1

35 9 4
                                    

   A família reunida, as piadas sem graça, e as passas no arroz, talvez fossem infortúnios para qualquer pessoa, menos para Mabel, ela amava cada parte do Natal. Ficava ansiosa só de imaginar toda a festividade.

A saudade da família já machucava, fazia poucos meses que tinha decidido cursar Fotografia fora do estado, e agora, ficaria mais difícil de ir para sua casa.

Mabel trabalhou e conseguiu o dinheiro para as passagens, logo comprou e só faltava saltitar de alegria e ir de encontro á sua festa favorita no mundo.

Ao entrar no ônibus, sentou ao lado de um garoto que parecia ter sua idade. Ele não parava de ouvir música no celular, e ela, que não conseguia ficar sem falar nem um minuto sequer, queria apenas uma campainha de conversa. Passado trinta minutos do começo da viagem, ela tomou a atitude de puxar assunto.
— Você tá animado? — Ela perguntou

Ele tirou os fones e fez sinal pra que ela repetisse.

— Você tá animado? Para o Natal. – Repetiu

— ah, não muito. — Respondeu e colocou seus fones novamente.

— Pois eu estou. — Ele retirou um dos fones para ouvi-la. — Tô indo para a casa dos meus pais, sei que por ser véspera amanhã provavelmente vou estar cansada, mas, não tem data como o Natal, não é?

— Não costumo comemorar. — Ele falou. E aquilo soou como a maior ofensa do mundo.

— Que trágico. — Foi as únicas palavras que Mabel conseguiu pensar

— É. — O Garoto resmungou

— Meu nome é Mabel e o seu? — Perguntou

– Felipe.

— Felipe, sua familia não gosta de comemorar?

— Minha mãe gostava, mas ela morreu. — Falou e voltou a colocar os dois fones, cortando Mabel porque achou que ela falava demais.

— Sinto muito. — Respondeu um pouco sem graça. — E você tá indo para onde?

— Vou para minha casa. — Respondeu enquanto nitidamente rolava a tela de playlist do spotify.

— Você mora sozinho?

— Desde os dezoito. — Respondeu

— E quantos anos você tem?

— Vinte e três.

— Eu também!! — Falou dando um gritinho — Quero dizer, vou fazer, no caso, amanhã.

— Legal.

— Muito, na verdade, obrigado Deus por me fazer nascer na época mais legal da vida. — Falou olhando para o céu do ônibus

— Você vai falar mais? é que eu vou escutar música agora.— Ele falou, e acabou soando um pouco grosseiro

Ela desfez o sorriso e se enterrou um pouco na cadeira macia do ônibus. Estava um pouco envergonhada, sabia que falava demais e sempre incomodava alguém.

E Felipe, voltou a ouvir música.

Mabel se deitou praticamente, na cadeira e resolveu dormir, acordou horas depois com um solavanco, e o ônibus parou.

— Desçam todos. — Gritou o motorista

Todos desceram e viram o estrago. O motor estava inteiro fumaçando.

— Vamos ter que esperar o mecânico chegar e só daqui há umas dez horas. Não dá pra viajar mais desse jeito.

— Moço, não chegaremos a tempo para a ceia de Natal. — Mabel tentou argumentar com o motorista. — Não têm mesmo como ir?

Mabel e o NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora