O dia amanhece calmo, porém nublado. Não podia esperar um dia perfeito de conto de fadas, nunca esperei por isso. Levanto-me da cama mais cedo do que todos, levanto ainda pensando que foi um sonho tudo, a história da minha vida, meus pais, tudo. Mas não, Continuo presa nesse lugar horroroso, que só da mais tristeza e escuridão.
Vou para o refeitório e encontro algumas pessoas, um menino que não olha para nada além do seu prato - o entendo, quando eu cheguei nesse lugar eu não olhava para nada, a não ser para dentro de mim e da minha escuridão - uma menina com a cara inchada de tanto chorar e um pequeno grupo que nutre uma conversa silenciosa.
Vou para a cantina e pego alguns ovos para mim, sento-me sozinha e isolada deles, já me acostumei a ficar sozinha nesse lugar, claro que as vezes com Katerine, ela torna isso daqui mais suportável.
Quando acabo de comer volto para o quarto e encontro Katherine agora sentada com uma expressão pensativa.
- O Que foi? - pergunto para ela sorrindo. - Depois que eu entrei aqui eu não sabia mais como era sorrir, ou se senti alegre. Parecia tão distante para mim esse tipo de sensação, mas de algum modo Katherine trouxe isso de volta.
- Estou pensando em qual roupa você vai lá para fora. - diz ela agora sorrindo mais. Olho para ela com um olhar que diz: "Não faça isso garota".
Vou para o meu guarda roupas e encontro algumas peças já surradas para uso.
- Não se preocupe com isso, não me importo, o que eu me importo realmente que vou poder sair daqui por pelo menos um dia. - em parte isso é verdade, mas em outras fico triste pois nem mesmo minha "tia" vem me visitar.
Não deveria pensar nisso, além do mais eu sempre fui só um fardo para as pessoas.
- Aaah, deixa de ser sem graça - ela se levanta e me puxa para o seu guarda roupa - você vai está linda.
Ela abre o seu guarda roupa para a imensidão de peças lá dentro, quando os pais dela a deixaram aqui, a deixaram com um ótimo estoque. Esses que são repostos a cada mês. - seria maldoso ficar com um sentimento maldoso por Katherine, mesmo que esse é apenas uma nesga de inveja. Mas é uma coisa que eu não posso evitar, e sou egoísta por isso.
- Eu não posso aceitar. - digo para ela me afastando.
Ela me puxa pelo braço.
- Pode sim, eu tenho muitas e que provavelmente nunca vou vestir isso tudo. E para que elas servem se eu não vou poder ajudar uma amiga com elas? - diz ela com o mesmo sorriso.
A abraço forte, em pensar que graças a ela eu nunca fiquei completamente sozinha, que ela alimenta uma pequena faísca de alegria dentro de mim, que sem ela não existiria a tempos. Me agarro a ela como se fosse minha ultima saída, minha oportunidade de deixar essa dor em meu peito de alguma forma.
- Está bem. - digo.
- Adoroo. - diz ela e começa a tirar várias roupas.
- Pera, tem que ser uma coisa que combine comigo. - digo um pouco nervosa, Não tenho um terço da beleza de Katherine.
- Todas essas roupas combinam com você, uma pessoa linda, inteligente, feliz. - diz ela olhando para mim. - Ela fala a ultima com olhos de suplica, querendo arrancar isso de mim, e por um minuto eu acredito nisso.
- Feliz eu não te prometo. - digo para ela desviando o olha para as paredes cruas do meu lado do quarto.
Se tirassem minha cama pareceria que eu nunca tinha existido ali, mas eu nunca tive vontade de personalizar isso, além do mais aqui nunca será o meu lar.
- Que não o que. - diz ela e arremessa um travesseiro em mim.
Arremesso de volta, e começamos a nossa brincadeira matinal. Acabamos as duas caídas rindo na cama. Passo os braços ao seu redor, esse momento sim cabe a palavra feliz.
- Muito obrigado, por tudo. - digo a ela mais uma vez.
- Obrigado por que sua louca? Obrigado a você por fazer companhia para essa doida de pedra., ficamos ali abraçadas com nossos pés para o alto, juntos. Com nossas meias horrorosas e iguais.
- As doidas de pedra mais lindas desse lugar. - digo para ela.
- Com toda certeza, mas agora venha.
Ela me mostra diversas roupas, mas que infelizmente ou são muito ousadas ou são muitos contidas. O tempo fez que eu não soubesse o que o meu corpo quer, o que o deixa bonito, o que o valoriza.
- Achei! - diz ela segurando um vestido leve e um pouco aberto nas pernas.
Ele é preto, um vestido boêmico floral, não é mais um vestido sem caimento, ela me entrega um lacinho vermelho.
- Adorei.- digo mal contento a minha empolgação. - me viro para ir me trocar, mas ela me impede.
- Ainda não! - diz ela empolgada e volta para o guarda roupas. Ela vasculha durante um tempo até soltar um som de contentamento. Ela trás uma sandália trançada preta, que o seu traçado vai até o tornozelo, é simplesmente o complemento perfeito para aquele vestido.
- Agora sim, diz ela me entregando, vai se trocar! - diz ela.
Vou para o pequeno banheiro compartilhado, mas que felizmente a essa hora da manhã está limpo. Me lavo e logo depois o visto, ele cai como uma pluma em mim. Ele combina perfeitamente com minha pele morena, os cachos dos meus cabelos caem como uma linda cascata sobre os meus ombros.
Nem me reconheço olhando para esse espelho, sorrio para mim mesma. É como se eu fosse normal! sorrio novamente olhando essa linda mulher, é como se eu fosse normal, uma simples pessoa visitando um paciente nesse lugar. Visto minhas sandálias e vou mostrar como ficou para Katherine.
Ela está na cama olhando para o teto e cantarolando a sua eterna melodia. Ela para quando me vê, se levanta em um pulo.
- Nossa! Você está linda. - diz ela cobrindo a boca com as mãos.
- Queria que você estivesse indo comigo. - digo olhando para o chão não consigo deixar de me sentir comovida.
- Não se preocupe, você já está sendo uma felicidade enorme para mim, e além do mais ainda vai demorar um pouco para eu sair. - diz ela ainda com o seu sorriso maravilhoso no rosto.
Ouço uma batida na porta. Celena aparece sorrindo.
- Hora de ir, e você caprichou - diz ela batendo palmas para mim, ela para ao meu lado com olhos brilhantes, espero que ela também esteja vendo a mesma pessoa que eu vi no espelho do pequeno banheiro.
- Katherine senhora Mathison está te esperando na ala B.
Olho para Katherine, ela vai para a terapia novamente. Dou mais uma abraço nela. Ela sussurra.
- Se divirta, e não pense muito. Só viva.
Diz ela e se vai. Fico sem entender direito o que ela quis dizer com isso.
- Vamos? - fala Celena.
Caminhamos pelo corredor de paredes brancas desgastadas, agora todos já estão acordados. Eu pareço uma celebridade que eles nunca viram. Me sinto desconfortável com todos esses olhares para mim. Sinto-me diferente, nunca sai sozinha, sinto que sou egoísta de deixar a unica pessoa que se importa comigo ali dentro.
Chegamos ao grande portão. Celena me entrega uma pequena bolsa.
- Aproveite seu dia, e não esqueça da confiança que estamos depositando em você. Você deve voltar até as sete está bem? - diz ela sorrindo.
- Sim. Obrigado.
Ela acena para o segurança que toma conta do portão. Ele abre os cadeados e a liberdade se abre para mim. Não espero nem um minuto só avanço para além, para longe desse lugar que sempre me assombrou.
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Mentes em caos
FantasyA mente pode causar diversos danos, mas o pior de tudo é quando pessoas resolvem controla-las. Em um universo aonde o véu da realidade e dos poderes não existe reside uma garota que não entende mais nada, nem se quer quem ela é. Morgan vive em uma c...