Recomeço.

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O vento que entrava pelo quarto do hospital de Busan naquela manhã era fresco, fazia um barulho de assovio, no entanto — além disso e do monitor cardíaco a sua frente — havia silêncio, e, talvez, este fosse incômodo para Kim Taehyung, que esperava conversar com seu amigo, como todas as manhãs antes do acidente. 
O garoto estava sentado em uma cadeira até confortável, com uma revista da Gucci sendo folheada. Ele suspirou pesado e continuou a passar as páginas, de cabeça baixa, até ver um jeans em um dos modelos, o qual era do estilo de Jimin, sorriu, pronto para mostrar para este, mas, ao levantar a cabeça, deu-se conta de onde estava e em qual situação se encontrava. Encarou a revista em seu colo com tanta vontade de rasgá-la que apenas a fechou e se levantou, vendo o corpo do Park desacordado, à base de remédio para dor; aparelhos medindo sua pressão e lhe dando soro; e, até, o monitor medindo os seus batimentos.
O Kim se aproximou lentamente da cama e passou a mão pela cabeça de seu amigo, esta estava morna; e as pontas dos dedos gordinhos, gélidas. Sorriu ao se lembrar das brincadeiras e comentários sobre as mãos do garoto mais baixo serem tão pequenas. Olhou para o rosto de Park. A expressão serena, diferente da de algumas semanas atrás, deixou-o aliviado. Sim, "semanas atrás". Park Jimin estava, exatamente, um mês e meio em coma.
Taehyung abriu a boca para falar algo, pensou em dizer, mas não saiu voz alguma. Ele queria conversar com Jimin, havia visto em vários filmes que as pessoas o faziam com outras que estavam em coma, pois estas podiam ouvir; e isso, de certo modo, era verdadeiro, mas, toda vez, ao tentar expressar algo, não conseguia, porque um nó em sua garganta se formava. "Tudo por um maldito acidente", pensava. 
— Por favor, Jimin... acorde logo — sussurrou. Os médicos não tinham previsão de quando o rapaz despertaria, o que deixava todos mais angustiados. Ele havia perdido muito sangue da cabeça pela batida, a qual ninguém entendia como acontecera. — Eu… — Foi interrompido por alguns toques na porta e, ao se virar, viu a senhora Park.
— TaeTae? — chamou, este a fitou, e ela sorriu fraco, como todos os dias desde que os dois se encontravam ali. A mulher ficava no período da manhã; Taehyung, no da tarde. E, quando ele não podia, o pai de Jimin ia. Porém, naquela manhã, conseguiu matar uma aula e decidiu ficar no hospital. Seu amigo recebia muitas visitas: o pessoal do clube de dança; alguns da escola, como Mark e Youngjae; familiares.
Senhora Park já havia sofrido muitas coisas e, agora, mais uma com seu filho. Isso não era, nem um pouco, legal. Ela estava abatida aos olhos do Kim mais novo. Taehyung olhou para o menino desacordado e beijou sua mão, distanciando-se dele e indo até a porta. Fez uma reverência à senhora Park.
— Como está, querido? — perguntou, acariciando o braço do acastanhado alto.
— Bem — disse, simplista. Não estava falando a verdade, mas, se olhasse ao seu redor, tinha pessoas piores. Até mesmo a senhora à sua frente. Então optou por dizer isso. — Estou indo como todos aqui... Só não sei 'pra onde. — Senhora Park assentiu.
— Vá se alimentar, uh? Não quero você mal. — Aconselhou, feito mãe coruja, fazendo-o assentir. No final do corredor, encontrou Hoseok, que o esperava com uma mochila nas costas. "Devia ter vindo da escola", pensou Taehyung. Em sua mão esquerda, havia uma sacola, e, pela transparência do plástico branco, mostrava ter algumas coisas para comer. O Jung vestia um jeans, uma jaqueta e uma camiseta preta da banda The Neighbourhood.
— Senti sua falta — Hoseok sussurrou após seu namorado ter se aproximado o bastante para escutar. Já havia se tornado rotina o Kim dormir na casa do Jung e vice-versa, enquanto seus sogros viajavam, então estavam mais grudados que antes. No entanto, por algum motivo, Taehyung pediu para passar a última noite em casa. Até perguntou se ele queria companhia, e o mais novo negou.
O Kim passou os braços pelo pescoço dele e o beijou, sentindo o gosto daquelas "Mentos" coloridas, as quais Hoseok sempre gostava de comer. Não intensificou o ósculo, estavam em um hospital e, por mais que quisessem ser aceitos na sociedade, sem algum preconceito, não era assim que iam mudar algo; e não se importavam com isso. Então apenas desgrudou as bocas, encarou os olhos castanhos do ruivo e sorriu. Simplesmente, sorriu para o namorado. Particularmente, nas últimas semanas, somente o Jung tirava um riso quadrado e sincero de Taehyung.
— Também senti — cochichou, fazendo Hoseok rir, bobo.
— Vamos comer? — perguntou, segurando-o pela cintura.
— Oh, meu Deus! — Alguém com a voz familiar exclamou, mas, pelo som abafado, não conseguiram identificar quem. A porta do quarto de Jimin foi aberta, e uma enfermeira se aproximou. — Ele acordou! — afirmou a senhora Park, emocionada. — Meu filho acordou! — O médico que cuidava do caso do Park apareceu e adentrou a sala, com alguns enfermeiros, enquanto a mãe do menino olhava para os lados, sorrindo, com os olhos cheios d'água.
Taehyung se aproximou da mulher, puxando seu namorado tão surpreso quanto si mesmo. Não acreditava no que estava acontecendo. Será que Jimin o escutou? Seus olhos brilhavam; um alívio percorria seu corpo; um sorriso estava estampado em seu rosto. Kim abraçou a senhora, comemorando.
— Ele acordou, Taehyung. Nosso ChimChim acordou — repetiu, embasbacada. O jovem apenas assentiu, ainda abraçado a ela, deixando lágrimas caírem em silêncio. — Meu anjinho acordou, abriu os olhos e me chamou... — cantarolou, soltando o mais novo, que limpou o rosto com a palma da mão, vendo Hoseok guardar o celular e o abraçar forte.
— Jimin me ouviu, amor... — contou, com a voz abafada pela roupa do namorado.
(...)
Do outro lado da cidade, estava Jeon Jungkook no terraço da escola, naquele lugar onde Namjoon e Seokjin davam belos amassos. A primeira vez que subiu ao local ficou surpreso por não achar uma camisinha, já que seu amigo gostava de olhar vídeos educativos, e não se surpreenderia caso quisesse os praticar com o mais velho. Estava sentado, encarando os prédios e a paisagem urbana com o sol se formando. Era silencioso, afinal todos estavam em sala, estudando; apenas ele estava ali, matando aula.
Jungkook havia perdido o ânimo para estudar desde o acidente sofrido por Jimin. Não que colocasse a culpa no garoto, mas parecia uma parte sua vida ter morrido, ter sido desligada por um bom tempo. Não sorria mais, nem conversava muito. Podia, até, estar muito deprimido pelo amado, porém seu pai não se importava, apenas obrigava ao garoto ir à escola, dando o discurso de sempre: “devia se preocupar com o futuro”. E o homem, inclusive, estava certo.
Jungkook se pegou, outra vez, pensando em Jimin, em uma das lembranças que teve com este. Estavam em um parque de diversões, no verão passado; Jeon havia lhe convidado e o resto do pessoal, e, então, foram naquele carrinho de choque, no qual o Park dirigia, batia em outros carros e soltava gargalhadas tão boas de ouvir. Um aperto se fez no coração de jovem; um sentimento angustiante. Ele derramou uma lágrima e sentiu o celular vibrar.
“Por Deus, será que não posso ficar sozinho apenas um minuto?”, perguntou-se, tirando o celular do bolso. Colocou o código de acesso e abriu a mensagem de Jung Hoseok.
Jung Hoseok:
Jimin acordou. Jungkook, venha logo para o hospital.
Jeon saiu do seu chat e entrou novamente. Estava incrédulo; seu coração parecia ter parado de bater. Jimin havia, mesmo, acordado? Não era uma brincadeira?
