Capítulo 2

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-Essas roupas não vão adiantar nesse frio, mãe... -dizia João esfregando as mãos para se aquecer.

-É, filho, vai lá, ajudar seu pai com as caixas. Meu Deus... -repetia o gesto do filho.

-Por que aquele povo não para de olhar para gente? Nunca viram gente morena antes? Imagina se vissem o Fabrício e a família dele? Povo chato! -reclamou Jônatas. -Pensando bem... Será que ficaram interessados em mim? Aquela menina é bonitinha... -coçou a cabeça.

-Já esqueceu a Debinha?- perguntei desempacotando e arrumando as malas.

-Não, que isso, mas... Ihh, eles estão vindo, mãe, quer dizer, vai, Sarah, você fala mais inglês que a gente. -empurrou-me. Mas antes que eu fosse meu pai abordou a família deixando as caixas no carro com o filho. Hum, interessante... Meu pai é todo tímido, já devem se conhecer. Conversaram por dez minutos e os chamou para dentro. Um casal, uma filha de 15 anos, um de 17 e um de 5 anos. Eles carregavam um pote com cookies.

Todos bem diferentes do que estávamos acostumados a ver, de forma física, mas exatamente o que esperávamos : beeeem desprovidos de cor, loiros, altos, olhos azuis e tímidos, mas sorridentes. Jônatas e João logo colocaram os olhos na moça e eu como gosto de crianças queria fazer amizade com o menininho. O jovem rapaz ficava me olhando, e acho que fingiu indiferença e ficou ofendido por ter sido trocado pelo irmãozinho que tirava meleca do nariz.

A família os ajudou a guardar as coisas, ficaram impressionados com a hospitalidade, se sentiram meio que no Brasil exceto pelo frio de matar em pleno verão. Tudo bem que o verão estava quase acabando e em menos de uma semana as aulas voltariam.

-Aqui é sempre assim? -João novamente esfregava as mãos perguntando a si mesmo em voz alta.

-Sim, é sempre assim. -a loirinha respondeu com um sorriso. Jônatas ficou com raiva por não ter tido coragem de falar antes. -It's so cool I never know twins before!

-Cool yeah... -Jônatas olhou para os pés.

Percebi que meio que rolava um clima entre João e a mocinha. E resolvi entrar na conversa, mais para ajudá-lo, porque sei como é tímido, o contrário do outro. Nunca vi gêmeos tão diferentes! Quer dizer, talvez porque fossem meus irmãos e convivesse mais. Mas a Larissa e Luísa que estudaram comigo na sexta série não eram assim tão diferentes na personalidade! João e Jônatas eram água e vinho, quer dizer água e óleo, que não se misturam. Jônatas era dois minutos mais velho que João, então se achava o mais velho e mandava nele. Conversava pelos cotovelos e galanteador. De vez em quando João se impunha e brigava com Jônatas, colocando-o em seu lugar, mas apenas quando perdia a paciência. Jônatas também se apaixonava fácil, João era na dele.

-Qual o seu nome? -perguntei à menina.

-Ashley Clark, mas pode me chamar de Ash. Todos os meus amigos me chamam assim. -abriu outro sorrisinho de lado e logo olhei pros meus irmãos que babavam. Poxa! Não tinham aprendido nada comigo! Tem que se fazer de difícil!

-Não que eu tenha muitos amigos... -se corrigiu balançando os ombros.

-Aposto que tem... -Jônatas suspirou e eu o belisquei. -Ai! O que foi, Sarah?

-Nada! -arregalei os olhos e voltei a brincar com o caçula.

Meus pais conversavam freneticamente com os Clark, mas eu sentia um clima estranho. Não sei se era vergonha. Vocês já sentiram um mau pressentimento ao conhecer alguém? Tipo de cara, o coração aperta um pouco. A minha avó falecida era crente e sempre me falava que quando isso acontecesse eu deveria orar. Não achei que era tal ponto, mas fiquei meio com pé atrás. Acho que a conversa de Debinha de CSI e tal mexeu com minha cabeça... Falando nela, que saudade....

O Mistério dos Clark (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora