Encontro de dois reis

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Após a confusão com o pessoal da delegacia, o capoeirista se vê caçado por toda a capital baiana e assim resolve fugir para o norte do estado.

Depois de pedir algumas caronas, Besouro chega a região da caatinga nordestina, região seca, porém abençoada com o Rio São Francisco. Ali ele vive meses sem ser incomodado ou incomodar ninguém. Até que certo dia Besouro estava descansando em um dos riachos que afluíam do velho rio.

Sentado de costas para a pequena trilha que dava para aquela parte do riacho, ele ouve um som de um pequeno grupo se aproximando com montaria, nessa hora Besouro pensa que só bandos andam em grupos com montaria, ou seria o Cangaço ou a Volante. Muito tranquilamente ele se vira para ver quem se aproximava, então ele vê um pequeno grupo vestido com chapéu de couro, com abas largas, roupas de couro compridas feitas para proteger o corpo dos espinhos das arvores daquela região e todos com lenço na cara. Não se sabe se para se proteger da poeira ou esconder seus rostos.

O líder do grupo que chegou desce da sua montaria e se aproxima de Besouro e diz:

- Seu moço, vejo que vossa senhoria é novo por essas bandas, será que você poderia sair para que nossos cavalos possam beber?

- Homem, não me avexe pois não estou bom para conversa, e tem espaço suficiente para todos beber. Disse Besouro

Nesse momento o bando inteiro dar risada pois perceberam que o negro não sabia com quem estava falando.

O líder do bando também ri e diz:

- Moço, só por que você é recém-chegado por essas bandas vou perdoar sua arrogância. Eu sou...

Antes que ele pudesse terminar o negro diz:

- Não me importa quem você seja, só quero continuar a tomar minha água e a descansar.

O cangaceiro não ligou e continuou a falar.

- Eu sou aquele que outrora era chamado de Virgulino Ferreira da Silva, hoje todo o mundo conhece e teme meu nome. Hoje eu sou chamado de Lampião o rei do cangaço.

O capoeirista se levanta e fala:

- Para um rei, você é um tanto covarde, pois vem acompanhando de um bando armado para ameaçar um único homem desarmado.

Então todo o bando se olha e espera uma ordem do chefe para agir, rindo desse último insulto e provocação, Lampião diz para ninguém do seu bando se envolver pois aquilo seria resolvido em uma luta homem a homem.

Após falar isso ele larga o rifle no chão junto com o chapéu e o gibão e parte para o confronto.

Os homens trocam golpes em velocidades que beiravam a surrealidade, porém nenhum dos golpes atingia o adversário de forma contundente.

De repente Besouro nota que seu adversário começa a diminuir o ritmo dos ataques e das esquivas e resolve avançar com o ataque, e isso se mostrou um erro quase fatal, pois Lampião sacou uma peixeira e tentou lhe cortar a garganta. Porém o capoeirista dar um mortal para trás escapando por pouco do golpe fatal, mas a faca raspa e quase arrebenta o cordão que segura seu patuá.

Besouro aproveitando a situação se finge de morto, para atrair o adversário.

Tomado por orgulho o rei do cangaço se aproxima do homem supostamente morto, e quando faz isso, o capoeirista com um movimento ao qual seu corpo já estava acostumado por causa de uma vida de repetição, dar um giro no corpo usando a mão e o ombro como apoio girando o corpo e aplica uma rasteira no rei do cangaço que caindo de costas no chão completamente atônito, larga a faca. Besouro aproveitando o giro do corpo, dar uma cambalhota e pega a faca e se aproxima do homem que estava deitado no chão, colocando a faca na sua garganta.

Besouro então joga a faca no chão e ajuda seu oponente a se levantar. Estando os dois de pé um de frente para o outro, Lampião estende a mão em sinal de paz e talvez para selar aquela nova e inesperada amizade, entre o rei do cangaço e aquele que por muitos seria considerado o rei da capoeira.

Lampião então resolve perguntar o nome do homem, que responde:

- Eu sou Besouro capoeira e venho lá de Mangangá!

Após isso Lampião declara que daquele dia em diante, quem no sertão inteiro tentasse tocar em Besouro, seja ele um fazendeiro, cangaceiro, ou um macaco da Volante, pela palavra de Lampião e com a benção de seu padrinho Padre Cicero seria morto e esfolado por suas mãos.

E assim Besouro viveu tranquilo por aquela região até 1923, pois a caatinga inteira sabia da história do homem que com as mãos livre venceu o rei do cangaço.

Besouro, homem ou lenda?Where stories live. Discover now