Laranja e sua primavera

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O quanto eu puder

vou tentar alcançar

até o último dia de primavera

por você.

— Ele disse, para sua cor. 



Eu não culpo ninguém, já culpei muitos por problemas meus, problemas que minhas escolhas fizeram, e que, a única coisa que eu não consegui culpar, foi a mim mesmo.

Me tornei branco, ajoelhado na grama, repleto de cores ao redor. Seja das árvores em suas folhas banhadas no verde, em seus troncos marrons, as flores de uma palheta de um pintor confuso à que cor pintar as suas em sua tela. Cores que de mim desapareceram, e a única pergunta em minha mente era que, se de alguma forma, aquelas eram as minhas.


Era real?

Ou eu sou apenas um cara fictício naquele momento?

Eu...me tornei mesmo alguém sem cor?


O dia estava para nascer e, olhando para minhas próprias mãos, aquela minha palheta de cores se resumia em um branco sem graça. Poderia ser facilmente minha imaginação, ver o mundo em volta tão colorido e eu apenas com ela, já que sempre achei que branco era a cor inicial, a cor que você tem para pintar por cima dela com qualquer outra, mas...parecia que eu havia esquecido como. 

Coloquei minhas mãos sobre a grama, vendo minhas lágrimas escorrerem e caírem pouco a pouco.


A dor da perca

era um sentimento horrível.


Olhei para o horizonte e estiquei minha mão direita na tentativa de poder alcançar aquele laranja vivo, que forçava o sol a nascer, e no fim do dia daria lugar a noite escura e solitária, banhada pela luz branca e vibrante da lua. 

Gritei, com todo meu fôlego, um grito partindo do meu coração.


~°~

Memórias

2015


— Maninho, corra! — O vento batia sobre cada mecha de seu cabelo ruivo, que completava a beleza daquele pequeno ser com seu enorme sorriso estampado no rosto. — Se você não correr, nunca irá me alcançar!

— Espere... — Respirei fundo, passando a mão sobre a testa para aliviar o suor, me perguntando de onde ela conseguia tanta energia, ou se era apenas meu corpo reclamando do começo da vida dura da maior idade. — Eu já me sinto velho para isso, meu tempo de correr já passou.

Parou, com uma expressão de decepção.

— Você só está fazendo corpo mole. — Cruzou os braços. — Você prometeu!

— Tudo bem, tudo bem.

Vagamos por uma floresta densa, subindo cada vez mais. Podia ouvir a brisa do vento, sons distantes de animais em seu cotidiano. Não era ruim, só não estava preparado fisicamente para uma caminhada tão grande. Pediu simplesmente para a levar a um parque famoso na cidade antes do expediente, que mais lembrava uma reserva com trilhas, e então, inocentemente, achei não ter problema ir com a roupa social do novo trabalho de ajudante de escritório, que logo poderia proporcionar uma saída de todo aquele cubículo insuportável de problemas familiares.

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