Capítulo 11

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Após a derrota do Brasil na semifinal — que Ângela deu graças a Deus por não ter visto ao vivo, ou teria voltado sem unhas para casa — e da vitória da Alemanha sobre a Argentina na final, a Copa acabou. Marcos continuou seu cronograma de viagens, passando por vários países das Américas do Sul e Central, enquanto Ângela se desdobrava para mostrar seu valor na revista. Renata parecia sempre disposta a recusar suas ideias, que vez ou outra apareciam levemente remodeladas em reportagens de capas assinadas por Catarina. Todos sabiam que era de propósito. Michele não dizia nada para não alimentar aquela guerra muda e esperava que Ângela não se cansasse e deixasse o emprego. A jornalista, por vezes se sentia desanimada em trabalhar numa revista onde metade da chefia queria puxar o seu tapete e a outra metade era omissa, mas não pensava em desistir porque era teimosa. E também porque, apesar de tudo, gostava do emprego e acreditava estar se saindo bem.

O empenho de Marcos foi reconhecido através dos vários prêmios que ele recebeu no fim do ano. Ângela foi com ele a todas as premiações e não pode deixar de notar o quanto ele estava diferente de quando o conheceu. Ele não trabalhava para si mesmo, trabalhava para dar informação de qualidade para as pessoas e se empenhava em dar o seu melhor, esperando que a esposa e o filho se orgulhassem dele. Em seus discursos durante as premiações ele sempre os mencionava e a agradecia pelo apoio, sem o qual não poderia se desligar do mundo e fazer o que precisava, muitas vezes se arriscando em locais distantes e perigosos para escrever suas matérias. Ângela não tinha a ilusão de que Marcos precisava dela para continuar sendo o profissional respeitado que era, sabia que ele faria tudo sozinho da mesma forma. Mas ele sempre fazia questão de ressaltar que o mais importante era ter com quem dividir suas conquistas, e que sem sua família nada teria o mesmo valor.

Após o Natal, que Marcos passou distante em sua última viagem programada, ele voltou para casa, para um merecido descanso, e foi surpreendido por um telefonema do pai, o convidando para passar o Ano Novo na sua casa de praia em Ilhabela, no Litoral Norte de São Paulo. Como quase não havia estado com ele e Melinda ao longo daquele ano, aceitou o convite, apesar de preferir ficar em São Paulo curtindo a mulher e o filho.

Na data prevista, eles seguiram para o litoral, pegando a rodovia dos Tamoios, descendo a serra de Caraguatatuba, e seguindo para São Sebastião, onde pegaram a balsa para Ilhabela. A família toda, incluindo Malu, se reuniria ainda naquela noite.

Ângela ficou tensa quando Marcos atravessou a plataforma, subiu na rampa e estacionou na balsa em meio a dezenas de outros carros. Aquela era a sua primeira vez em uma embarcação e não entrava em sua cabeça que uma placa de metal gigante, com toneladas de peso, pudesse navegar tranquilamente e não afundar.

― Vamos lá fora ― disse Marcos, abrindo a porta para sair do carro. Ângela pensou em contestar, mas refletiu que, se aquela coisa afundasse, era melhor estar fora do carro. Ainda que não fosse uma grande nadadora. Suas pernas estavam trêmulas quando caminhou até a beirada onde Marcos havia se posicionado com o filho. Com a mão livre, ele a abraçou, mantendo-a junto do seu corpo. Ângela se sentiu segura, e quando a balsa se moveu, fazendo bastante barulho, porém, sem balançar muito, enfim relaxou.

Durante quinze minutos eles aproveitaram o passeio, deixando o vento bagunçar seus cabelos enquanto observavam as montanhas majestosas e verdes da cidade se aproximarem

A casa de Felipe ficava no lado sul da ilha, próxima às praias do Curral e Veloso. A construção de madeira possuía dois andares com ambientes espaçosos, móveis rústicos intercalados com outros, mais modernos, e vários vasos de plantas de diferentes tamanhos. O caseiro, Jacir Ubiratã, era descendente de indígenas e morava em uma residência menor da propriedade com a mulher, Joana Antunes, uma artesã nascida e criada em Ilhabela. Eles não tinham filhos e cuidavam da propriedade desde antes de Felipe a comprá-la, há cerca de quinze anos.

Cinco Anos - Os desafios da vida a dois (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora