| Cap. II |

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Ouçam a música da multimídia.

×◇×

Puta.que.pariu.

Esse foi o primeiro pensamento que Bruna teve quando conheceu o tal garoto de olhos azuis. Quer dizer, a personificação da inocência e da doçura, comemorando por tê-la encontrado novamente no mesmo lugar da noite anterior.

Evan observava a garota de longe, esperando Mica aparecer, para contar a ela as novidades. O sorriso maldoso de sempre dominava seu rosto, enquanto ele apoiava o queixo em uma das mãos.

Enquanto isso, o Inocente permanecia sentado no banquinho ao lado do de Bruna, no bar.

- É muito bom te ver de novo. - ele disse, com sua voz baixa e tímida, porém sincera.

- Digo o mesmo... - ela se esforçou, mas havia esquecido o nome do garoto, nem mesmo sabia se ele havia dito - querido.

Ele sorriu de leve, os lábios rosados escondendo os dentes.

- Fico feliz, então. Porque ontem foi muito divertido, Bruna.

Ela olhou para trás, mostrando o dedo do meio para Evan, que nem se dera ao trabalho de esclarecer o que havia acontecido.

- É?

- Sim, nós... - ele pareceu ficar meio decepcionado, seu semblante mudando e seu pomo de Adão subindo e descendo, enquanto engolia em seco - Você não se lembra? Sei que estava um pouco alterada, mas achei que não fosse tanto assim.

Evan, seu fodido do caralho...

- É claro que...

De repente, ela sentiu duas mãos familiares apertarem seu ombro, enquanto a fala comumente descontraída de Evan iniciava.

- É claro que ela lembra, Alex. - ele destacou o nome do garoto propositalmente, e Bruna o gravou na mente - A dança de vocês foi inesquecível pra todo mundo aqui.

- É claro, como poderia esquecer?? - a garota afirmou logo em seguida, sua voz soando um tanto aguda.

O sorriso genuíno voltou ao rosto de Alex, iluminando-o por inteiro. Algo no interior dela se assentou, em alívio.

- Inclusive, ela me disse que gostaria de repetí-la. - continuou Evan.

- Bem... - Alex murmurou, baixando o olhar e depois pousando-o na cara vermelha (e de pau) da garota - eu também gostaria, na verdade.

- Então, vão. - em nem dois segundos, ele já estava empurrando-os para a pista, com uma pressa que nem mesmo o próprio entendia.

Bruna fez uma cara que facilmente derreteria o rosto de Evan com o calor do ódio. Mas ele não reparou, pois estava ocupado voltando ao trabalho.

Alex tomou-a pela mão, distraindo-a dos planos de como torturar seu amigo traíra.

- Você lembra dos passos?

Ela balançou a cabeça, para cima e para baixo, sem conseguir pronunciar mais mentiras em forma de palavras. Era estranho ela se sentir mal por mentir a um desconhecido. Fazia isso o tempo todo no café, inclusive. "A coxinha é de hoje, claro."

Para aquele garoto, nem esse tipo de mentirinha parecia que poderia contar.

Então, ele fez algo que ela não esperava: com uma firmeza surpreendente, segurou a lateral de sua cintura. Ao mesmo tempo, enlaçou os dedos nos seus e puxou-a para perto, deixando-a grudada ao seu corpo. Mesmo que fossem quase da mesma altura, quando ela encarou seus olhos azuis, sentiu-se idiota e infantil. As íris dele brilhavam como seu sorriso pequeno e inteligente, com um tom muito mais profundo do que o aguardado.

Bruna sentiu como se estivesse caminhando na beira do mar e, sem querer, ao cambalear um pouco para o lado, tivesse levado um banho de água fria, de uma onda inesperada. Água da mesma cor, no caso, que aqueles olhos.

- Mas... não íamos dançar na mesa? - ela perguntou, sem perceber que estava de queixo caído.

Ele riu, achando graça.

- Não, essa performance foi só sua. Minha participação ontem foi na única dança lenta da noite. - ainda sorrindo, puxou-a mais para perto e desviou o rosto, parando a boca a alguns centímetros da orelha dela e sussurrando - Deixamos todos arrepiados, não?

Ao mesmo tempo em que disse isso, a música suave que havia começado a tocar a pedido de Evan (em cuja qual Bruna nem sequer reparara), chegou ao refrão. Só aí ela reconheceu "Devil Eyes", uma de suas favoritas. Então, Alex reafirmou o aperto em sua cintura com os dedos e a rodopiou pela pista de cores psicodélicas, que reluziam em seu rosto pálido. Quem sofreu um arrepio que foi da cabeça aos pés, estremecendo principalmente na espinha, foi ela, naquele momento.

- Deixamos... - sussurrou de volta, meio perdida.

Alex voltou a se afastar um pouco, encarando o rosto rosado e os olhos verdes vívidos da garota. Até tentou, mas não conseguiu resistir ao impulso de empurrar para trás uma mecha do cabelo loiro que caíra nos olhos dela, os quais não saíam dos seus. O perfume dos fios chegou a ele, deixando o clima ainda mais utópico. Bruna não recuava nem agia, encarando-o de uma maneira que o capturava e virava sua mente do avesso.

Já ela, nem raciocinando, não se dava conta do que fazia. Sentia que seu cérebro havia se metamorfoseado numa bexiga furada, e que seus neurônios escapavam rapidamente pelo buraquinho. 

Tirara conclusões precipitadas, claramente. O garoto que lhe parecera tolo e apaixonadinho mais cedo agora se revelara muito mais misterioso e instigante. Ela teimava em imaginar como teria sido a noite anterior, o que poderia ter feito para fazê-lo querer revê-la... estremeceu outra vez, sem saber ao certo por qual razão.

Imaginara que o menino tinha olhos de anjo. Mas, pela maneira como a conduzia e viciava lentamente, percebeu que errara feio. Também existiam anjos no inferno, os quais eram feiticeiros muito mais convincentes. Alex tinha isso nos olhos, esse tipo de brilho. Ou, como dizia a música ambiente: tinha o diabo dentro deles.

Mal sabia a garota que, enquanto a música findava, ele refletia sobre coisas idênticas. Tão concentrados um no outro ficaram, nem perceberam a troca de som. E os assobios daqueles que, entretidos com o casal bom de dança, prestaram atenção.

- Meu Deus, eu não pisei no seu pé! - disse Bruna, incrédula, voltando à realidade e se afastando, colocando uma mão no rosto mais para disfarçar o vermelho nas bochechas.

Alex, piscando, sorriu de canto e colocou as mãos nos bolsos da calça (mãos que, agora Bruna sabia, tinham muito talento).

- Isso significa que fui um bom professor ontem.

Dessa vez, mesmo sem lembrar, a garota riu de verdade. Olhou em volta, procurando Evan e Mica, que também os observavam. Ambos os amigos fizeram gesto de positivo, embora Evan tenha completado com alguns um pouco menos comportados.

Bruna revirou os olhos, ignorando-o.

- Alex... isso foi muito bom, mesmo. - falou, sem jeito, sem saber como elogiar alguém praticamente desconhecido.

Espera aí, pensou. É isso que ele é: um praticamente desconhecido!!! Ela sentiu vontade de bater no próprio rosto, por ter sido idiota ao ponto de quase mergulhar de cabeça naquela "água" da qual não deveria beber.

- Concordo. - ele riu, alheio ao turbilhão em sua cabeça. Então, encarou-a diretamente, quase imobilizando-a no lugar somente com o movimento dos cílios longos e escuros - Nos veremos amanhã?

Bruna não soube o que dizer. O alarme de emergência em sua cabeça abafava qualquer racionalismo.

- Hã... acho que não, Alex. Sinto muito. - de repente, quase tão bruta quanto um soco no estômago, deu-lhe as costas e começou a caminhar para longe.

Tinha que sair dali antes de fazer alguma besteira, tipo se apaixonar.

- Ei, espera! - o garoto exclamou, obrigando-a a parar. Quando ela se virou, sentiu-se extremamente culpada - Posso ao menos pegar seu número?

Puta.que.pariu.

Foi esta a última coisa que pensou, antes de voltar para perto e passar-lhe o maldito número de telefone.

I Wanna Be Yours ✿Alex Lawther, Evan Peters✿Onde histórias criam vida. Descubra agora