O sol estava relutante em se por naquela tarde, assim que saí do estúdio, ele ainda era visível no horizonte. Transformando aquela rua sem graça num belo retrato, digno de uma pintura. A forma como as cores se misturavam nesse fim de tarde era deslumbrante, e com uma vista dessas caminhei até em casa com um sorriso no rosto.
As minhas mãos copiavam a batida constante da música nova que John tinha escrito, era tão viciante. E eu me peguei a repetindo pela terceira vez naquele dia.
"Steve walks warily down the street"- sussurrei para mim mesmo a letra que Freddie havia cantado mais cedo, era realmente uma música muito grudenta-"The brim pulled way down low"-
Cheguei em casa pouco tempo depois, era um pequeno apartamento, mas grande o suficiente para que eu morasse sozinho. Tinha apenas 4 cômodos: cozinha, sala, quarto e banheiro. E a única coisa realmente boa naquele lugar inteiro era a cama, onde a magia acontece, se você sabe o que eu quero dizer.
Joguei as chaves na mesa ao lado da porta, fiz o caminho até a cozinha e peguei uma cerveja de dentro da geladeira.
"How do you think I'm gonna get along without you when you're gone"- cantei de repente a música de uma parte em particular que me veio à cabeça.
Tomei um gole da bebida e me joguei no sofá, e conforme eu relaxava, as memórias do dia vinham à tona. Outro dia de ensaio e as mesmas coisas se repetindo. As discussões sobre as letras, o stress da gravação, e o maldito perfeccionismo de Freddie. Cansei de contar quantas vezes joguei minhas baquetas na direção dele só essa semana.
As últimas semanas se tornaram uma rotina exaustiva, até porque estávamos próximos da data de lançamento do álbum, e poucas musicas estavam prontas.
Sei que eu precisava de uma folga, uma noite fora quem sabe, apenas uma noite com bebidas e algumas garotas. Seria o ideal. Mal tive tempo pra aproveitar as coisas que eu realmente gosto.
Fazem pelo menos duas semanas que eu não levava nenhuma garota pra casa e aquilo estava começando a me deixar nos nervos. Planejei ligar para alguma garota de noites passadas assim que terminasse minha cerveja.
E então meu telefone tocou em seguida, e me levantei para ir até onde ele estava. Assim que atendi pude reconhecer a voz do Brian do outro lado da linha.
"Posso dormir aí essa noite?"- perguntou, sua voz um pouco trêmula me deixou preocupado.
"Claro"- disse sem mesmo pensar duas vezes-"Mas, o que aconteceu?"- ouvi ele suspirar, e pude perceber que ele pensava se era adequado contar pelo telefone.
"Digo quando chegar aí"- Brian decidiu depois de poucos segundos-"Até depois"- eu disse o mesmo e ele desligou logo em seguida.
Eu sabia que ele chegaria e esclareceria tudo em alguns minutos, mas não pude evitar imaginar qual seria o motivo.
Fazem alguns dias que Brian tem agido de maneira estranha durante os ensaios e as gravações. Ele sempre parece fora de si, com a cabeça em outro lugar. Levou um bom tempo pra ele acertar as notas da música nova do John.
Ele não se abriu com ninguém, entretanto. Espero que ele se sinta confortável para fazer isso comigo hoje, para que a gente possa ajudá-lo. Eu realmente não gosto de ver ele assim, não combina nem um pouco com ele.
Eu estava quase dormindo novamente quando a campainha tocou, e eu pulei do sofá. Ele havia demorado muito mais do que eu previa, mas pelo menos estava aqui,
"Olá, Rog"- ele forçou um sorriso, seus olhos estavam vermelhos, e as bolsinha abaixo estavam inchadas. Era fato que ele havia chorado, meu coração partiu na mesma hora. Quem poderia machuca-lo? Pobre Brian-"Desculpe te incomodar"- acrescentou, me fazendo despertar do transe.
"Imagina, você não está"- abri caminho para que ele pudesse entrar, e assim ele o fez, um pouco cabisbaixo.
Ele se sentou no sofá, colocando uma bolsa no chão ao lado dos seus pés. Presumi que eu deveria me aproximar com cautela, então me sentei na frente dele. E coloquei um sorriso assegurador no rosto, e ele apenas forçou outro de volta pra mim.
"Quer conversar?"- perguntei um pouco nervoso de ver ele tão vulnerável.
"É só..."- limpou a garganta, sua voz já soando chorosa-"Christine"- disse o nome da esposa, meus olhos revirando automaticamente. Eu devia ter imaginado-"Acho que dessa vez acabou de verdade"- ele
"Oh Bri"- eu quase suspirei, me coloquei ao seu lado e o abracei. Ele chorou baixinho em meu ombro, mas eu não me importei. Tentei acalma-lo, fazendo carinho em seus cachos. Parecia ter funcionado, já que ele relaxou em meus braços.
Aquele foi um momento em que meu coração se aqueceu. E não sei explicar exatamente o por quê, talvez fosse só o fato de eu poder conforta-lo. Me fez sentir um pouco especial.
"Como você lida com isso?"- me perguntou repentinamente, e eu estava distraído demais observando ele pra sequer saber sobre o que ele estava falando.
"Com o que?"- perguntei de volta, e ele se sentou, se soltando de mim.
"Com os seus términos"- ele disse, olhando para mim, como se eu tivesse a solução para o coração partido.
"O que eu tenho mal posso considerar namoros"- sorri de lado, todas as garotas, não duravam sequer dois dias comigo. Eu sempre fui muito tranquilo em relação a isso, nunca procurei o amor da minha vida. Não acredito nisso-"Sabe como é, Brian"- ele apenas revirou os olhos quando eu disse.
"Voce sabe de quem eu to falando"- meu sorriso desapareceu na mesma hora, e acredito que ele se arrependeu de ter mencionado-"Eu só... você está tão bem agora. Queria saber como encarar tudo"- ele evitou contato visual enquanto se explicava.
Um pequeno aperto no meu coração tomou lugar conforme as dolorosas lembranças vinham a tona.
"Eu nunca superei"- minha voz tinha tomado um tom sério, e eu me vi pegando a cartela de cigarros da mesa, acendendo um em seguida-"Eu finjo"- draguei e soltei a fumaça no ar.
"Mas, vocês conversam direto, Rog"- ele me disse, como se eu não soubesse-"Você só age como se estivesse bem?"- perguntou, notavelmente incomodado pelo fato de eu estar fumando.
"Sim"- a resposta era curta, não tinha absolutamente nada a adicionar. Pois era exatamente o que eu fazia, convivia com o fato de que a mulher que eu amo, não me ama de volta.
"Desculpe"- ele notou que havia ultrapassado os limites-"Não devia ter perguntado"- pareceu ainda mais magoado, e eu não posso fazer isso com ele.
"Tá tudo bem"- garanti-"É só um assunto delicado"- expliquei, sentindo uma pontada de culpa pela grosseria-"Não me use como exemplo, você precisa seguir em frente de verdade"- o aconselhei, esperando que ele não ficasse no mesmo buraco que eu. Afinal, ele saiu de um casamento.
"Você ainda ama ela?"- me perguntou, fazendo com que eu soltasse um riso irônico. E com um triste sorriso no rosto, eu concordei.
"Com todo o meu maldito coração"-
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I Want It All • Maylor
General FictionRoger Taylor esconde seus sentimentos, um amor antigo e não correspondido é disfarçado por diversas noitadas com diferentes garotas. O que ele acredita ser impossível de superar, pode acontecer, e no caminho outra paixão surge. Por alguém que ele n...