Capítulo 8 - Gotas frescas na memória

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Quando amanheceu, Blue não havia conseguido dormir por causa das cenas da noite anterior. Alguém havia sido assassinado em sua casa, ele limpou a cena do crime e destruiu as provas. Era um cúmplice, um criminoso. Suas mãos estavam sujas com sangue inocente, sua consciência pesava com a culpa e a sensação de manter aquilo em silêncio. Sua mente vagava entre as possibilidades do que poderia acontecer caso isso viesse a público, e como isso poderia vir a acontecer, mas o seu momento de reflexão foi interrompido com a entrada de uma jovem ruiva de aparência abatida na cozinha. Sua irmã parecia que tinha saído de uma rinha de galo onde ela lutava contra os galos. Seus olhos enegrecidos por conta da maquiagem certamente borrada, a boca manchada por um vermelho que chegava ao queixo e ao nariz, seus cabelos estavam desmantelados e armados, seu esmalte parecia que foi tirado a base das ruidas assim como as suas unhas estavam ruidas. E o que falar de suas roupas? Amassadas, desgrenhadas e viradas ao contrário. Era uma visão decadente. Se a sua irmã parecia que tinha sido atropelada, sua mãe se esforçava para manter as boas aparências a pesar do estado em que ela tinha sido encontrada na noite passada, na noite do crime. Aquela manhã não podia ficar mais estranha.

— Papai não vira tomar café?

O som do pigarreio repentino de Nathalie surpreendeu até Sinthea que se encontrava quase dopada de sono. A matriarca limpou a garganta, suspirou brevemente e disse:

Seu pai... Seu pai teve que ir ao auxílio de um amigo antigo, alguém dos tempos antes dele sequer pensar em ter um futuro. Ele estava doente, beirando a morte pelo que me pareceu, e pediu ao seu pai para um último encontro para não ir sem a companhia do seu amigo de farra.

Blue sentia algo estranho no tom de voz de sua mãe, mas não questionou para não parecer evasivo. O quanto menos for perguntado naquela casa, melhor seria para a convivência de todos ali presentes.

Terminado seu café, Holly despediu-se de sua mãe com um suave beijo em sua bochecha e saiu de casa em direção a escola. Teria de voltar ao seu purgatório o quanto antes para não perder o primeiro turno de torturas com os rapazes mais velhos que instiam em se aproveitar da falta de força e massa corporal do menor. Se tiver sorte, eles iriam mudar de ideia e cuspir nas pessoas que estivessem entrado da janela do segundo andar. Vidro pequeno, mas a pontaria de um valentão ia além de qualquer limite. Seu caminho era sempre o mesmo, o diferencial de hoje é a ausência da chuva que o fez companhia logo no primeiro dia. Ausência da chuva e dele.

Como conhecia bem o bairro, sabia claramente que não estava longe de sua escola. A praça vazia a essa hora, apenas com os pombos bicando o chão atrás de alimento. A pequena padaria mais adiante do outro lado da rua, abrindo para todos que por ali passarem afim de pegar um café ou algo para comer a caminho de seus compromissos. A rua nunca fora muito movimentada, mesmo quando as portas abriam para revelar jovens e adultos saindo para seus afazeres diários. Alguns de carro, outros a pé, e também haviam os que esperavam o ônibus nos pontos debaixo das árvores.

Quando chegou na última esquina, deparou com uma figura conhecida escorada na lataria reluzente do veículo estacionado. Marcell parecia ainda mais belo com o brilho do Sol em seus cabelos claros bem penteados, sustentados por algum produto capilar. Era um jovem vaidoso, mas que tinha um grande apreço pela moda mais retrô. Nunca gostou de ostentar roupas ou acessórios, achava isso desnecessário e quase um pedido para ser assaltado. Seu estilo consistia em jeans e couro, apenas.

Pensei que a princesa nunca fosse chegar. Sabia, Cinderela, que o u uma hora acaba?

Revirando os olhos ao ouvir as palavras do rapaz, o moreno disse em tom irônico:

Nuvens de Algodão-Doce Cor-de-RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora