Leonardo pensou que era esperto. Esperto o bastante para usar sua reputação de bom garoto e indavir a sala do diretor. O problema é que ele foi pego e agora algumas pessoas duvidam da sua boa índole. Condenado a realizar serviços comunitários ao lad...
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Na manhã seguinte não havia assunto tão interessante quanto a invasão que acontecera dentro do colégio público Elliott Day. Alunos, de distintas séries tinham algo a acrescentar ou suspeitas a delatar. Caras grandalhões e rebeldes que sempre arrumavam um jeito de escapar das aulas pra fumarem nos banheiros ou debaixo das arquibancadas, tinham prioridade na lista de possíveis infratores. Leonardo praticamente suspirou em alívio ao constatar que ninguém sequer pensava na possibilidade dele ser o grande fator X que tantos tentavam encontrar.
"É loucura", disse Ronald mais uma vez, ao girar a combinação do seu armário e destrancá-lo. "Acho que nada tão legal aconteceu neste solo. O máximo que o Elliott Day tinha sofrido antes disso, foi o protesto incentivado por aquela nutricionista que veio fazer uma palestra na semana da saúde, se lembra? Alguns alunos atiraram caixinhas com suco industrializado por todo lugar."
"Uou, claro que me lembro. Aquela nutricionista saiu do inferno", Leonardo fechou seu armário armário. "Até parece que-"
O garoto não conseguiu completar a frase porque uma pessoa surgiu de repente no seu campo de visão, como se tivesse sido empurrada para cima dele. Alguns caras do futebol americano que estavam do lado oposto próximos às janelas começaram a gargalhar.
Era uma garota. Ela havia se chocado rapidamente contra seu peito, mas também havia se afastado agilmente, lhe dando um olhar feio.
"Para você, garoto Norris!" Noah, o garoto de jaqueta azul com listas brancas na manga bateu palmas comemorativas. "Vamos acabar com esse deserto! Nunca pegou ninguém, certo? Você e esse seu amiguinho cheio de peroba no rosto. Façam bom proveito meus nerds. Nem precisam me agradecer!"
Os caras começaram a se dispersar, sem parar de rir. Leonardo dividiu o olhar entre Ronald e a garota.
"Por que não se defendeu, seu imbecil?", vociferou ela, dando um súbito empurrão nele. "Vocês dois! Por acaso curtiram essa cena humilhante?"
Leonardo ficou surpreso. Não só porque a garota havia lhe empurrado, mas porque ela era um tanto familiar. Roupas surradas, cabelo com mechas rosas. Expressão fria.
Ela era a garota que estava brigando no dia anterior na delegacia.
"Eu ah-"
"Já descobri com quem eu não devo andar por aqui", murmurou com uma careta. "Não que eu precise de alguém para andar. Sei me virar muito bem sozinha", e deu as costas, caminhando em direção ao pátio. "Até nunca, panacas."
Leonardo olhou para Ronald. Ronald por sua vez levantou os ombros e fez uma careta.
"É cada cena louca que acontece nesses corredores."
***
Para Leonardo, as piores aulas eram aquelas feitas com Lizzie. Como os dois tinham a mesma idade e frequentavam o mesmo colégio, era inevitável que ficassem juntos em algumas aulas. A irmã fazia questão de sentar próximo ao irmão e sempre perguntar se ele estava prestando atenção no professor ou fazendo o que estava sendo pedido, mesmo ele sendo o primeiro aluno da turma.
"Leo, você entendeu o que ele quis dizer?", Lizzie apontou para a lousa cheia de anotações. "Adolf Hitler foi completamente terrível com o povo judeu, negro e homossexual, assim como você é com nossa mãe. Vai me contar por que vocês saíram ontem, depois do café da manhã? Mamãe não quis falar, mas estou começando a suspeitar de várias coisas."
"Não é da sua conta."
"Garoto, tudo o que envolve nossa mãe e a estabilidade emocional dela me interessa.", ela tirou um tubo de gloss da mochila e um espelhinho, começando a aplicá-lo. "Você não vai faze-la sofrer. Não mais do que ela sofreu quando nos teve."
"Ai, a sua mãe é tão incrível, Lizzie", comentou Hannah, a melhor amiga dela, sentada uma carteira atrás."Ter dois filhos de uma vez só na adolescência e se tornar uma mulher tão linda e poderosa! Quando crescer quero ser igual a ela."
"Bem, então essa é a hora de você tentar fazer os gêmeos", Leonardo brincou, mas nenhuma das garotas riu. Ele limpou a garganta. "Esquece."
"É impressão minha ou seu irmão sugeriu que eu fizesse sexo com ele?"
"Não", Lizzie fez uma careta. "É bom que você não tenha entendido também. Mas voltando ao assunto história, vocês não acham que Adolf Hitler foi um homem completamente louco? Ele queria ter uma raça completamente alemã, mas nem alemão nativo o ser humano era!"
"Eu nem sei do que você está falando", Hannah olhou para as unhas e assoprou-as como se tivesse acabado de aplicar esmalte. "Ei, você viu o novo videoclipe que as Spice Girls lançaram? Não para de passar na MTV!"
"Amo elas, mas no momento estou viciada nos Backstreet Boys. E na Shania Twain."
"Pensei que só vaqueiros gostassem da Shania Twain", Hannah provocou comprando uma briga com Lizzie. Leonardo se desligou daquela conversa, focando no professor que estava olhando feio na direção deles.
Era melhor se calar e continuar cumprindo com o papel de bom garoto que submeteu ser a vida toda.