Jeon Jungkook:
Está brincando? Porque, se estiver...
Jung Hoseok: 
Venha ver com os seus próprios olhos.
Fechou o chat e se levantou, puxando a mochila, colocando-a no ombro e saindo pela janela em direção ao estacionamento. No caminho, viu Namjoon adentrando a sala da diretora, então foi até a secretária — uma senhora de cabelo preso em um rabo de cavalo conhecida por si, pois ajudava com algumas madeiras na casa dela, porque seu pai trabalhava com isso.
— Ei, noona. Sabe o que o Namjoon-hyung está fazendo na sala da diretora? — perguntou, e ela assentiu.
— Parece que Park Jimin acabou de acordar do coma — contou baixinho, e o garoto saiu em direção à porta da sala na qual seu hyung entrou. — Ei, Jeon. Volte aqui. — Jungkook nem deu ouvidos à senhora, apenas adentrou a sala, fazendo uma reverência à diretora surpresa e a seu amigo ainda mais.
— Diretora, se a senhora me permitisse ir, com Namjoon, ver Jimin no hospital, ficaria muito grato. — O Kim, logo, deu um sorriso para o amigo.
— É, parece que Park acordou mesmo... — comentou. — Não acho que será uma boa ideia, vocês estão em período de aula. — Namjoon suspirou.
— Só preciso vê-lo — Jungkook disse, afoito, e, então, negou. — Nós precisamos. — Autocorrigiu sua frase ao ver o olhar do amigo e o sorrisinho o qual sabia muito bem do que se tratava.
A diretora suspirou, fitando os meninos por um bom tempo. Kim nunca dera trabalho; muito menos, Jeon.
— Se não chegarem até o horário da tarde, ligarei para os pais, ouviram? Estou confiando em vocês. — Os dois assentiram, sorrindo largamente, e caminharam para fora do lugar depois de fazerem reverência e agradecerem.
Davam passos largos até o estacionamento. Namjoon dirigiu até o hospital, feliz pelo amigo que batucava os dedos na coxa com ansiedade. Jungkook estava louco para ver Jimin.
Não ia muito ao hospital por conta do senhor Park e Taehyung, que insistiam em suspeitar do pobre Jeon. Ao chegarem lá, esperou na sala de visitas, enquanto Namjoon falava com a enfermeira. Logo, viu a senhora Park vindo do quarto de seu filho. Ela sorriu, fazendo o mais novo a retribuir e se aproximar.
— Ele está acordado? — perguntou, curioso, tanto que seus olhos brilhavam. A mulher assentiu, com as mãos entrelaçadas para frente.
Jeon nem perguntou se podia ver o Park, apenas desviou da mulher e foi em direção ao quarto, estava ansioso. Abriu a porta devagar e viu Jimin brincando com barra do lençol azul, o qual lhe tapava metade do corpo. Seu coração disparou e, por um momento, Jungkook pensou que ele ia sair pela boca. Adentrou a sala devagar, pegando a atenção de Jimin, que o olhou, surpreso.
— Ju-Jungkook? — chamou, gaguejando e franzindo o cenho. Sua memória ainda estava afetada pelo acidente; algumas coisas que estavam vindo à cabeça, como as lembranças de rostos de pessoas embaçados, ainda o confundiam, mas já podia lembrar de tudo sobre o Jeon.
Ou quase tudo.
— Kookie, fale alguma coisa.
Jungkook derramou algumas lágrimas e fungou, aproximando-se da cama. Sentia tanta falta de escutar seu hyung o chamando. Um alívio percorreu o seu corpo.
— Você finalmente acordou, Mochi — Jungkook disse em um fio de voz. — Estou tão feliz. — Aproximou-se do mais velho, que ergueu o braço não machucado, limpando suas lágrimas.
— Então não chore... Aigoo, está me assustando. O acidente foi tão grave assim? — perguntou, e, só depois que afastou a mão do rosto do jovem, Jungkook saiu de um transe. Sentir a mão pequena e macia do hyung era tão bom.
— Você não se lembra? — falou, franzindo o cenho.
