Minha narrativa começa no ano de 1900, no recôncavo baiano, onde um certo mestre de capoeira tem ali na sua roda aquele que seria sem sombra de dúvidas seu aluno mais famoso e habilidoso. Naquela época com apenas 5 anos de idade, mas já mostrando toda desenvoltura para o esporte que é meio dança, meio luta e cem por cento malicia, esse jovem cresce e ganha o apelido de "Besouro Mangangá" pois por mais inimigos que enfrentasse ele sempre saia ileso. Besouro decide ganhar o mundo, fazendo da capoeira sua vida, e carregando consigo ideias de vidas igualitários onde nenhum ser humano seria superior a outro seja por cor, ou condições financeiras.
Por defender seus pensamentos esse jovem sempre estava metido em confusão, porém nunca ninguém conseguiu lhe prender ou lhe tirar uma gota de sangue, e muito se falava a esse respeito se era por sua tamanha destreza no uso da capoeira ou se tinha algo de sobrenatural nele. Muitos diziam que ele nunca seria pego ou ferido enquanto seu corpo estivesse fechado e seu patuá esteve junto ao seu peito.
O fato realmente importante é sabermos que certo dia em 1918 no bairro de São Caetano, estava localizada uma delegacia de polícia que estava preste a sofrer a maior vergonha para toda corporação da localidade.
Certa patrulha dessa delegacia estava em meio a praça usando e abusando da força que a farda lhe concedia, então o tenente responsável por essa tropa de 8 homens resolve bater em um negro que passa longe da confusão, pois o mesmo olhou para eles e fez um sinal de reprovação com a cabeça. Enquanto os 8 homens batiam no negro, um outro homem vestindo uma calça branca de linho fino e uma camisa de botão parda se aproxima de forma rápida e sorrateira como se viesse levitando pelo chão. Ele se mete no meio da agressão e com movimentos rápidos de corpo, fazendo aquilo em que esteve a vida toda acostumado, ele começa a gingar de um lado para o outro e sem nem perceber o que tinha acontecido dois policias vão ao chão completamente apagados após tomarem cada um uma meia lua de compasso. O restante da tropa percebendo o que estava acontecendo, cerca o novo indivíduo que estava solitário enquanto eles tinham a superioridade numérica.
Cercado por aqueles 6 homens que portavam cassetetes, Besouro solta um sorriso de canto de boca pois sabia que tais homens não teriam a menor chance. Antes de começar a briga de verdade, Besouro toca no amuleto no seu peito como que buscando conforto e proteção, e logo após começa a se mover naquela pequena roda, os homens sem saber ao certo o que fazer pois notavam que o homem era um capoeirista, resolvem atacar em pares. Besouro simplesmente desvia dos ataques com graça e agilidade que sua arte marcial exigia dele, enquanto desviava dos cassetetes, e chutes descoordenados Besouro fazia acrobacias e encantava a multidão que se formava para ver o tumulto.
Percebendo que aquilo estava tomando proporções muito grande, e que os policiais estavam cansando, Besouro parte para o ataque, usando movimentos rápidos e precisos ele acerta com um ponta pé, na boca do estomago o inimigo mais próximo a sua esquerda, sem perder o embalo ele gira todo o corpo apoiando uma das mãos no chão e em movimento de estrela acerta o soldado do lado oposto e ao se levantar os homens restantes estão mais recuados.
Besouro continua na sua investida e com uma finta, onde fingiu que ia dar um chute girado para fazer o policial se afastar, ele aproveita a força do giro e se arremessa de cabeça no peito do homem que cai na mesma hora.
Nesse momento um cabo da polícia que vinha correndo em direção ao barulho que se formou na praça, observa que mais da metade da patrulha estar no chão desmaiada e o tenente fugindo correndo, e os que restaram com medo do confronto. Ele ouve alguém dizer:
- "Não é esse negro, aquele da capoeira lá de Mangangá?" Então corre para a delegacia para avisar ao delegado. Chegando lá ele diz:
- Senhor delegado o barulho ta formado! Tem um cabra lá praça batendo nos seus soldados.
O delegado achando estranho a forma como o cabo entrou e falou, diz: - Seu cabo fale direito, como é que pode um só cabra bater numa tropa inteira?
O cabo então narra os fatos que viu:
- Pois então seu delegado, eu vi mais da metade da tropa desmaiada no chão, inclusive o capitão Roberto, que eu vi ser derrubado com uma única cabeçada e também vi o tenente sair correndo!
O delgado se levanta enfurecido e grita para o cabo:
- Seu homem, não me invente inverdades que ninguém derrubaria aquele brutamontes de forma tão fácil.
O cabo humildemente fala:
- Mas senhor delegado, eu só digo o que vi, e lhe digo mais, ouvi as pessoas dizer que o tal valentão vem de um lugar chamado Mangangá.
O cabo nota então o delegado começar a perder a cor nas maçãs do rosto. O delegado se vira, veste seu colete, coloca seu chapéu na cabeça e olha no fundo dos olhos do cabo e fala:
- Homem por que é que você não falou isso logo de primeira! Vá correndo e chame a tropa inteira, eu conheço esse homem, é o tal Besouro capoeira.
O cabo então reconhece o nome Besouro e se lembra de todas as vezes que ouviu falar de um certo homem que não podia ser atingido por bala ou facas pois tinha seu corpo fechado. Ele então corre e chama o resto dos homens da delegacia, todos eles saem em caçada a Besouro.
Besouro notando o que estava preste a acontecer, sai correndo na frente pois nem mesmo ele era capaz de enfrentar desarmado e sozinho uma delegacia inteira. A perseguição dura até chegar em meio a um matagal onde Besouro simplesmente desaparece como se tivesse virado um pedaço de árvore ou um bicho.
YOU ARE READING
Besouro, homem ou lenda?
AventuraNessa pequena narrativa, vou contar três eventos que vão contar um pouco da história de Besouro, agora cabe a você leitor decidir se tais histórias são reais ou somente lenda.