Termino de me vestir, calço uma sandália de salto fino e dou uma boa conferida no espelho. Não é por nada não, mas até que fiquei bonita. O vestido num tom bordô, bem marcado na cintura e soltinho até os joelhos me caiu bem. Valorizou inclusive os peitos que eu mal tenho. A mãe natureza não foi muito justa comigo nesse ponto. Em compensação, me deu um traseiro bacana.
Coloco algumas pulseiras, brinco com o babyliss me dando alguns cachos pelo menos por hoje e faço uma maquiagem leve para arrematar o visual. Termino com um pouco de perfume e... voilà, estou pronta para a ceia de Natal!
À medida em que desço a escada, escuto o rei Roberto Carlos cantando Emoções na televisão. Mais um ano, mais um especial na Globo, mais um descongelamento efetuado com sucesso.
Minha tia Rosa já está pra lá de Bagdá, uma latinha de cerveja na mão, o rosto corado e conversando animadamente com o marido, meu tio Antônio, e minha outra tia, Verônica, enquanto o marido desta, o tio Arnaldo, fuma na varanda. Espremidos no sofá, meus primos Amanda, Beatriz e Rodrigo — todos um pouco mais velhos do que eu — mexem no celular.
Estico a cabeça e dou uma espiada na cozinha. Meus pais estão lá, terminando os pratos da ceia que começará em poucos minutos.
Ansiosa, olho para o celular, mas não há nenhuma mensagem de Daniel. Uma pontinha de medo me assombra. E se ele tiver desistido porque ficou magoado?
Respiro fundo e tento pensar positivo. Ele pode não ter gostado do que eu falei sobre o dinheiro, mas tenho certeza que não vai dar para trás. Apesar de conhecê-lo há pouco tempo, confio na sua palavra.
Para me distrair, vou até a cozinha para buscar os pratos e ajeitar tudo na mesa da sala. Assim que meu pai me vê, abre um sorriso e dispara:
— E o Daniel? Vem ou não?
Sorrio amarelo enquanto minhas mãos suam um pouco.
— Claro que ele vem. E está ansiosíssimo para conhecer os sogrinhos.
Minha mãe me lança um olhar divertido, porém dá uma alfinetada:
— Eu acho tão injusto não termos conhecido ele ainda. Vamos ter que dividi-lo com todo mundo agora...
— A gente está junto há pouco tempo, mãezinha. E com a correria do Natal, ficou complicado para o meu príncipe passar aqui antes.
Pego o arroz à grega — sem uva passa, por favor! — e levo para a sala. Coloco a travessa no centro da mesa e retorno para buscar a farofa, o salpicão, o vinho, refrigerante e suco. Meu pai se encarrega do peru e minha mãe do tender.
— Os pais dele não acharam ruim passarem o Natal longe do filho? — minha mãe questiona em dado momento.
— Eles são divorciados e não ligam muito para as festas de fim de ano. Daniel vai almoçar com a mãe amanhã e combinou de passar a virada do ano com o pai e a irmã mais velha. Nada de muito especial, segundo ele.
Quando vou voltar para a cozinha, a fim de checar se a sobremesa na geladeira está ficando com uma cara boa, dou de cara com o tio Antônio. Ele aperta minha bochecha e ri ao perguntar:
— E os namoradinhos?
Reviro os olhos e sinto meu sangue ferver nas veias. Parece que a pergunta é mesmo uma tradição e não tem jeito de escapar dela. Entretanto, esse ano, tenho uma resposta na ponta da língua e não perco tempo em dizê-la com orgulho:
— O namoradinho já está chegando, tio. O senhor não viu minha declaração de amor no grupo da família?
Seu sorriso se esvai. Desaparece por fim. Vitoriosa, arqueio as sobrancelhas esperando que ele diga alguma coisa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
E os namoradinhos?
HumorCansada de ouvir a mesma pergunta dos parentes em todo Natal, Marina resolve tomar uma medida drástica esse ano. Ela precisa de um rapaz para se passar por seu namoradinho durante a ceia. Com a ajuda de um amigo, acaba encontrando esse rapaz na figu...