Capítulo 2: As Flores

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Acordo repentinamente com uma luz irregular em meu rosto, devo ter deixado a janela do meu quarto aberta, porque no dia anterior a única coisa que eu mais almejava era um banho quente e desabar na cama para nunca mais acordar. Mas acontece que eu acordei, e desse fato eu não podia contestar, deslizo minha mão para pegar o celular e quando ele toca, meu coração quase para, bom, pararia se eu tivesse sorte, mas eu não tenho. Era a Mônica me ligando, a minha confidente dos fracassos diários da minha vida.

— Ben? Aqui é a Mônica — Ela gritava, se esquecendo de que os celulares têm identificador de chamada desde... Desde quase sempre!? — Desculpe estar te ligando a essa hora da manhã, você provavelmente estava dormindo, mas eu preciso mesmo te contar o que aconteceu comigo nessa madrugada. Se lembra quando eu disse que iria sair neste domingo, então eu...

— Mônica, não estou entendendo nada — digo, observando sua óbvia voz bêbada do outro lado da linha.

— Eu posso dar uma passadinha na sua casa? Disse a minha mãe que estaria dormindo aí, e eu sempre cumpro com o que falo. Pelo menos quase sempre — Não podia acreditar no que ouvia.

— Céus Mônica, nós vamos trabalhar hoje e você já está bêbada?

— Chego aí em cinco minutos — E desliga na minha cara, me deixando com cara de tacho.

Mônica é a garota mais sortuda que eu conheço, e é por causa disso que nunca pude negar o fato de que sempre tive inveja dela, do seu jeito de ser, tão linda, com uma vida tão vibrante, com festas incríveis e pessoas sempre a desejando, com aquele corpo clichê e obvio que todos sempre adoram e que sempre as protagonistas de filmes clichês Hollywoodianos e atrizes de novela possuíam.

Sempre tinha alguém que enxergava algo nela, e tudo o que ela precisava fazer era escolher qual era o melhor pretendente. Consequências óbvias de que ela já possuiu vários admiradores secretos, namorados e alguns amantes ao longo de sua curta e clichê vida.

Sempre repudiei o clichê das coisas, talvez porque no fundo sempre quis fazer parte dessa anomalia, mas isso nunca aconteceu. Aprendi a conviver com alguns desses fatos da vida.

Levanto ainda meio sonolento tropeçando em alguns objetos pelo quarto, vou ao banheiro escovar os dentes e lavar meu rosto quando mamãe bloqueia minha passagem no corredor, levo outro susto.

— Você está bem, querido? Ontem você chegou todo ensopado da chuva e nem falou nada, fiquei preocupada — Ela me perguntou com um olhar triste, disse a ela que ira sair com a Mônica, quando na verdade iria ter um encontro proposital com um neurótico de signos preconceituoso, mas ela não precisava saber disso, mas agora olhando nos olhos dela sinto que deveria contar, mas mesmo assim eu minto.

— Estava cansado, só precisava dormir quando cheguei. Está tudo bem mamãe.

— Por que não voltou de ônibus? — Ela realmente não parecia convencida.

— Porque eu gosto da chuva — Disse, e entrei no banheiro.

Não podia contar a ela mais esse fracasso, ela já é preocupada o bastante para colocar mais preocupações em sua cabeça, no fim ela sabendo ou não, nunca iria mudar o fato das ocorrências, era melhor assim.

Mônica chegou uma hora e dezoito minutos depois, tropeçando nos degraus e batendo a cabeça com força na porta de entrada, ao menos ela parecia melhor do que aparentava estar quando no telefone.

— Vamos trabalhar daqui a algumas horas, então acho melhor você se recuperar, ou vai ter que ficar na sua casa — Eu disse, querendo parecer responsável.

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⏰ Last updated: Dec 26, 2018 ⏰

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Codinome Sofia - Murilo GodoiWhere stories live. Discover now