Sou um amante febril. Carícias quentes nunca puderam faltar nos meus romances.
Agora estou com 15 anos. Me imagine. Loiro, olhos verdes, magro e de estatura mediana. Fiz uma tatuagem escondida do meu pai. Nas minhas costas está escrito, próxima à costela, "sinto a sua falta". Uma homenagem à minha mãe.
Vivi sozinho praticamente a minha vida toda, então a falta que o meu pai faz trabalhando o dia todo, voltado para casa só para dormir, não faz tanta diferença para mim.
Depois da morte da minha mãe, meu pai entrou numa depressão profunda, começou a beber, passando dias bêbado até dormir. Quase foi demitido por causa disso, mas acho que o chefe dele compreendeu a sua situação e deu um desconto para ele. As férias forçadas até que fizeram bem para o meu pai. Admitido que achei estranho acordar e ver o meu pai em casa. A presença dele causa uma sensação estranha em mim, como se meus demônios não se simpatizassem com os dele.
Um certo dia, meus amigos, eu adoraria poder apagar de minha história, mas não sei o que o meu pai diria.
Decidi ir nadar como qualquer adolescente normal num dia de calor. Coloquei a minha bermuda e fui para a piscina. Na volta, ao chegar em casa, o meu pai me olha de costas, e eu não percebi, e muito menos me lembra da tatuagem que havia feito há alguns meses já daquele dia. Então achei que não fosse nada, que não houvesse problema.
Quando saí do banho, encontro o meu pai no meu quarto me perguntando se eu era um vagabundo, se queria ser bandido e o que passava na minha cabeça. Questionou a educação que recebi dele e por aí vai. Percebi então o motivo. Falei que havia feito a tatuagem em homenagem à minha mãe, mas isso não diminuiu a ira dele.
Não me lembro dos detalhes, mas aquele punho fechado que encontrou a minha face ficará sempre na minha cabeça. Disse que era para eu me lembrar, porém eu só me lembro da violência que descarregara em mim.
A noite, enquanto dormia, ele acordou em meio a noite como se tivesse sido acordado por alguém. Olhou o corredor vazio banhado em sombras e escuridão, com um pequeno feixe de luz que tinha origem a janela da sala, outra que vinha por debaixo da porta de meu quarto, ambos eram a luz do luar. Olhava fixo para algo como se fosse uma pessoa à sua frente, olhava fixo o vazio da casa, encarando as sombras que o encaravam. Uma grande sombra deixava o ambiente mais negro do que já estava a cada momento que passava, como se andasse pela casa, deixando um rastro de trevas por ela.
Essa mórbida escuridão vinha em direção ao meu pai. Assustado, ele fechou a porta, mas, ao virar e olhar a janela para ver um pouco de luz, havia apenas um breu, como se a sombra de um grande homem parasse a centímetros de meu pai.
Como se alguém quisesse se vingar por mim, como se zelasse pela minha vida, segurança e futuro.
Não sei.
O que sei é que o meu pai acordou como se tivesse sem alma. Olhar fixo e sem emoções. Acordou assustado devido ao vulto que o visitara a noite. Não me atacou de modo algum, foi ate respeitoso. Diminuiu com a bebida também. Seja lá quem (ou o que) o visitou a noite, amansou o monstro que vivia nele.
Sei que é meu pai e que não merecia passar por esse medo, mas que ele ficou melhor, isso sou obrigado a admitir.
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Memórias de um psicopata
Misterio / SuspensoHistória sobre a vida de um garoto solitário.