Por nossos filhos | Camren -REMAKE

35 - desabafo

" — Eu sempre menti para mim e para todos quando eu dizia que eu nunca quis ser mãe, na verdade, eu sempre imaginei sendo, mas eu nunca estive preparada para aquilo, eu sempre soube ser uma responsabilidade e tanto, sempre vi a maneira que minha mãe abria mão das coisas dela por mim e pela minha irmã, raramente tive meu pai em casa porque ele vivia trabalhando para conseguir sustentar a nossa família, minha mãe abriu mão da sua profissão nos primeiros cinco anos da minha irmã devido à saúde da mesma, então quando me perguntavam se eu queria passar por tudo aquilo, minha resposta automaticamente era: não! 

Nunca soube também o que era ter mais de  um namorado ou namorada, eu me apaixonei muito nova e isso não é um arrependimento, foi bom os momentos que passamos, vivíamos coisas que muita gente queria viver, mas não conseguiam devido suas famílias, meu pai não era muito a favor de algo tão “sério” como ele mesmo dizia, ele julgava que seria coisa de momento, eu e Lauren nunca chegamos a casar como devidamente é por aí, porque eu já estava trabalhando como modelo, minha vida estava chegando no auge, onde eu sempre quis estar, logo acima! 

Coisa que ninguém sabe é que nossos primeiros meses de casada nós duas ainda morávamos com nossos pais, estávamos construindo nossa vida juntas gradualmente e fizemos nossa casa, do jeito que eu sempre quis, toda de vidro em frente a praia, não tínhamos quase vizinhos, vivíamos um sonho, Lauren construía seu estúdio em casa e estava fazendo investimentos em grande produtoras, ela queria ter a dela! Eu apoiava, queria ela feliz, assim como eu também estava feliz, não tinha o que dar errado… mas deu, insegurança talvez, começamos a brigar por tudo, horas extras, viagens a trabalho demais, bebidas demais, tudo estava incomodando a outra, tentamos fazer algumas coisas para alimentar nosso casamento, diziam serem crises de relacionamentos, tentamos de tudo, amenizou por um tempo, estávamos no paraíso de novo. Pensei tanto nas coisas que Lauren dizia, ela sempre quis ser mãe, eu então resolvi ceder a isso, ela sempre me idealizou grávida, não pude reclamar, ela me mimava, cuidava de mim como ninguém… mas, em simultâneo, ela esteve distante, sentia falta do sexo, ela ficava sem jeito com isso, julgo que a gravidez afetou isso, minhas inseguranças voltou, com isso ela também voltou a fazer horas extras, boatos de casos na internet, eu surtei! Pedi o divórcio, eu não queria vê-la, passei o restante da gravidez longe dela, mas ela sempre vinha para saber dos gêmeos, ela sempre foi apegada na menina, ela dizia ser uma mini eu… Quando eles nasceram eu só pensei nela, queria deixar as crianças com ela e simplesmente sumir, mas meu corpo recusou todas as minhas tentativas de desaparecer, eu tive a brilhante burrice de separar essas crianças, eu sinto o peso e o erro que fiz, talvez hoje eu não iria ter a Lauren nessa condição. 

Peguei meu filho, comprei enfermeiras e médicos, infelizmente dinheiro faz muita coisa, pedi que eles confirmassem a história, fui embora, queria mudar de país, mas meus trabalhos são sempre aqui nos Estados Unidos, comprei a casa dos meus pais em Los Angeles, ficamos morando lá, era encantador. Verônica me ajudou a criar do Liam, ela foi uma mãe para ele, ela nunca me perguntou detalhadamente o que havia acontecido, sabia ser algo que tinha no passado e que de alguma forma me machucava, ela só respeitava tudo e minhas decisões, ela sempre quis contar ao Liam que não era mãe dele, mesmo ele tendo tanto apego.

E sabe? O universo conspirou para que eu voltasse para cá, assim fiz, mas lutei tanto para que não encontrasse a Lauren, eu não queria vê-la porque eu sabia que ela tinha muitas perguntas para fazer, além disso, eu tinha medo de vê nossa filha, eu sentia falta dela, mesmo que eu soubesse o mínimo, mesmo vendo fotos, eu sentia vontade de fazer parte da vida dela, mas como eu iria voltar após quatro anos? De cara lavada? Eu não tinha coragem, mas tenho meu carma, fiz o que fiz, então tenho que pagar e estou pagando, eu me sinto culpada pelas coisas que estão acontecendo agora, Lauren sofreu acidente, não sabemos o quão lesionada ela está, só sabemos que ela acordou e se lembra de algumas pessoas, ela não consegue falar, mal consegue movimentar uma mão, eu a deixei assim, eu sinto no meu íntimo… meus filhos hoje estão juntos, mas não tem nós duas juntas, não sabem como a Lauren é incrível, ela sempre sonhou com eles, ela sempre foi uma mãezona, mesmo antes deles nascerem ou eu saber estar grávida.  "

Camila falava de maneira nostálgica, lembrando de cada detalhe enquanto construía uma linha do tempo enquanto falava com a psicóloga, a mulher do seu lado a olhava com tranquilidade deixando a latina desabafar suas mágoas. 

— Sabe o que é engraçado? — soltou um riso sem graça ao continuar a frase — eu abri mão do meu trabalho, eu não tenho cara nem ânimo para trabalhar, desfilar ou fazer campanhas, eu… logo eu que sempre fui viciada e fiel ao meu trabalho, mas não consigo viver ou simplesmente ignorar a situação que estou passando, eu hoje vejo que preciso de ajuda, preciso que essa dor de alguma maneira passe ou diminua. 
E nem comentei, meu pai se afastou cada vez mais, ele já não acreditava que eu estava em um relacionamento sólido, depois separação grávida… Ah! Ele me deserdou, só fala comigo o básico, fiquei surpresa dele vir no natal, realmente foi surpreendente, minha filha no meio disso tudo também foi sequestrada, a polícia até hoje não sabe explicar o que aconteceu, está em processo, tanta coisa, tanto detalhe que aconteceu… Por mais que todos quisessem que eu continuasse com meu trabalho, como eu iria fazer isso? Me diga? 

Descordava mentalmente e suspirou tão fundo segurando as lágrimas. 

— Por favor, só faça isso sumir, quando vi Lauren acordando e não podendo ser ela, meu mundo desabou, eu não sei o que aconteceu, só sei que estou assim, em lágrimas a três dias. 

A psicóloga apoiou o bloquinho de notas na mesa e se virou para Camila para que pudesse falar — Minha querida, fico feliz que você tenha começado a terapia, você passou por muitas coisas, não estou aqui para te julgar se foi certo ou errado, vamos tratar do seu psicológico, ok? — Terminou de falar calmamente e pegou nas mãos de Camila — Tudo é um processo, felizmente você teve de forma nítida  uma depressão no processo da sua gravidez inteira, você não tinha condições mentais para conseguir cuidar dessas crianças tanto que o L-Liam né? — parou para recordar o nome da criança — teve uma criação praticamente que terceirizada, onde não eram só ajudas como rede de apoio e sim criação mesmo… não estou julgando a forma que foi feito, apenas mostrando que literalmente você não tava em situações cabíveis para àquilo! 

— Eu estou aqui para te ajudar, e irei fazer isso! Primeiro de tudo, por favor tente desapegar da ideia que você é a culpada de tantas coisas, infelizmente todos nós estamos sujeitos a tantas coisas, você nem imagina Camila, nem tudo é sua culpa, ok?

Camila sentia que teria agora  um pouco mais de paz, conseguia respirar como se tivesse tirando alguns dos pesos do seu passado de suas costas.

— O seu acompanhamento será semanal, com passar da sua evolução iremos mudar para uma quantidade menor durante o mês, mas irei querer saber sempre como está seu emocional diário, como está sua relação com seus filhos e familiares, principalmente seu pai e família da sua ex-esposa. Medicamentos somente para antes de dormir, os de mais medicamentos serão devidamente recomendados após sua consulta com o neuro. Mais alguma dúvida Camila? 

Ela assentiu que não teria nenhuma dúvida, de fato nada tinha a perguntar do que foi dito, mas ainda tinha tantos questionamentos dentro de si.

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