Quando é pela felicidade, deixa de ser fuga...

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No salão principal – onde acontecia o baile –, Elias estava se posicionando para a cerimônia que tornaria oficial o seu casamento. Mas sua cabeça estava apenas no garoto do estabulo. Eduardo... Não deixou de pensar no rapaz por um momento sequer. Seria paixão a primeira vista? Ele não saberia dizer. Apenas queria encontra-lo de novo.

Eduardo estava no grande salão, aproveitando a oportunidade de participar de um baile, mesmo não estando arrumado pra isso. Ele sabia que só teria outra chance na primavera seguinte, então tudo que pode fazer foi encontrar uma forma de se banhar, assim como seus irmãos. Uma garota de dezesseis anos jamais aceitaria estar em um baile cheirando à 'trabalho'. Essa era Ellen, vaidosa como a mãe.

O plebeu bailava com sua irmã, quando o rei pronunciou-se, anunciando o início da cerimônia. E naquele momento sentiu o coração pesar. Ele havia descoberto um novo lado na personalidade do nobre, que o deixara encantado. Nunca na história daquele reino houve um rei que desejasse ser bom. Todos eram tiranos e carrascos. Mas Elias parecia disposto a mudar isso.

Eduardo apenas conseguia pensar na voz do príncipe, e no quanto queria conversar com ele outra vez. Estava apaixonado, e não podia acreditar naquilo. Afinal, quando um nobre olharia com amor para um plebeu? Elias tinha tudo o que Eduardo precisava, mas o plebeu não tinha nada pra dar ao príncipe. Era nisso que o rapaz acreditava e o príncipe discordava.

Elias acreditava que tudo o que precisava, era receber o mesmo amor que Eduardo recebera. E sabia que somente o plebeu poderia lhe dar isso. Elias sempre esteve cercado com o luxo que seu castelo permitia, mas nunca teve a grandeza que o amor oferecia.

Sentia que nunca foi amado verdadeiramente, nem mesmo pelos pais. Mas enfim havia encontrado o que tanto buscava. Esse sentimento que o aquecia, e que vinha de alguém que nunca imaginou: um camponês, que só tinha aquilo pra lhe oferecer. Amor. E o resto? De que importava? Se o amor era tudo que queria?

– Não posso me casar com Adeline – Elias dizia, consternado. – Estou apaixonado por outro, e não vou abrir mão desse amor.

Num ato inesperado, o príncipe desceu do pequeno altar onde estava acompanhado pela moça, caminhando apressadamente pelo salão. procura de Eduardo.

O príncipe pensava que a notícia causaria alvoroço, e obteve a confirmação ao tentar atravessar o salão, onde os súditos aguardavam o início da cerimônia. O povo estava em choque, mas ele sabia que logo mais deixariam isso de lado.

As pessoas estavam à espera para saírem para começarem a acender suas lanternas de papel, fazendo-as queimar à noite em celebração ao ano novo. Para começarem o rito anual, do lado de fora do castelo.

Esforçou-se ainda mais em sua busca, decidindo procurar no pátio externo onde as pessoas soltariam suas luzes. E foi assim que o encontrou. Ao lado dos irmãos, com sua pequena lanterna em mãos... Eduardo havia saído para o lado de fora, pois não aguentaria ver o príncipe se casar com os sentimentos confusos que escondia retumbando e machucando o peito.

A lua estava alta, e todos sabiam que aquele era o momento da troca das estações. Não havia relógio marcando a meia-noite. Mas havia uma lua, mostrando o tempo certo para o começo de uma nova época. De uma nova fase para o povo.

O Baile da Primavera era um evento anual, que celebrava a chegada de um novo ano, que se iniciava com a primavera. Não havia fogos, tampouco contagem regressiva. Mas havia festa, cultos e superstições, que o povo levava à risca. A mais conhecida e praticada entre as crendices, era a Lanterna de Papel.

Lanternas de papel, sempre significaram o inicio de uma nova fase. Sempre marcaram a prosperidade e realização para a estação seguinte. E para aquele povo, toda vez que a primavera chegava, um novo ano vinha com ela. O desejo de fazer do novo ano, tão abençoado quanto o anterior levava as pessoas a acenderem grandes e coloridas lanternas de papel, soltando-as no momento em que a lua atingisse seu ponto mais alto.

Era um lindo espetáculo. E todas as pessoas se encantavam ao ver o céu forrado com as lanternas, cujo brilho era facilmente confundido com o das estrelas. Para todos era o início de uma nova jornada. Para Eduardo não era diferente. Até aquele momento... Sentiu dois braços o envolverem, e assustou-se quando encontrou príncipe Elias a lhe abraçar.

– Majestade? – a surpresa na voz era palpável.

– Elias. Me chame pelo nome – príncipe mantinha Eduardo em seu aperto. – Sinto algo forte por você, e por isso renunciei meu casamento pra ficarmos juntos! Diga-me que também sente o mesmo? – a esperança na voz do príncipe fez Eduardo corar levemente.

- Eu... – hesitou por um momento, não sabendo como agir. Decidiu falar a verdade. – Sinto!

O sorriso que recebeu foi largo, enquanto o abraço ficava ainda mais apertado. Juntos, olhara para o céu, observando as primeiras lanternas flutuarem brilhantes.

– Nosso caminho não será fácil meu amor – Elias começou a dizer. – Teremos que estar sempre unidos para vencer nossas batalhas. – Ele encarava o plebeu com devoção, notando sua beleza em olhos claros e uma barba espessa. – Você está disposto a caminhar comigo?

– Sempre! – a resposta foi imediata. Eduardo não tinha o que pensar. Ele queria Elias, e o príncipe lhe queria também. Era nisso que pensava, enquanto via o príncipe pegar sua lanterna e ascende-la, antes de tomar sua mão para que segurassem a lanterna juntos.

– Que nossa nova jornada seja abençoada – o príncipe começou, seguido pelo plebeu: – E que nunca nos falte o amor.

– Nunca! – Complementou Ellen, apertando a mão de Felipe, emocionada pela felicidade do irmão.

– Nunca! – Felipe reforçou, demonstrado que apoiaria o irmão em qualquer decisão.

Juntos, os quatro, felizes e unidos, deram um pequeno impulso para que a lanterna alcançasse os céus. Voltando seus olhares um para o outro, Eduardo e Elias, perdidos na imensidão do amor que sentiam. Sob a noite iluminada pelo brilho das lanternas, deram seu primeiro beijo de amor.

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