| Cap. III |

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O barulho da corrente do balanço era irritante e agudo, mas mesmo assim Bruna continuava a se balançar, tentando ir cada vez mais alto.

- Olha, Alex, como eu sou mais habilidosa do que você. - falou, propositalmente, sorrindo ao comparar as alturas diferentes em que estavam.

- Não sou tão radical, confesso. - ele respondeu, sua risada sendo abafada pelo ruído suave dos grilos.

A noite estava fresca, na temperatura ideal para mangas longas não serem necessárias. Após caminharem pela rua, os dois haviam avistado um parquinho vazio, devido ao horário. Então, com sua imensa maturidade, pararam na hora e começaram a brincar.

Para quem não queria aproximações, Bruna estava indo muito mal, pois até descido nos escorregadores juntos eles tinham.

- Se você diminuir a velocidade, podemos pular juntos! Essa é minha proposta mais aventureira! - Alex exclamou, chamando a atenção dela outra vez.

- O quê?! - respondeu, quase alto demais - Mas eu nunca pulei de um balanço! Meus dotes físicos não são tão aperfeiçoados assim! Tenho certeza de que vou cair de cara.

Ele riu outra vez, esticando o braço para além da corrente, na direção da garota.

- É só me dar a mão que tudo ficará bem. No máximo, cairemos de cara juntos.

Mesmo que aquela proposta fosse ridícula, um sorriso surgiu no rosto dela. Por alguma razão idiota, aquelas palavras confortaram seu coração um pouco infantil.

- Tá bom. - murmurou, revirando os olhos e diminuindo o ritmo. Não demorou muito para que conseguisse alcançar a mão dele, e para que Alex afirmasse o aperto dos dedos nos dela.

Sentir o contato de sua mão quente era... divertido.

- No três. 1, 2, 3!

Bruna soltou a corrente do balanço, pulando ao mesmo tempo que Alex.

Ambos caíram de pé, mas a garota tropeçou em uma pedra e o derrubou no chão.

- Desculpe. - falou, sorrindo sem graça.

Era estranho pensar em como eles pareciam amigos de longa data, íntimos de certa forma. Conheciam-se há alguns dias, desde o cômico encontro na boate. Ainda assim, encontravam-se cada vez mais seguidamente, agora que possuíam os números um do outro.

- Não tem problema. - respondeu baixinho, o sorriso tímido e fofo de sempre dando às caras.

Bruna não sabia porque, mas aquele sorriso era simplesmente demais para ela aguentar. Tal detalhe, combinado à aparência impecável do menino, a deixava sem rumo.

Quando percebeu, estava com o rosto perigosamente próximo do dele. Recuou, mais do que depressa.

- Deixa eu te ajudar. - resmungou, pondo-se de pé e estendendo-lhe uma mão como oferta de ajuda, de maneira parecida a como ele próprio fizera há pouco.

- Ahh, por quê? Estava tão bom aqui no chão... - aquela era uma tentativa de piada.

- Andando sempre deitada para a vida não me derrubar, esse é meu lema. - retrucou a garota, sentindo um sorriso surgir em seu rosto também - Vamos, não vai morrer se aceitar minha ajuda.

Balançando a cabeça em rendição, Alex segurou sua mão e levantou-se. Novamente, agora de pé, ambos terminaram frente a frente, quase grudados.

- Eu... - Bruna sussurrou, nadando com força contra a correnteza de sua mente para não ser arrastada pelo oceano daquele olhar - você... quer tomar sorvete?

Já eram 21h da noite. Aquela, sem dúvidas, foi a desculpa mais esfarrapada e emergencial que a garota poderia ter escolhido, para que Alex se afastasse. Ele realmente o fez, no entanto, enfim soltando sua mão e arregalando os olhos.

- Quero. Mas duvido que haja alguma sorveteria aberta agora.

- Tem, sim. - ela respondeu, simplesmente.

Então, virou-se de costas e, sem razões aparentes, voltou a segurar a mão dele. Arrastou-o pela rua, só parando ao chegar em um posto com loja de convêniencia.

- Já tomou o sorvete de menta com chocolate? É muito bom.

- Não. Deixo você escolher... hoje.

A expressão da garota tornou-se maliciosa.

- Pretende tomar sorvete comigo mais vezes?

- Pretendo fazer muitas coisas com você, várias vezes. - respondeu, enigmático. Só então, percebeu o duplo sentido e tentou remediar - Quer dizer... não de maneira ruim, de maneira boa.

- Qualquer coisa com você deve ser boa. - Bruna respondeu, em um ímpeto.

A intensidade com que ele a encarou, a seguir, fez o coração dela acelerar. A garota pensou que teria um infarto a qualquer hora.

Por isso, começou a rir para disfarçar. 50% da risada foi puro nervosismo, mas ainda assim ele a acompanhou, acreditando que era uma brincadeira (mesmo com certa dose de decepção).

- Tô zoando, tô zoando. - ela falou, antes de se deslocar para o balcão do atendente.

Logo, ambos estavam sentados na calçada em frente ao posto, cada um com uma casquinha em mãos. Mas o clima permanecia igual ao de antes.

- Eu sempre fico pensando em como tudo é tão pouco, o tempo que temos é tão curto, em como qualquer momento pode ser o último. - Bruna observava o céu enquanto falava - Desculpe, comida me deixa viajante às vezes.

- Não, eu entendo. Estômago cheio causa reflexões. - ele disse, rindo. Então, tomou um pouco do sorvete - E, além disso, acho legais os seus pensamentos compartilhados.

Bruna o encarou, notando que o garoto havia sujado os lábios com o sorvete. Não conseguiu conter os pensamentos de anteriormente, que voltaram com tudo.

- Ah, é? Então, estou pensando se seu sorvete é diferente do meu. - ela sabia que o sabor era o mesmo, então isso era impossível. Mesmo assim, a curiosidade carimbava sua mente.

Alex afastou o cabelo, o sorriso se expandindo.

- Não sei. Pode provar, se quiser. - ele disse, divertindo-se.

Bruna queria. Por isso, o fez, simplesmente agarrando-o pela gola da camisa e puxando-o para um beijo.

Ele pareceu surpreso por meros instantes, antes de abraçar a cintura da garota com a mão livre.

Talvez, a curiosidade não fosse pelo sabor do sorvete, mas sim pelo sabor dos lábios do garoto, o que, ela poderia afirmar em breve, era muito melhor.

O próprio Alex, em tudo aquilo tão inesperado, encontrou uma alegria que não imaginava. Subiu uma das mãos para a nuca da garota, acariciando-a.

Com o arrepio que sofreu, foi que Bruna voltou ao mundo real. Arregalando os olhos, colocou as duas mãos no peito dele e o afastou, de supetão.

- Hã... - ele murmurou, sem chão. Não sabia o que fazer ou dizer, principalmente porque a culpa não fora sua.

- Tenho que ir. - a garota disparou, levantando-se e apressando-se para longe.

- Ei, espera! - ele exclamou, também saltando.

Porém, antes que pudesse impedi-la, ela já havia corrido para o U, único lugar em que pensou que pudesse achar um abrigo.

Na verdade, onde pensou que pudesse achar um esconderijo.

I Wanna Be Yours ✿Alex Lawther, Evan Peters✿Onde histórias criam vida. Descubra agora