Por que não nasci pra ser pobre - Que o próximo ano seja prospero

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– Fim! – Eu termino a história sobe o olhar criterioso dos meus filhos. Eu sei que eles gostaram, mas Rafael com certeza encontraria defeitos. – O que acharam?

– Eu amei! – O grito de Helena foi resposta mais que suficiente. Ela sempre se empolga com os romances.

– Eu gostei... – eu o encaro 'preparada' para a crítica. – Mas a história está muito simples. Sinto que falta alguma coisa. – A pausa feita por meu filho mais velho, como se fosse pra causar suspense, me fez rir. – A questão é que a senhora já criou histórias melhores.

– Pois saiba meu querido – imitei sua pausa 'estratégica', – que esta história não é minha criação – a reação de Helena é apenas abrir a boca em um "O" perfeito. Soltei uma gargalhada. – Eu encontrei esse livro nas coisas do seu avô... Achei que seria legal recontar essa historia pra vocês. – Me lembro de como meu pai era aficionado por livros, e de como meu padrasto sempre o presenteava com um exemplar novo a cada natal.

– Eu ainda prefiro a história do ano passado – Rafael fala emburrado, me tirando dos meus devaneios. Eu apertei seu bico apenas para provoca-lo.

– Você nem se lembra de qual foi a história do ano passado! – Helena retruca indignada. Provavelmente essa é a sua nova 'história preferida'. – Essa é muito melhor – ela fala a palavra muito alongando a letra "u", como se assim fosse convencer o irmão. Eu apenas dou risada assistindo a conversa dos dois.

– Lembro sim! Foi a história do Soldado da Meia-Noite. – Rafael responde – Me lembro de que toda hora a mamãe interrompia a história pra dizer "fiquem atentas crianças, logo a meia-noite chegará!" – Rafael tinha uma boa memoria.

– E qual a cor da roupa que eu estava usando? – pergunto apenas para descontrair. Meus filhos sabiam a resposta.

– Amarelo! – os dois responderam juntos. – A mamãe só usa roupa amarela, no final do ano – Helena termina a resposta. – Igual à vovó!

Foi minha mãe que me passou as superstições do ano novo. Antes de meu pai estar viúvo, ela usava apenas vermelho no natal, e amarelo no réveillon. Foi ela também que me ensinou a contar histórias pras crianças, como uma forma de fazer o tempo passar mais rápido e ensinar lições valiosas.

– Meninos! Faltam dois minutos para a meia-noite! – meu marido fala, entrando na sala. Ele ama a queima de fogos. – Você está de amarelo outra vez? – ele pergunta, me olhando debochado.

– Claro meu amor! Nasci pra ser rica! – eu falo, pra em seguida cair na risada, acompanhada por meus filhos.

– Agradeça pai – Rafael começa –, pelo menos ela não está de vermelho – ele terrina com malicia, e eu solto uma gargalhada.

– Menino, me respeita, ou eu pego a cinta! – a resposta vem entre risadas. – Agora vamos! Todo mundo lá pra fora. Anda.

Olhei o quintal colorido, ainda enfeitado com as luzes de natal. Era assim todos os anos, e a cada novo ano eu me sentia mais feliz pela família que construí. Escuto a voz de Cleber – meu marido. Ele enfim começar a contagem regressiva. A cada número, uma memória vem à tona:

"10: O aniversário de treze anos de Rafael;

09: O dia em que Cleber trouxe um cachorro pra casa;

08: A alergia de Helena ficando pior, por que ela não queria desfazer o 'abraço' que deu no cachorro;

07: A morte do meu pai;

06: Meu aniversário de casamento;

05: A felicidade de Helena, durante sua festa de sete anos;

04: A primeira namorada de Rafael aparecendo em casa num domingo a tarde;

02: As nossas conversas durante o almoço;

01: O abraço coletivo que estou ganhando nesse momento."

Esse com certeza foi um ano incrível!

– Feliz ano novo mamãe! – A voz de Helena me faz parar de encarar os fogos queimando a noite, e encara-la.

– Feliz ano novo princesinha! - Eu respondo lhe dando outro braço. – Que o nosso ano seja cheio de paz e alegria.

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