— Não... Só lembro da aula de álgebra, e que ficamos no pátio conversando sobre... hum... Star Wars — disse, pensativo.
Jungkook o olhou, incrédulo. Aquilo fora há três meses, e ele se lembrava perfeitamente, porque tinha sido o dia em que explicara tudo sobre para seu hyung. Como assim este não se lembrava dos últimos acontecimentos?
— Se lembra de que mais? — questionou, curioso.
— Me lembro, também… — ficou um tanto quieto — das botas...
— Que botas?
— As botas da cor bege... Eu já as vi em algum lugar… Ai! — exclamou alto e colocou as mãos na cabeça, com uma expressão de dor. — A-ah! — gemeu, e Jungkook arregalou os olhos, assustado. — Kookie-ah — chamou, fechando as pálpebras com força. O Jeon segurou seus braços, desnorteado; não sabia o que fazer. — Dói… minha cabeça dói — choramingou, com lágrimas nos olhos.
— Alguém! — gritou Jungkook. — Por favor, alguém me ajude! — disse e apertou o botão ao lado da cama de Jimin para sinalizar emergência. A porta foi aberta rapidamente, revelando uma enfermeira.
— Calma — pediu, aproximando-se. Jungkook olhou para trás, vendo o médico de Jimin adentrar a sala, indo na direção deste, pronto para o examinar. Então se afastou, observando a cena.
— Jimin, vai ficar tudo bem. — O médico tranquilizou o jovem, que continuava com a cabeça abaixada e as mãos nela. — Fique calmo, iremos lhe ajudar. — A enfermeira de cabelo negro, preso em um coque, levou Jeon para fora e fechou a porta.
Tudo estava confuso. Não só na cabeça de Park Jimin, mas na de Jeon Jungkook também. Não entendia o porquê do garoto não se lembrar de um mês atrás, dos acontecimentos.
— Jungkook, está tudo bem? — A voz de Namjoon o fez sair dos pensamentos e olhar para o lado. Viu a senhora Park já ali, aflita, e seu hyung na ponta do corredor.
— Jimin sentiu dores na cabeça — contou baixinho.
— Mas ele está bem? — perguntou, preocupado.
— Eu não sei... — Suspirou, fazendo uma careta. — Jimin se lembra de coisas de três meses atrás, hyung. — Senhora Park franziu o cenho, encarando o garoto. A porta se abriu, e o médico saiu com a prancheta em mãos, junto à enfermeira que desviou rapidamente de todos.
— Doutor Song, o que aconteceu com o meu filho? — disse a mulher baixinha.
— Ele teve uma crise. Parece que o paciente teve uma perda de memória. Eu sinto muito.
— Como? — perguntou, confusa.
E, lá, foi Song Chinhwa explicar o que havia acontecido com o garoto Park. Ele tinha perdido a memória — mas não totalmente — e não se lembrava de coisas as quais aconteceram nos últimos meses; nem mesmo do dia do seu acidente. Chin avisou que poderia não ser permanente essa perda, e, no entanto, isso só seria concretizado com mais exames, pois Jimin se recordara de algumas coisas enquanto os fazia.
Depois de escutar a explicação, senhora Park quis o ver, mesmo sabendo que estava desacordado pelo remédio dado pela enfermeira. Namjoon chamou Jungkook em um canto.
— Preciso buscar Jin no aeroporto. Quer ir junto? — Jeon olhou para o quarto do Park e, então, para o amigo, pensando. Ficar ali o deixaria mais ansioso.
— Vamos.
(...)
Jackson estava sentado ao lado de Mark no banco da escola, marcava o pescoço do mais velho e acariciava os fios castanho-claros deste no intervalo. 
— Wang... melhor parar — sugeriu Mark, fechando os olhos e suspirando. Jackson e ele se pegavam há semanas, graças a uma festa que rolou na casa de JB. O mais novo se lembrava que havia salvado o Tuan de uma encrenca.
Lá, estavam eles, divertindo-se ao som de "Move" do cantor Taemin, a qual tocava alto na festa de JB. Havia muita gente, tanto conhecida quanto desconhecida do Jackson. Ele estava sentado — ou melhor, "jogado" — em um daqueles sofás da sala, perto da mesa de bebidas.
