A única pessoa que ainda conseguia ficar ao meu lado por mais de dez minutos sem que eu gritasse e expulsar do quarto era Jamile, eu ainda a ouvia e confiava nela também, não saía de casa, na verdade não saía nem do meu quarto, mesmo passando essa experiência eu não refletia nem me arrependia de nada que tinha feito nem fazia
Isis: Marta! Marta!
Marta: fale querida
Isis: pega minha agenda e liga pra um número que está grifado de preto, depois me passe o telefone e saia
Marta: está bem
Assim que ela me deu o telefone e saiu, comecei a falar com o médico responsável por acompanhar o quadro clínico de Fábio, ele recebia todos os meses uma boa quantia para mantê-lo em coma, ele podia ouvir, sentir mas não falar nem andar, nem esboçar nenhuma reação, sempre que possível eu ia visitá-lo, quando seus pais não estavam é claro, espetava agulhas nas pontas dos seus dedos e me divertia ao saber que sentia toda a dor mas não podia falar nada, assim como eu senti quando me vi desesperada sem saber o que fazer com a gravidez, mas como agora estava impossibilitada de fazer isso por estar cega, eu precisava me assegurar de que ele não teria melhora alguma nunca
Marta: Isis, tem um homem ai em baixo dizendo que precisa falar com você sobre uma pesquisa, eu expliquei sua situação mas ele insiste em falar com você
Isis: alguém te autorizou ficar passando meu relatório médico?
Marta: foi recomendado repouso
Isis: te pedi opinião?
Marta: (respira fundo)
Isis: velha intrometida, como ele se chama?
Marta: Gomes
Isis: me ajude a me vestir e a pentear meu cabelo, vou recebe-lo na biblioteca
depois que me arrumei Marta me ajudou a descer e fomos até a biblioteca, me sentei e mandei que saísse e fechasse a porta
Gomes: boa tarde, soube o que houve e sinto muito por sua visão
Isis: veio pra me dar as condolências ou me informar sobre o que te mandei? (tom irônico)
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Gomes: a empresa que me mandou representar está mais que endividada, o valor ultrapassa as ações majoritárias, resumindo......não há como quitar esse débito e você pode tomar tanto a empresa como a mansão
Isis: (sorrir) excelente, essa informação me deu um ânimo, marque uma reunião com o dono e me informe o dia e a hora, vou falar com meu advogado
Gomes: sim senhora, até mais
É uma pena que não vou poder ver a cara de Patrícia quando eu tomar a empresa de seu pai e a sua casa, vou deixar sua família na mais completa ruína, assim que Gomes foi embora mandei Marta ligar pra Sérgio e pedir que fosse lá em casa quando saísse da empresa, ele chegou junto com Ricardo
Sérgio: pois não Isis, em que posso ajudar?
Isis: preciso que me acompanhe a uma reunião pra resolver a quitação de alguns débitos com uma empresa
Sérgio: a Cromus?
Isis: essa mesma
Ricardo: pretende negociar a dívida?
Isis: é lógico que não, vou assumir o empreendimento e a mansão também
Ricardo: mas......pra que quer essa empresa, não tem nada haver com o nosso ramo de negócios
Sérgio: Ricardo tem razão Isis
Isis: pensando melhor......vou desativar ela e por o prédio a baixo, a mansão também, depois resolvo o que faço
Ricardo: por acaso ficou doida?
Isis: não, fiquei cega
Ricardo: e nem assim consegue ter um pingo de compaixão dos outros? Isis estamos falando de um homem que é pai de família e vai ficar sem nem um centavo
Isis: era pra eu chorar?(tom irônico) talvez se colocar um fundo musical funcione
Ricardo: já não basta ter ido até a igreja e ameaçado o pastor querendo demolir a igreja, agora quer desgraçar outra família além das milhares que já desabrigou
Isis: Se quiser me pintar como o demônio tudo bem, mas não fui eu que mandei aquele burro se endividar, também não tenho obrigação de fornecer abrigo pra um bando de desocupados, isso é obrigação do governo, eles que vão choramingar na porta do prefeito, enquanto aquele pastorzinho de quinta ele não perde por esperar
Ricardo: precisa procurar ajuda, não está batendo bem da cabeça
Isis: e você é um imbecil sentimentalista, não me amole e vê se não nos deixa na miséria com esse seu coração de manteiga
mesmo me batendo e tropeçando nas coisas, fui pro meu quarto satisfeita e ansiosa pra por abaixo tanto a casa quanto a empresa do pai de Patrícia, por isso se diz que a vingança é um prato que se come frio
