Capítulo 1

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Aquele sentimento nunca saiu do meu peito e nem da minha memória, mas se escondeu. Cidade Nova, vida Nova, é o que todos dizem, que eu acho ridículo pelo simples fato de que ninguém consegue apagar seu passado, porque ele que tornou o que você é hoje. Por isso é tão precioso. Meu passado é cheio de cicatrizes, além de ter uma família muito amável, eu era diferente, minha mãe sempre sorridente com aqueles enormes olhos castanhos do qual eu e minha irmã herdamos, graciosos e gentis, meu pai sempre com seu sorriso. Minha irmã com sua adorável personalidade e eu, tímida e sempre observadora.
Aquele dia no hospital foi o pior dia da minha vida, olhava médicos passando de um lado para o outro. Depois de quase uma eternidade, um senhor de cabelos grisalhos, óculos redondos e um crachá escrito Dr. Célio, dirigiu-se ao meu pai e disse calmamente e cabisbaixo:

- Sinto muito, fizemos de tudo- as mãos de meu pai trêmulas e olhos arregalados com lágrimas...

Se levantou e afastou-se !
- Meu amores, vamos - minha avó se aproxima e nos abraça.

Não estava entendendo nada, absolutamente nada ...
- Vovó, eu quero ver a mamãe - Annie fala chorosa.

- Calma meu amor depois conversamos sobre isso, pode ser ? - pega nas nossas mãos e nos dirigimos a saída do hospital.

Com minha cabeça encostada no vidro do carro volto ao mundo real. Percebo aquela música horrível soando em meus ouvidos, como se fosse alguma provocação. Aquela voz fina que me deixava irritada. Observo as gotículas de água da chuva recente no vidro do carro e acabo vendo um miserável homem bêbado cambaleando pela calçada da avenida, estava com suas roupas rasgadas e sujas, fecho meus olhos e imagino meu refúgio, aonde sempre posso me esconder.

Abro lentamente meus olhos e solto um suspiro, era apenas um sonho, ainda estava na droga daquele carro, ao qual faltavam apenas alguns minutos para chegarmos. Aquela porcaria de música aumenta e saio de meus pensamentos.

Levanto rapidamente e dou um murro no rádio.
- DESLIGA ESSA MERDA, ANNIE. CARAMBA.

A mesma dá um pulo de susto e arregala seus grandes olhos castanhos, dizendo:

- NÃO BATE NO RÁDIO, TÁ FICANDO LOUCA GAROTA ????

- NÃO ME FAÇA REPETIR, DESLIGA ISSO OU NÃO É SÓ O RÁDIO QUE EU VOU SOCAR HOJE !!!! - berro irritada.

Ela desliga e fica emburrada,volto pro banco de trás e meu pai abre a porta pouco tempo depois com as sacolas na mão.

- O que aconteceu meninas? Porque está emburrada, Annie? - fala abrindo o porta malas e arrumando as compras.

- Porque a retardada da Alícia esmurrou seu rádio, pai. A música estava baixa.

- Porque fez isso Lí? Tá louca? esse rádio custou caro, você sabe que eu não ganho dinheiro em árvore - revirei os olhos e continuei fitando a janela - O bom é que quando eu falo você me responde...

-Você não perguntou, e sim afirmou que não é rico- falei indiferente - Você comprou o que eu pedi ? - volto minha atenção para seu rosto que estava com fundas olheiras. Estava exausto com a mudança.

- Sim, está dentro de alguma sacola !
- Pai, vamos logo, eu preciso arrumar minha mochila para o primeiro dia de aula, e meu quarto também - Annie nos interrompe, com um enorme sorriso no rosto. Reviro os olhos com seu comentário do qual não me alegra nem um pouco, só de lembrar que tem aula amanhã já fico triste.

Não sei porque ela está tão alegre assim. É uma nova escola, uma nova cidade, nada demais. Uma nova chance para nós, "uma nova vida", "um recomeço", como meu pai costuma dizer.

Ele assentiu e saímos do estacionamento do mercado. Já estava ficando escuro e as estrelas já estavam brotando naquele maravilhoso céu negro do interior. O que era raro lá na cidade grande.

Retiramos as sacolas do carro e quase tropeço nas pequenas escadas em frente à porta principal, levamos para a nova cozinha, que era bem maior e moderna que a da antiga casa, a casa toda era mais espaçosa. A sala de estar, que já estava mobiliada composta por um sofá muito chique e chamativo, que aparentava ser caro. Uma delicada mesa de centro e armários de madeira maciça. Corro escada acima em direção ao meu quarto, que se encontra em meio à uma bagunça. Me jogo na cama mal arrumada e Laus se deita ao meu lado, faço carinho em seu pescoço, sentindo entre os dedos seus macios pelos alaranjados. Meu gato é meio antissocial, mas sempre me pede carinho. Fiquei deitada de barriga pra cima e adormeci com ele ronronando em cima de mim.

Annie me chamou pra jantar, porém ainda meio mole me viro e arremesso um sapato na porta.

- Sai - resmungo e volto a dormir

Acordo de madrugada, com uma tremenda dor nas costas.

- Droga, Aiii

Vou a caminho da janela e a abro, observo bem o mar de estrelas no céu, passo pela mesma janela dando acesso ao telhado e deito-me , as estrelas já estavam indo embora, e vinha o nascer do sol, aquele céu alaranjado maravilhoso. Aquele lindo horizonte de primavera. Como queria ficar aqui, para sempre, seria bem mais fácil...

Espero que tenham gostado pq eu amei escrever esse capítulo.
Postarei o segundo capítulo semana que vem.
Espero que acompanhe minha obra, pois tem muitos segredos e mistério que estão por vir....
Bjs da Vi😙😋

Entre novas ondas 🌊 (Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora