Usarei o calor do verão
até o último dia
para aquecer
meu coração gélido e solitário.
— Ela disse, para sua cor.
As ondas são diferentes vistas da areia,
e de quando você está nelas, sentindo toda aquela força, o mar recuar e avançar.
De longe, aquele enorme azul, por mais que pareça grande e sempre em movimento, não importava as companhias que eu tinha do meu lado, o momento, o sentimento, o fato de ter sido um dia a coisa mais importante da minha vida, um meio de fuga de uma realidade monótona e vazia, não conseguia mais ouvir o chamado dele por mim.
Nada, só o barulho das ondas,
apenas isso.
Mas, por alguma razão, eu insistia em toda manhã ir ali, enfiar a prancha na areia e esperar.
Esperar, o que?
Uma onda perfeita, uma emoção repentina preencher meu corpo e alma e então dizer "preciso ir, está me chamando"? Uma idealização que eu mesma criei, esperando o mundo ter pena de mim e fazer acontecer, por eu mesma não conseguir mandar meu corpo ir até lá e fazer o que tem de ser feito.
Abracei minhas pernas, esperando.
A dor da perca
era um sentimento horrível.
Vinn sempre me fez olhar até para a beleza mais ridícula que o mundo poderia apresentar para um ser humano atento por elas. Cada coisa tem seu brilho próprio, um pequeno significado de existência para uns, grandes para outros.
Provavelmente, o que eu esperava era uma palheta de cores, cada cor significando algo, um sentimento, uma memória, qualquer coisa. Eu me sentia o próprio branco, esperando as ondas me sugarem, me pintarem e me devolverem para a areia. Levantei a cabeça, olhando para o mar e o sol, a grande bola de fogo, brilhar forte no céu em sua manhã, aquecendo a água, a areia, os corpos que aproveitavam o dia de praia, aquecer tudo, menos o meu coração. Ignorei por instantes todo o resto, focando apenas nisso e o mar.
Senhor Sol, você sempre esteve aí, me aquecendo todos os dias.
Porque não aquece mais meu coração?
Eu fiz...algo errado?
Você pediu para o mar... levar minhas cores?
Por favor, Senhor Sol, me devolva elas.
Eu podia facilmente me lembrar daquele dia, do dia que perdi minhas cores. O maldito dia que o Senhor Sol mandou o mar as levar, para pelo jeito, nunca mais voltarem.
~°~
Memórias.
2016.
— O sol está nos aquecendo, consegue sentir no seu coração? — perguntou para mim, sentado na prancha, com o balançar das ondas.
— O único aquecer que estou sentindo é minha pele queimar. — Ele riu. Sentada de pernas cruzadas sobre a minha, passei as mãos nos braços, qual o protetor solar não estava ajudando tanto quanto prometia na embalagem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cores e estações
Short StoryO vento não dita o destino, muito menos seus sentimentos, sua dor. Ele oferece um caminho, primeiro se encontre nas cores, faça uma delas parte de si, e então o deixe te levar como uma folha que acabou de cair em alguma estação. Instagram: @ceuchuv...