No dia em que eu e Isaac nos conhecemos estava tentando sair da Cidadela sem que me vissem. E ao contrário do que eu gostaria não estava me escondendo porque não tinha permissão de ir ver o povo, mas sim porque tinha vergonha por estar indo andar entre o povo.
Eu era arrogante e como a maioria das pessoas da minha classe achava que era melhor do que todos. Eu realmente acreditava que era uma deusa e deuses não andam entre a plebe.
Coloquei trajes comuns e que escondiam o meu rosto para que não fosse reconhecida.
Estava andando pelo centro até que parei em frente à biblioteca pública onde ficavam alguns registros históricos e poucos livros feitos por eles.
Isaac que na época sempre estava por lá me viu e ao pensar que estava perdida ofereceu ajuda, e isso me deixou impressionada. Não conseguia entender porque ele ofereceu ajuda a uma total estranha.
Passamos o dia inteiro conversando sobre os mais variados temas e prometi que o encontraria no dia seguinte.
Nele eu pude ver tudo que faltava em mim e em todos da minha classe: humildade, empatia e o fato de que ele sabia valorizar o que tinha, mesmo não sendo muito.
Fiquei me prometendo por semanas que no próximo dia iria ser a ultima vez que o veria, todavia não conseguia cumprir com a promessa.
Um dia enquanto assistimos o pôr do sol colorir o céu em tons azul e rosa, nos beijamos pela primeira vez. E naquele momento percebi que estava apaixonada por ele.
A cada encontro eu aprendia mais com ele e aproveitava para contar sobre a vida fora de Ceres. Só que como eu não ficava muito tempo em Ceres sabia que isso iria ter que acabar, porém ele prometeu que sempre me esperaria e disse que me amava.
Depois disso nunca mais tive interesse nenhum outro homem, porque nenhum chegava perto dele. Ele gostava de mim pela pessoa que eu era e não pela minha classe.
— Amelly! Acorda! — Escuto a voz de Raquel distante.
— Acorda! — Também ouço Issac.
Então eu me lembro da reunião, da minha mãe pedindo para Dott me apagar e levanto assustada.
— O que aconteceu!? Onde eu estou!?
— Você está no quarto dos seus pais. Procuramos você por horas e não encontramos. — Explica Issac.
— Horas?
— Enquanto Isaac foi te procurava eu tentei pedir para o clã de Polares esperar você voltar para podermos tentar buscar uma solução pacífica, todavia a paciência deles se esgotou. Assim que seus pais e os outros voltaram para o salão eles os renderam e se fecharam todas as entradas do salão para que ninguém pudesse fugir.
— Meu Deus! Meu Deus! Meu Deus! — Quantas horas eu estou apagada?
— Quatro horas... — Responde Raquel.
— Droga! Precisamos entrar no salão imediatamente! — Me levanto me sentindo um pouco desnorteada e sigo pelos corredores em direção à entrada do salão.
— Amelly o que você descobriu? — Issac e Raquel perguntam enquanto tentam me acompanhar.
— Esse planeta inteiro vai desaparecer em seis horas!
Raquel e Issac me encaram assustados.
Quando chegamos à porta principal do salão paramos tentando pensar em alguma forma de derrubar a porta.
— Amelly... — Issac se aproxima. — As chances de todos morrermos hoje são grandes, não é?
— Não pensa nisso Issac, vamos conseguir. Ninguém vai morrer! — Talvez eu tenha me enganado e nada vai acontecer.
— Antes de entrarmos queria te pedir algo. — Ele se ajoelha e tira do bolso uma caixa bem pequena. — Li uma vez em um livro sobre um antigo costume terrestre e ia esperar até amanhã, porém a situação não está ao nosso favor. Não quero desperdiçar esta chance.
Assim que me lembro do costume que ele estava se referindo fico sem palavras.
— Quer casar comigo Amelly Star?
— Sim. — Coloco o anel e beijo ele. — Eu te amo Issac.
— Eu também, você é o amor da minha vida.
Eu e Issac tomamos um susto ao ouvir barulhos de tiro e vejo que se trata de Raquel que atirou na fechadura da porta até ela quebrar.
— Desculpem atrapalhar. Estou muito feliz por vocês, porém nosso tempo é curto. — Fala Raquel enxugando uma lagrima do rosto. — Mas só para constar: essa foi à coisa mais linda que já vi.
Assim que entramos no salão todos os olharem se direcionam para mim. Vejo que alguns soldados que estavam na segurança se encontravam mortos no chão e varias famílias estavam abraçadas chorando com medo.
— Por favor, me escutem! Precisamos encontrar uma forma pacífica de resolver isso, o tempo não está do nosso lado. Temos que resolver isso aqui e agora para podermos salvar o máximo de pessoas que pudermos de ambos os lados.
— Tarde demais para isso! Vocês nos exploraram e agora nosso povo está sendo levado. — Diz uma mulher que usava uniforme idêntico ao de Issac. No nome de identificação estava escrito Jane.
— Seu povo não está sendo levado. — Ela aponta a sua arma para mim e levanto as minhas mãos em sinal de rendição. — Não vou te machucar, eu juro. Vou apenas lhe contar o que realmente está acontecendo.
— Filha, por favor, não fale mais nada! — Manda o meu pai.
— Sinto muito pai. Nós precisamos fazer o que é certo.
— Filha, nós não temos tempo para fazer o que é certo. Nossa sobrevivência está jogo!
— Povo de Ceres vocês todos têm sido usados para construir uma máquina do tempo, porque o seu planeta está sendo apagado da existência. — Começa um tumulto e posso sentir o olhar de decepção dos meus pais. — Por favor, me escutem! Eu tenho uma proposta que pode resolver isso sem derramamento de sangue.
— O que você propõe? — Questiona Jane.
— Podemos ir até o centro comercial e juntar o máximo de pessoas que pudermos para levarmos. Não temos tempo para salvar toda população deste planeta e muito menos espaço nessa nave, mas pelo menos dessa forma podemos fazer uma diferença.
— Tudo bem. Vamos confiar em você deusa, porém se estiver mentindo irá sentir a nossa ira.
E com isso todos mesmo que ainda agitados, pareciam satisfeitos com o acordo. Menos as famílias ricas que me olham com raiva mesmo que eu tenha acabado de salvá-los da morte.
Vou abraçar Issac e Raquel, porém me detenho ao ser surpreendida por vários gritos.
— O que está acontecendo!?
Então vejo diante dos meus olhos grande parte dos que pertenciam ao clã de Polares desaparecendo.
— Alerta aumento do colapso temporal! — Avisa Dott.
— Amelly! — Grita Issac.
Vejo meu pai segurando Issac com uma arma apontada para a sua cabeça.
Olhopara Raquel e para todos os outros que sobraram do clã de Polares e podiasentir que a esperança estava dando lugar para o medo.
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Os Deuses de Ceres
Science FictionA filha de uma importante família de alta classe precisa escolher entre dois mundos quando descobre um importante segredo que vai mudar o curso não só do planeta Ceres, mas também de todo o universo. Logo todos irão descobrir o quão impiedoso o temp...