Receita ideal para o quiabo perfeito [CONTO]

Parte 1 - Para escolher o quiabo

— Você está fazendo errado — Natália disse para o irmão. — Não é assim que se escolhe quiabo.

Daniel soltou o quiabo que estava segurando e cruzou os braços.

— Então como que é? — perguntou, meio emburrado, meio curioso de verdade.

— Aqui. — Natália pegou o quiabo que Daniel tinha acabado de soltar. — Você tem que dar uma apertadinha na ponta assim. Bem de leve. Tenta. — Ela estendeu o vegetal de volta para o irmão em oferta.

Daniel descruzou os braços e experimentou seguir as instruções. Ele apertou e apertou a ponta do quiabo, sua testa franzida em concentração, até que bufou impaciente e tornou a encarar a irmã.

— Tá, e que que é pra sentir?

— A consistência tem que estar a ponto de quebrar — Natália instruiu. — Se estiver murcho, é velho. Se estiver muito duro, não amolece bem.

Daniel soltou uma gargalhada tão alta que chamou a atenção de todos ao redor. Natália deu um soco no ombro do irmão mais novo, mandando-o ficar quieto e se comportar.

— Desculpa — Daniel falou em tom nada arrependido, enquanto massageava o ombro atingido, ainda rindo. — Mas a piada já veio pronta, né? "Se estiver murcho, é velho" — ele afinou a voz como se estivesse imitando a irmã. "Se estiver muito duro, não..." Ai!! — reclamou quando foi atingido por um novo soco, dessa vez no outro ombro.

Apesar da dor momentânea (Natália claramente tinha mais força do que julgava ter), Daniel não conseguiu evitar a risada que brotava do fundo do seu estômago e ia subindo pela garganta de modo delicioso e libertador. Nada como uma boa piada fálica para alegrar o dia.

— Concentra, cabeção! — Natália ralhou.

— Cabeção! — Daniel repetiu, como se aquela fosse a coisa mais engraçada que já tinha ouvido em toda a sua vida.

Ele estava rindo tanto que precisou se apoiar na bancada dos pepinos para retomar o fôlego e enxugar as pequenas lágrimas nos cantos dos seus olhos.

— Isso é importante! — Natália insistiu.

Como o irmão não lhe deu atenção, ela chutou o tênis dele, desestabilizando-o. Ele conseguiu se equilibrar a tempo, mas o susto da quase queda levou de volta sua atenção à missão que os dois tinham ido concluir naquele supermercado.

— Termina de escolher os quiabos — Natália falou, e ele assentiu. — E capricha, hein? Pega só os melhores dos melhores, porque a gente precisa que isso fique muito bom. Eu vou lá dar uma olhada nos tomates enquanto isso.

— Sim, senhora. — Daniel bateu continência.

Fora os tomates e os quiabos, os garotos ainda precisavam de azeite, sal, cebola e alho.

Com todos os ingredientes em mãos, os dois voltaram para casa, prontos para começarem a trabalhar na receita ideal para o quiabo perfeito.