhou para o amigo sorrindo largamente. Aquelas férias tinham sido demais, foram para as famosas praias do Caribe no ultimo mês e para dizer com certa modéstia ( em sem ela), curtiram TUDO o que aquelas praias poderiam oferecer.

- Põe saudade nisso! Mas já que estamos aqui é melhor enfrentar a realidade. –  Bufou antes de se levantar da mesa do café onde estavam – Tô indo nessa.

- Vai pra empresa hoje?

- Estou indo lá agora... Preciso pegar uns documentos, falar com o pessoal novo que está entrando hoje e resolver mais umas coisas, depois volto pra casa. Não dá pra ficar na rua com essa desgraça de calor toda na cabeça! – Passou a mão jogando os cabelos loiros e dourados pra trás, levemente úmidos pelo suor e pôs os óculos escuros. – Falou.

- Até mais cara.

Entrando no carro prata se direcionou para Agreste's, empresa da sua família a mais de 30 anos, uma das mais importantes da Europa e do mundo da moda. Seu pai era o mais famoso estilista da França e como era seu único filho e herdeiro o colocara para administrar desde cedo à empresa, aprendendo como se mantém um império em constante crescimento. Particularmente, ele não gostava muito dessa história, apesar de desfrutar de todo o bem estar que o dinheiro pode comprar, ele gostava de viajar, conhecer novos lugares, ter novas experiências e nunca ficar preso a lugar nenhum, porque de nenhuma forma, a solidão era uma opção.

Mas também sabia que seu pai e todos da sua família contavam com ele. Desde que sua mãe morreu em um trágico acidente causado pelo egoísmo da mesma, se fechou para as pessoas ao seu redor, e nunca mais quis se apegar a ninguém, nunca mais quis confiar em ninguém. Deixava que as pessoas confiassem nele, assim ele poderia ser livre com os seus sentimentos e entrega-los a todos, sendo de todo mundo, ao mesmo tempo em que tinha todos em suas mãos.

E para não dizer que foi injusto com vida, até tentou mesmo ter um relacionamento com uma mulher, uma das suas melhores amigas e filha da grande crítica de moda Audrey Bourgeois e do prefeito de Paris André Bourgeois. Chloé era maravilhosa, da mesma classe social que ele, era uma das modelos mais cobiçadas de toda a França, porém era superficial e fútil, muito mais do que ele poderia aguentar, e isso desgastou por completo o relacionamento que durara apenas 5 meses. Não suportando toda aquela histeria da moça das quais sempre terminavam em brigas verdadeiramente arrasadoras em público, terminou com o relacionamento de uma vez por todas. A modelo não deixou barato, promoveu um escândalo nos tabloides de toda a Europa, dizendo que seu ex a tinha traído com um homem, e outras fake news totalmente desmentidas por todos os amigos do rapaz. Atualmente as coisas pareciam ter se normalizado entre os dois. Depois de um ano de turbulências, os dois voltaram a se falar esporadicamente em encontros da sociedade e nos eventos promovidos pela empresa, por mais que o loiro quisesse nunca mais olhar para aquele rosto angelical, que de anjo não tinha nada.

Depois de estacionar o carro, deixou as chaves com o manobrista e subiu pelo elevador. Aquele cheiro era tão familiar, cheiro de trabalho, de papéis, de problemas e muita correria. Riu internamente, quantas noites já passara naquele prédio? Quebrando a cabeça para resolver problemas administrativos, planejando e organizando eventos de uma hora para outra dentre outras diversas atividades. Era um misto de sentimentos, por um lado se sentia realizado, pois sabia que seu trabalho estava sendo feito e muito bem, já que os resultados todo mês eram sempre satisfatórios. Mas por outro lado se sentia preso, imponente diante daquela empresa que sugava sua vida, seus dias e toda a sua atenção. Para no final, resultar em que? Muito dinheiro, mas... Sozinho.

Let me be the oneOnde histórias criam vida. Descubra agora