Mark se aproximou da mesa e pegou uma bebida de cor azulada e, quando se virou, trombou com um garoto alto do time de futebol. O Tuan deixou seu copo ser amassado pelo impacto e derramou um pouco do líquido na camisa do outro. Seus olhos se arregalaram e o garoto, o qual parecia ser mais forte que si, encarou-lhe.
— Olhe o que você fez! — exclamou, passando a mão pela camiseta.
— Me desculpe, eu não percebi... — O garoto o interrompeu.
— Não olha para onde anda? — perguntou, irritado. Dois meninos ficaram atrás dele. Eram aqueles mal encarados que só sabiam arrumar problema e fazer bullying com os outros.
— E-eu... — Mark gaguejou, claramente com medo de ser socado, coisa que nunca foi. Jackson, vendo a cena toda, observava o Tuan, o qual parecia nervoso. Então o moreno se levantou, largando o copo de vodca e indo até o acastanhado. Passou seu braço por cima dos ombros dele, enquanto este lhe olhou, incrédulo.
— Algum problema, Dong? — questionou ao garoto jogador de futebol. Era claro ter algum problema. Mark sujara a blusa de Dongsun e este não ia deixar barato se não fosse por Jackson. Ele sabia que o moreno lutava Taekwondo, portanto era mais ágil que o mais alto. Então negou, ainda fitando o Tuan, com os olhos negros e assustadores.
— Nenhum, Wang, nenhum — afirmou, saindo. Mark suspirou, aliviado, enquanto Jackson o observava e achava graça. Nunca tinha o visto desse jeito ou chegado perto dele.
— Por que fez isso? — perguntou Mark, confuso, afastando-se e ficando de frente para o outro.
— Queria ajudar... Você ia levar uma surra — contou, dando ombros. Mark olhou para o lado, vendo Dong se afastar e entrar em outro cômodo. Logo nem percebeu que Jackson o fitava como um predador, observava atentamente sua boca cheinha e vermelha, e pescoço, e, por fim, foi. 
— Você me deve uma — afirmou, fazendo Mark o olhar novamente, dessa vez, com a testa franzida.
Mal sabia que ia pagar o tal favor de uma maneira a qual gostaria.
— Você não gosta quando faço isso? — perguntou Jackson, cínico, dando mais selares molhados. Colocou a mão na coxa de Mark, acariciando.
Sabia muito bem que o rapaz adorava sua boca macia tocando a pele dourada, afinal Jackson tirava a sanidade do mais velho desde quando eram mais novos. Conheceram-se crianças, no ensino fundamental. O chinês — recém-mudado de Hong Kong — conseguiu fazer amizade com o Tuan e o Choi, os quais eram melhores amigos. A partir de então, passaram a ser um trio, contudo, no ensino médio, as coisas mudaram. O Wang passou a fazer mais esportes e se distanciar um pouco do dois. Continuavam a conversar, mas não como antes. Assim como Mark e Youngjae cresceram, o mais novo também, e foi quem mais chamou a atenção do primeiro por anos.
— Humm... — gemeu baixinho. — Jackson, aqui não. — Abriu os olhos que tinham fechado involuntariamente.
— Então vamos para um lugar mais reservado — sugeriu, sorrindo maliciosamente.
— Jackson Wang! — exclamou, envergonhado pelo convite. Seu celular vibrou, mostrando ser mensagem. 
TaeTae:
Mark, Jimin acordou :) 
A notícia se espalhava feito rastilho de pólvora.
Jackson leu a mensagem junto com Mark, e seus olhos brilharam, pois não havia esquecido Jimin, nem ao menos perdido aquela obsessão ridícula, que, na verdade, era atração física. Nada além de algo carnal.
Levantou-se rápido.
— Onde vai? — Mark perguntou.
— Ver Jimin, ora essa... Ele acordou — disse como se fosse óbvio, fazendo o sangue de Mark ferver.
— Qual é o seu problema? — perguntou, levantando-se.
— O quê? — Jackson parecia confuso.
— Até semanas atrás, nem se lembrava da existência de Park, e, agora, por ele ter acordado, vai correndo atrás... Como se não soubesse que Jimin é louco pelo Jungkook e vice-versa.
— O que é isso? — Jackson quis saber, segurando o riso debochado.
— É assim que você faz? Usa as pessoas e, depois, joga fora? — Mark estava enciumado, e, por um minuto, queria, até, Jimin voltando a ficar em coma.
Deus! Ele tinha pensamentos ruins assim desde quando?
Jackson o fazia mudar mesmo...
— Está com ciúmes, Tuan? — indagou, aproximando-se do mais velho, que cruzou os braços.
— E se eu estiver? — perguntou, encarando Jackson, que sorriu, passando a mão pelo queixo de Mark.
— Lembre que não temos algo um com outro. Estávamos, apenas, ficando — sussurrou, fazendo Mark sentir mais raiva de si, porque tinha algum sentimento por Jackson, este que se afastou, porém, enquanto caminhava, lembrou-se de algo e, logo, parou, virando para o outro.
— Depois do que Jeon fez, acho difícil Jimin o aceitar — confirmou, e Mark pensou:
"O que Jungkook havia feito? E como Jackson sabia?". Afinal ninguém sabia o motivo do acidente, e, até então, o Jeon e o Park estavam bem juntos.
(...)
— Está quieto, Kookie — comentou Namjoon, andando de um lado para o outro, nitidamente ansioso para ver o namorado.
— Só estou preocupado — Jungkook respondeu, ainda de cabeça baixa, sentado em uma daquelas poltronas do aeroporto.
— Com o quê?
— Jimin não se lembra dos últimos acontecimentos… — Refletiu. — Só de umas botas — disse, fazendo uma careta, como se aquilo fosse algo estranho, ou melhor, bizarro —, umas botas beges; e, depois, ficou mal...
— Talvez, sejam as botas de alguém que ajudou a trazê-lo ao hospital... — sugeriu Namjoon, olhando para o local de desembarque.
— Ele estava desacordado, hyung — constatou, levantando-se e ficando ao seu lado.
— Você até pode achar isso, mas estava nervoso, e, quando estamos nervosos, não prestamos atenção em muita coisa — explicou, e Jungkook tentou esquecer o assunto.
De longe, Seokjin vinha com a mala numa mão e o casaco na outra. Usava um jeans preto, uma camisa branca social e um blazer azul escuro; seu cabelo estava arrumado, sem perder o corte de sempre; e um sorriso largo estava exposto em seu rosto. Quando viu Namjoon, caminhou mais rápido e, logo, abraçou o namorado.
O mais novo sentiu falta do outro, afinal foram três meses sem se ver. Depois do acontecimento com o pequeno Park, os pais de Seokjin pensaram em pagar aquele curso de culinária na França, o qual tanto queria. Não eram egoístas a ponto de deixar o primogênito sem notícias do amigo, no entanto — ao ver o Kim tão desanimado e acabado por Jimin — tentaram animar o rapaz.
Seokjin sentiu o perfume do mais novo e, ainda de olhos fechados, suspirou, sentindo-se aliviado por estar em casa. Seu coração já estava aquecido.
— Senti tanto a sua falta, amor — Namjoon sussurrou com a voz rouca, fazendo o mais baixo se soltar dele e estremecer.
— Também senti a sua, Joon... — Eles se beijariam se não fosse por Jungkook ter pigarreado, e Seokjin ter se lembrado de onde estava.
— Tenho uma surpresa para você... — Namjoon soltou em um tom animado. Seokjin bateu os olhos em Jeon, que ficou meio receoso pela fitada do mais velho, mas, logo, fez uma reverência, e o cozinheiro também.
— Qual? — perguntou, ainda de frente para o moreno.
— Você vai ver — disse, puxando Jin pela mão e entrelaçando seus dedos.
(...)
Taehyung havia voltado ao hospital, e saber que, agora, podia conversar com seu hyung era uma ótima notícia. Deixou Hoseok sentado na sala de espera, ao lado de Yoongi, o qual — assim que recebeu a mensagem de Jungkook, explicando a novidade — foi ao local, à espera dos amigos.
