Somos feitos de consequências

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" (...) Eu me apaixonei
Eu me apaixonei pela primeira vez
E desta vez, eu sei que é de verdade
Eu me apaixonei, sim
Deus sabe, Deus sabe, eu me apaixonei

É estranho, mas é verdade
Eu não consigo superar o jeito que você me ama
Mas eu tenho que ter certeza
Quando eu sair por aquela porta
Oh, como eu quero ser livre, baby
Oh, como eu quero ser livre
Oh, como eu quero me libertar "

°•°♤°•°

Donghyuck era tudo o que Mark ainda tinha. Como costumava dizer, era um perdedor; porque perdera muitas coisas importantes em sua vida curta. Com todas as forças queria mante-lo nela e isso acabou o tornando um perdedor também. Costumava se amaldiçoar por isso na maioria das vezes.

Mark muitas vezes sentia que vivia numa especie de tragedia grega. Passara então esperar seu fim trágico e dramático. Em contra partida ele não queria isso, pois tinha o Lee mais jovem consigo. Donghyuck acima de tudo era sua felicidade, era sua esperança.  

Eles não tinham uma historia muito romântica mas jamais chegariam a ser como Romeu e Julieta. Mark se orgulha por essa parte de sua vida não ser trágica quanto as outras. E tudo, é claro, graças Lee Donghyuck.

Ainda conseguia lembrar como se conheceram: numa tarde de verão - as cigarras cantando de fundo - e rodas de bicicleta rodando. Minhyung - como era chamado na época em que se mudara - amava andar de bicicleta com seu vizinho de porta durante tardes e tardes de verão afim. O Lee mais jovem gargalhava alto quando o vento forte lhe atingia no rosto. Naquela época Mark costumava a  manter sempre um sorriso bobo nos lábios por isso.  

No começo, Mark não queria se mudar. Tinha uma vida boa no Canadá e não entendeu por que tinha de ir justo para o outro lado do mundo longe de todos os seus amiguinhos - mais tarde se lembraria do motivo sombriamente. Fora uma viagem longa e cansativa mas enquanto o avião pousava e o pequeno Mark Lee via encantado o por do sol, se permitiu sorrir. Talvez aquele lugar não fosse tão ruim.

E de fato os primeiros anos não foram nada ruins. Mark e seus pais moravam numa casa bacana e sempre podia brincar com o garotinho da frente. As pessoas na sua nova escola também eram bem legais consigo e ele percebeu que não sentia tanta saudades assim do antigo país.

Quando tudo aconteceu, Minhyung quis desesperadamente voltar a ser criança. Odiou já ser crescido o bastante para entender. Passara o dia seguinte todinho na casa da frente, aninhado no colo de Donghyuck.

Não há caminhos longos para dizer o que aconteceu. Numa noite razoavelmente quente de outono, a mãe do canadense surtou ao pegar o marido com outro homem em sua cama. Depois disso ela nunca fora a mesma. O pai de Mark voltara para o Canadá com o amante e sua mãe permanecera ali. Agora tão diferente. O Lee ouvira tudo. Ouvira quando seu pai chegara acompanhado em casa - bêbado -, e ouvira o que eles pretendiam fazer. Ouvira a mãe chegar - silenciosa -, e ouvira quando começara a gritar. Ouvira tudo encolhido num canto to quarto, as mãos tapando os ouvidos, em vão.

Na manhã seguinte sua mãe queimara o colchão e quase botara fogo na casa. A senhora Lee correra até ele e o levou para sua casa. Chorara bastante, até se sentir desidratado o suficiente para não conseguir mais produzi-las.

Donghyuck também lembrava bem daquele dia. Na verdade preferia lembrar dos dias que antecederam aquele dia. Estava tão feliz que sentia que poderia morrer. Nunca pensaria que Minhyung pudesse retribuir seus sentimentos. Queria poder viver aqueles dias para sempre.

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