AS 6 TRIBOS

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A última sensação que ele havia sentido era o ar pressionando sua pele conforme ele ganhava velocidade.  Agora, podia sentir tudo e ao mesmo tempo nada.  Sentia uma dor aos seus pulmões forçarem a entrada de ar, mas ao mesmo tempo, sentia o ar.  O oxigênio.  Sua vida.  Estava vivo.  Era uma surpresa que ele nunca esperava receber - a surpresa de estar vivo.  E logo depois, sentia uma dor que quase o fazia desejar ter morrido.  Cada célula do seu corpo doía.  Até mesmo abrir seus olhos era dolorido e o fazia querer gritar.
A primeira imagem era um teto - parecia uma mistura de palha com ossos.  A primeira gota de suor escorria a testa do homem aparentemente deitado em uma maca.  Sim, estava deitado sob uma superfície claramente rochosa, mas embaixo do seu corpo, folhas amaciavam sua estadia - folhas com algum tipo de propriedade, que relaxavam bastante a dor das partes em que tocavam.
Ao virar seu rosto para o lado novamente, via uma moça - em seus 20 a 25 anos, era muito bela, olhos escuros como a noite, um cabelo cacheado preso no rabo de cavalo, a cor-de-pele escura.  Ela usava um tipo de manto tecido da pele de algum animal.  Mesmo assim, não fazendo a mínima ideia de como foi parar ali, ele tentava se mexer, sair da cama, mas quase nada.  Quase nada.  Sentia seus pés se moverem minimamente, seu tronco tentar levantar, mas nada significante.  A voz rouca da mulher ressoava em seus ouvidos, o esquerdo por sinal, parecia funcionar muito melhor.

  — Nem tente se mover. – Ela colocava algumas das mesmas folhas sobre seu peito; um alívio instantâneo, apesar de ainda não conseguir se mover direito.  — A queda que você sofreu quase te matou.  Era pra ter matado, você está vivo por algum... milagre, se acredita nesse tipo de coisa.  Mas ainda sim, você perdeu boa parte das suas coordenações motoras básicas, assim como alguns órgãos foram danificados...  A boa notícia é que não é permanente.

 — Ah... l-legal, eu acho.  Então em uma ou duas semanas já vai estar tudo bem né? 

  — Considerando os padrões de fisioterapia normal...  na melhor das hipóteses, 15 anos.

  
O QUÊ.  QUEM É VOCÊ, ALIAS? AONDE EU TÔ?

  — Certo, uma pergunta de cada vez....  Eu sou Ayana Zaila, da Tribo Ubuhlung.  Você está na Terra Sagrada Sesde Dier.  Sim, das 6 tribos que você, sua banda e as organizações solidárias organizaram um armísticio.

  
O-o que aconteceu....? 

  
Você foi raptado por terroristas.  Aparentemente, jogado de um desfiladeiro, por muita sorte, caiu num rio e sobreviveu.  Nós te achamos e, como um dever, cuidamos de você.  Você tem estado inconsciente por 2 semanas.  O mundo acha que você morreu, nós mantemos sua vida em segredo até que você acordasse.  Está livre para voltar.

  
Não, vocês fizeram o certo....  Eu não posso voltar, não como... Apollo.  O cara que fez isso comigo só... me mataria de novo.  E provavelmente todos ao meu redor.

 
É... você pode ficar, se quiser.  A tribo deve muito a você.

 — Que lugar é esse, afinal?... Tipo, de verdade.  Não parece nada com as fotos do Google.

 — Bem...  Sesde Dier realmente é uma terra fértil, igual a todos pensam.  Mas vai muito além disso.  Essa é a cidade subterrânea de Sesde Dier.  É um tesouro qual todas as seis tribos almejavam.  Não é nem de perto grande ou avançada quanto as cidades do seu país mas....  É rica na sua própria forma.  Mantemos em segredo para evitar que o mundo colocasse suas mãos sujas nesta terra sagrada, cultivada pelos nossos ancestrais, quando as 6 tribos eram só uma.  Existem muitas cicatrizes que o colonialismo europeu deixou no nosso povo que ainda não foram curadas.

 — ....Que incrível.  Eu provavelmente pediria para um tour pela cidade subterrânea, mas acho que vou simplesmente ter que esperar os 15 anos pra dar um passo.

  
Se serve, a cidade é bem simples, afinal, ainda somos o que vocês, americanos, chamam de "terceiro mundo".  Provavelmente se você visse, te lembraria das "favelas", as casas são bem juntas, pequenas, diferente dessas residências megalomaníacas do primeiro mundo.  Mas a terra é fértil, temos vegetais e flores únicas daqui.  Acho que o maior atrativo são as artes marciais, somos lutadores natos.  Falando nisso, talvez exista um jeito mais rápido de você recuperar suas habilidades motoras.

 — FALA.

  — Os chefes das tribos... todos são incríveis artistas marciais, possuem total controle sobre mente e corpo.  Eles poderiam te ajudar através de um treinamento muito rígido que poucos completaram...  Então, por mais que eu tenha vasta admiração por você, não sei se um americano conseguiria sobreviver até o final...

  — Em quanto tempo eu já poderia estar dançando novamente?

  — Na melhor das hipóteses, 7 meses.

   — EU TÔ DENTRO.  Me chama de Jackie Chan, gata.
 
    — Quem é Jackie Chan?

   — ... Ok, eu tenho a sensação que vou ensinar bastante coisa enquanto aprendo de vocês.  Chama os chefes da tribo, eu tô dentro.
 

 



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