— E como estão as coisas? Você e o Jung... andam conversando? — perguntou Jimin, vendo o amigo sentar na beirada da cama.
— Aham... ChimChim, a sua omma já conversou com você? — questionou, e ele negou.
— Ela precisa conversar? — Taehyung assentiu, em resposta ao garoto. — Todos estão me tratando estranho, até mesmo o Kookie — cochichou, fazendo o Kim franzir o cenho.
— Por que acha isso? — falou, querendo entender o que se passava ali, e como Kookie havia visto Jimin antes de si.
— Quando falei sobre... sobre o acidente, Jungkookie ficou estranho. Perguntou o que eu lembrava, e, logo depois, tive dores de cabeça muito fortes, então nem nos despedimos — contou meio tristonho.
— E o que você lembra?
— A última coisa? — disse, e o Kim assentiu, curioso.
— Botas beges. Eu sei, é estranho, mas... sabe aquelas, hum... Timberland que você vivia falando? Então, é a última coisa que lembro, e isso me dá medo... Lembrar me dá medo, e não sei o porquê exatamente. É bizarro — Taehyung arregalou os olhos como ao recordar de algo. 
Jungkook usava sempre botas Timberland. Ele sabia disso, porque observava na época a qual gostava do mais novo. Não se lembrava do que o Jeon usava no dia do acidente do Jimin, porém tinha quase certeza de suas suspeitas, desde o início, estarem certas.
Jungkook tentou matar seu amigo.
Tudo veio à sua cabeça, até mesmo a aposta ridícula de Jackson com o tal Jeon.
— Jimin, descanse... Eu vou... Preciso tomar uma água. — Taehyung não sabia esconder as coisas, e Park sabia muito bem. Olhou estranho para o amigo, contudo não insistiu em ter conhecimento do que estava acontecendo com ele.
Kim Taehyung saiu do quarto, desnorteado, pronto para matar Jungkook com as próprias mãos. Sentia raiva do Jeon e pena de Jimin, o garoto era apaixonado pelo mais novo. De longe, viu Hoseok apontar o dedo para a rua, na frente de Jackson. Caminhou duro e fechou os punhos.
— O que, diabos, está fazendo aqui? — perguntou alto, fazendo as enfermeiras da recepção o encararem.
— Vim ver o Park. Trouxe, até, flores. — Mostrou as petúnias em suas mãos, agrupadas em um bonito buquê. Taehyung arrancou, brutalmente, o ramalhete do outro, resultando em um franzir de testa deste.
— Eu entrego as flores. Park não está recebendo visitas — disse, ríspido.
— Mas você… — Hoseok interrompeu Jackson.
— Dê o fora, cara. Não ouviu o que o Tae disse? — perguntou, e Jackson bufou.
— Outra hora, eu venho — avisou, dando meia-volta e indo embora. Taehyung foi até uma enfermeira e lhe deu o buquê.
— Fique para você — disse, gentil, e Yoongi até ficou intrigado, indagando-se sobre o Kim não ter dupla personalidade.
Logo após a situação, Namjoon, Seokjin e Jungkook chegaram. O Kim mais velho matou a saudade da senhora Park, de Hoseok e, até, de Taehyung. E, quando este último botou os olhos no Jeon, grudou-o na parede rapidamente, assustando a todos.
“Ok. Agora, tenho certeza de que esse cara é bipolar”, Yoongi pensou.
— O que está fazendo aqui? — questionou, enquanto Namjoon e Hoseok tentavam o tirar de cima de Jungkook. — Veio ver o estrago que fez?
— Do que está falando? — Jungkook perguntou, confuso.
— Você não me engana, Jeon. Foi você. — Apertou mais forte o colarinho do mais novo, machucando-o. — Você tentou matá-lo. — Seus olhos mostravam ira até demais.
— TaeTae, tente se acalmar. Jungkook não fez nada. Foi um acidente — contou Hoseok, tentando segurar o namorado, sem sucesso.
— Eu sei sobre as botas. — Cuspiu as palavras, fazendo Jungkook ficar intrigado.
— O que sabe? — Perguntou.
— Sei que foi você. Tentou matá-lo pela aposta ridícula, Jeon. E, agora, eu vou te fazer pagar pelo que fez! — praticamente, gritou, e senhor Park ajudou a Hoseok e a Namjoon o segurarem e levarem para longe de Jungkook. — Me soltem! — ordenou, mas ninguém o obedeceu.
— Jungkook, melhor ir para casa — Senhora Park sugeriu, ainda no canto da sala.
— Eu não tenho culpa de que ele saiu da minha casa daquele jeito. Não sei por que Yoora estava lá. Não tentei matar ele — explicou, angustiado. Nunca tentaria matar o garoto por quem era apaixonado. Os Park o olharam como se fosse suspeito, culpado de algo. — Vocês têm de acreditar em mim.
— Melhor ir — disse senhor Park com seriedade.
— Quando Jimin sair daqui, ele vai para delegacia, prestar depoimento, e vai te colocar na cadeia — gritou.
— Senhor, aqui é um hospital. Não pode ficar gritando, temos pacientes — uma enfermeira avisou.
— Você tem algo para o acalmar? — Hoseok perguntou, enquanto Taehyung ainda encarava Jungkook.
— Fique longe do Jimin se não farei da sua vida um inferno, Jeon — resmungou Kim, mal sabendo que a vida do maknae já estava se tornando um caos.
— Vamos. Irei te levar para casa — Namjoon disse, puxando Jungkook pelo braço. — Eu já volto — avisou ao Seokjin, e saiu caminhando.
Logo após Taehyung ser acalmado, Suran apareceu; de cabelos soltos, uma saia preta rodada, meias, aqueles sapatinhos de boneca e, claro, uma camiseta de alguma banda de rock que gostava. Ela foi até a recepção, mas, quando encontrou Seokjin, sorriu, indo abraçá-lo, para a surpresa de todos e felicidade de Yoongi, já que encontrava a menina somente na escola.
— Meu Deus, você veio — afirmou, soltando a garota, que olhou para todos ali, até Yoongi, o qual estava (novamente) embasbacado consigo, mas, logo, desviou a visão para a ponta do corredor, onde estavam Hoseok e Taehyung, aos cochichos.
— Precisava de ver você, e me disseram que Jimin acordou.
— Oh, sim... Estamos felizes por isso — contou —, mas está complicado.
— Por quê? — perguntou, curiosa.
— Park perdeu a memória — Yoongi resmungou, recebendo o olhar da garota mais velha que si, e se ajeitou na cadeira.
— Meu Deus... Eu sinto muito — disse, olhando tristemente para Seokjin, que assentiu, dando um sorriso fraco, como se fosse um agradecimento.
No quarto de Park, estava sua mãe, dobrando algumas roupas.
— Omma, escutei as vozes do TaeTae e do Jungkook discutindo no corredor... O que aconteceu? — indagou, vendo sua mãe ficar meio receosa em responder.
— Eles só se desentenderam.
— Por quê? — perguntou, curioso.
— Filho, quando sair daqui, talvez, eu te conte. Agora, descanse, uh? Hoje foi um grande dia — disse, aproximando-se e dando um beijo em sua testa.
Yoongi tinha ido embora, pegara carona com Hoseok e Taehyung; Suran até pediu uma também. Seokjin ficou no hospital, enquanto Namjoon e Jungkook estavam quase no outro lado da cidade. 
Jeon, quando chegou em casa, não trocou palavra alguma com seu pai, muito menos deu satisfação sobre ter chegado tarde, apenas se trancou no quarto e, em um surto de raiva, jogou tudo para o alto, quebrando algumas coisas, e chorou. Chorou como um bebê. Agora que Jimin havia acordado, estava complicado para o ver, e, se os Park escutassem as suspeitas de Taehyung, seria proibido de ter contato o amado.
E lá estavam eles, separados novamente; e, talvez, dessa vez, injustamente...

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Então gostaram?
Correção feita pelo amor da minha vida @Koguinho pode entrar bb
Comentem e votem💞
Até mais, bjão da Pan☁

Last Memory | jjk + Pjm |Onde histórias criam vida. Descubra agora