Capítulo 5

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A empresa de Felipe ficava na divisa de São Paulo com Guarulhos, às margens da Via Dutra. Ao longo do tempo ela havia crescido muito e atualmente seu complexo contava com vários prédios entre fábricas, laboratórios, setores administrativos... além de um grande estoque climatizado para insumos e vários jardins indoor e outdoor onde eram cultivadas as plantas e flores utilizadas na fabricação de alguns perfumes. No gramado ao lado do portão principal e também no alto do prédio central estava o logotipo Essence, com letras de aço na cor cinza, aplicadas em um fundo branco. Havia dois guardas nas guaritas da entrada que não pareceram surpresos com a presença do jornalista. Eles o instruíram sobre onde estacionar e ele parou o carro próximo à entrada principal da empresa, em uma das vagas da diretoria.

Na recepção, duas jovens receberam o visitante com exagerada simpatia. Elas também não pareceram surpresas com a sua presença e traziam nos rostos um misto de excitação, curiosidade e nervosismo. Uma delas ligou para a secretária de Felipe, comentando com a outra que ela nunca atendia antes do terceiro toque. Contou um, dois, e pronto: no terceiro toque, Cássia atendeu:

― Escritório da presidência, em que posso ajudar?

― Cássia, por favor, diga ao Sr. Felipe que o Sr. Marcos Andrade está aqui e deseja vê-lo. Obrigada!

Alguns minutos mais tarde, Marcos terminava uma xícara de café quando avistou Felipe caminhando a passos largos pelas grandes portas de vidro que davam acesso à recepção. Deixou a xícara vazia e se levantou para cumprimentá-lo; esperava um aperto de mão ou um toque no ombro, mas acabou envolvido em um abraço de urso, daqueles bem fortes que deixam qualquer um sem ação.

― Que bom que finalmente veio me ver! ― Felipe se afastou e pegou algo no bolso do paletó, revelando uma câmera fotográfica. ― Aqui, meninas, tirem uma foto de nós.

Karina, a recepcionista que ligara para avisar sobre Marcos, aguardou enquanto Felipe posicionava-se com o filho na parede onde havia a pintura do logotipo da empresa.

― Precisamos mesmo fazer isso? ― Marcos arqueou uma sobrancelha para o pai, secretamente se divertindo com a animação exagerada que ele demonstrava.

― Mas é claro!

Após a foto, os dois se despediram das recepcionistas e iniciaram o tour. Felipe mostrou toda a empresa ao filho, apresentou-o e reapresentou-o a alguns dos funcionários. Muitos deles conheciam o drama que os envolvia, porém, ninguém comentava nada a respeito, nem mesmo os mais antigos. Estes apenas apertavam a mão do jornalista e diziam coisas como: "Que bom te ver de novo" e "Como você cresceu!".

Por onde eles passavam, Marcos arrancava suspiros das funcionárias, além de bochechas coradas. Nenhuma delas passou ilesa aos seus encantos, nem mesmo Janice, do setor financeiro. Ela era uma das funcionárias mais antigas da empresa. Tinha cinquenta e sete anos, era magra, viciada em cafeína e cigarros, e tinha mania de incluir Deus em tudo o que dizia.

A postura de Felipe ao entrar na sala dela indicava que os dois eram bons amigos.

― Janice, querida, quero te apresentar uma pessoa ― disse ele com a voz íntima e manhosa, no mesmo timbre que utilizava para falar com Melinda.

― Não vê que eu estou ocupada, Felipe? Por Deus, homem, me deixe trabalhar! ― ela respondeu sem erguer os olhos da pilha de papéis em sua mesa. Ele esperou alguns segundos, e então pigarreou. Ela apenas grunhiu do outro lado e continuou o que estava fazendo.

― Não seja rude, ou não darei aquele aumento que me pediu ― ameaçou ele, piscando para o filho. Janice parou de folhear os contratos que estavam espalhados por todo o tampo de sua mesa e finalmente ergueu os olhos num misto de petulância e humor.

Cinco Anos - Os desafios da vida a dois (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora