Sentimentos?

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Acordei com a respiração ofegante após ter medo do que acontecerá, instantes atrás, em meu sonho, tudo estava girando, como num círculo vicioso, e eu via o trânsito, todas as construções ao redor serem alteradas diante de mim, para logo depois retornarem a sua origem.

Algo incontrolável que fazia parte do meu coração era a sensação de já ter estado ali, naquele mesmo lugar.
Não era apenas um sonho, de fato, eu me senti parte do acontecimento, sentimentos das pessoas que corriam desesperadas, eu era o acúmulo de emoções. Fora algo que não consegui decifrar, era além do que seria possível. Ora, como pôde parecer tão real? nada nunca me deixou tão intensa como agora, não posso, simplesmente, ignorar.
Mas, se parar para pensar, isso deve ser pura loucura do meu cérebro, ou mais ainda: sono, pois ando cansada física e mentalmente.

No mesmo instante em que me deito novamente, o celular recebe uma notificação de ligação. Era o Nicholas, tinha que ser. Eu poderia ter em mente que seria ele, sempre foi ansioso, tinha dificuldade para controlar o impulso de não resolver seus conflitos e dificilmente conseguiria ter uma boa noite de sono com nossa pequena indiferença.

Resolvi não atender, e rapidamente, enviei uma mensagem para que falássemos por ali, não estava com a respiração controlada ainda, e minha voz provavelmente também não, pois meus batimentos cardíacos já estavam prontos para chegarem ao máximo e eu, felizmente, morrer.

[21/05 03:37] Léa♥: Não poderei atender agora, conversamos por aqui mesmo, ok?
[21/05 03:39] Nicholas: Ok. Não estou conseguindo dormir, sem que não tenhamos resolvido o assunto de mais cedo. Você, simplesmente, me ignorou o dia inteiro sem me dar qualquer justificação ou motivo
[21/05 03:40] Nicholas: Custa não pensar apenas em si quando sabe que como me sinto após ser ignorado? Ou pior, não ter conversado sobre?
[21/05 03:40] Léa♥: Olha... Eu não tenho psicológico para isso agora.
Não temos nenhuma discussão pendente, preciso dormir, até mais
[21/05 03:41] Nicholas: Ok.

Sei como ele não pode controlar seu jeito, mas não é uma obrigação minha ter que sempre entender o lado dele, eu também tenho meus motivos, e ele já leva tudo para um lado exagerado demais para mim. - Falou Léa, sozinha, em uma voz ainda rouca, por conta do sono, olhando em direção a janela, antes de voltar a dormir.

Assim que levantei da cama, olhei para o dia lá fora e percebi como estava lindo, pela janela, o Sol já estava firme e as flores que haviam nos jardins da vizinhança complementaram para uma bela harmonia na paisagem.
Desci as escadas, contornei a até o banheiro, e tratei de fazer minhas necessidades matinais.
Logo que saí, consegui ouvir da cozinha o barulho que lá faziam.
Nunca fui de participar deles, não me sinto parte daquele ambiente, então sempre passo pouco tempo à mesa.

Não me trazem boas lembranças ver que sempre haverá um lugar vazio, no qual meu pai nunca vira a ocupar, desde que com meus seis anos viemos morar aqui após sermos despejados da antiga casa.
Ele sumira no mundo sem ao menos olhar nos meus olhos antes de sair, e desde lá, não consigo fazer com que me sinta da família, quando outros membros que estão de passagem estão reunidos, todos me excluem por ter sido o motivo da infelicidade da, até então, família perfeita. Isso ocorre pois, para eles, eu sempre fora o início das brigas, que não era uma culpa do meu pai, e seu nome já não quero sequer pronunciar tão cedo.

Subi para o quarto, sem fazer barulho, e voltei a deitar apenas para observar o teto, respirar fundo e pensar que isso irá passar. Era e continua sendo assim que faço quando sinto esse vazio que suporto, devido ao que aconteceu.

Léa, após passar o tempo, dá-se conta da fome que sentia e, com os pensamentos distantes, não tinha sequer percebido, os agora, roncos vindos de seu estômago.

Beleza, não é possível que uma mente tão maravilhosa e cheia de paranoias, para serem atualizadas possa trabalhar, de maneira rápida, sem um mísero café da manhã.
Logo volto, Seu Teto, uma paranoica tem que se alimentar.

Logo que desceu para a cozinha, nem sua mãe, avô ou primos não estavam mais ali. Aquilo trazia para Léa dois sentimentos opostos: de paz, ao notar o silêncio que reinava, ou de exclusão, já que saíram da casa sem a chamar.
Conflitos entre o que sentia, além do mais, sendo distintos, sempre fora um problema que Léa fazia de tudo para fingir não existir dentro de seu peito.
Tentar ignorar sentimentos já faz parte da sua vida há tempos, mas nada disso continuará para sempre, pois sentimentos ruins guardados nunca pararam de existir, e sim, apenas se acumular para que no futuro voltem com ainda mais força, isso a garota não tinha ideia, mas estava prestes a viver.

Com todo meu pensamento virado para esse assunto que nem deveria ser lembrado mais, acabei deixando de lado o Nicholas, não usei o celular hoje, portanto, ainda não sei como ele está, essa pode ser uma semana difícil para ele, e eu como a egoísta que sou não perguntei uma vez sequer como ele se sentia.
Retornei às pressas para o quarto, onde estava o aparelho, e liguei para ele. Aguardei alguns instantes, liguei novamente mas nada dele atender.
Porventura, ainda esteja dormindo, deve ser isso.
Aguardei durante horas, de modo a que ele retornasse, mas não obtive nenhuma resposta. Como não fazia nada em casa, e estava um pouco, apenas um pouco, juro, preocupada com ele poder estar chateado, resolvi ir até sua casa.

A garota demorou cerca de 45 min, e ao estar bem próximo da residência, ficou paralisada ao notar que Nicholas estava aos beijos com uma garota que nunca vira antes.
Uma mistura confusa de sentimentos de preencheu o interior do seu peito, e fazendo com que suas pernas a obrigasse correr para longe daquelas sensações causadoras de dor que até então nunca tinha sentido antes.

Ao perceber que corria sem parar, Léa interrompeu seus passos apressados, se apoiando no primeiro poste que vira na frente, ainda com a respiração irregular, perguntou-se o porquê de ter tido aquela reação, se nunca sentiu nada por seu amigo.
Sem tempo para pensar naquilo, achou melhor fazer o caminho de casa e fingir que nada tinha sentido ou acontecido.

Assim que retornou para sua casa, a garota demorou a manter seus impulsos totalmente em estado normal. Não conseguia se locomover até seu quarto de tanto cansaço, e sua única vontade naquele instante era um banho para acalmar suas emoções.

O que será deu em mim? Agora não quero pensar nisso, tenho que controlar meus ânimos ou irei acabar louca! - Exclamou a garota, confusa no que pensar.

Atendendo ao próprio pedido, tratou-se de permanecer em silêncio e focar apenas na água que descia pelo seu corpo, além da sua respiração que aos poucos se tornava menos acelerada.
Ao sair do banho, subiu diretamente para seu quarto e permaneceu lá até que chegasse a noite, cansada o suficiente para sair antes desse horário.

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