Capítulo um

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Quarta-feira, 06 de janeiro de 1943.

Aquele aniversário estava começando bem para Im Jaebum, muito bem. Ás sete horas em ponto acordou e foi tomar um banho, ou tentar se limpar com o pouco de água que tinha naquele esconderijo. Após um banho gelado e de certo modo, esclarecedor, gastou um pouco de sua manhã colocando comida para sua gatinha, Nora, e também preparando algo para si, mas ele estava ansioso o suficiente para sentir vontade de vomitar a comida que havia acabado de ingerir.

Sua cabeça estava a mil e seus olhos não saiam do relógio pendurado na parede, suja e desgastada de madeira. O ponteiro maior parecia seguir o ritmo de seu coração e se movimentava rapidamente, não demorando a fazer a volta completa por todos os números e, isso, o deixava cada vez mais próximo da maior confusão que já decidira se envolver.

_Se o appa não conseguir voltar para casa, você sabe bem como se virar para viver, não é? – Perguntou para Nora que se esfregava em sua panturrilha miando alto, provavelmente querendo mais comida. Jaebum estava ficando sem dinheiro para comprar alimentos para si mesmo, quem lhe dera ter para comprar a ração que a gata adorava. – Fuja para a casa do titio Mark... Ele vai te receber bem, certeza.

Soltou uma risadinha por conta de seu monólogo. Sorriu e decidiu colocar o resto daquele mingau que prepara, na vasilha do animal que pareceu se animar com a ideia, rodeando o dono e começando a comer ferozmente assim que Jaebum cedeu-lhe espaço para fazê-lo. Acariciou a cabeça de Nora e sentiu alguns pelos soltarem-se em sua mão, fazendo-o bater as palmas juntas para desgruda-los de sua pele.

_Appa vai sair. – Avisou ao animal, recebendo o silêncio como resposta.

Pegou a chave de sua Pickup Ford 1940 Motormax branca com faixas vermelhas, que herdara dos pais, e foi até o banheiro, querendo verificar somente mais uma vez se estava tudo certo com sua aparência. Colocou o capuz de seu moletom preto, que usaria para esconder um pouco seu rosto e seguiu para o automóvel, entrando no mesmo e começando a dirigir na direção da cidade.

Ele precisava sair naquele horário se quisesse chegar cedo como combinara com o resto de seus amigos. Estava se escondendo longe demais do centro, o que poderia ser bom e ruim ao mesmo tempo, e levaria no mínimo duas horas para chegar no ponto de encontro. Durante toda aquela viagem passou a cantarolar uma música ou outra que ouvira na infância e abriu as janelas para sentir o vento em seu rosto.

Os pinheiros que margeavam a estrada exalavam um aroma tranquilo, que fez, por um momento, Jaebum recordar os dias quando brincara de esconde-esconde por aquela floresta sem o risco de ser pego por um militar. Lembrando dos seus dez anos de idade, quando preocupava os pais sumindo entre os troncos.

Seus lábios se contorceram em um sorriso e seus olhos marejaram. Não importa o quão linda, o quão feliz ou o quão triste se é uma memória, é do humano chorar por não conseguir aceitar que o passado não se pode ser revivido.

Ele fungou e então mexeu nos cabelos com a mão que não segurava o volante, ajeitando o capuz sobre suas mechas pretas. Respirou fundo e abanou-se um pouco, pois a cidade inventara de atingir sua máxima de temperatura mais quente justamente no dia que ele acordou disposto a usar um moletom. O suor já escorria por suas costas, o que o fazia se afastar um pouco do banco de couro e amaldiçoando mentalmente quem inventara aquele maldito plano de recuperar o líder, demorando um pouco para se lembrar que fora ele mesmo.

No final do ano de 1942, mais especificamente a sexta-feira de Natal, o líder do seu movimento, Park Young Chul, fora pego por alguns militares durante uma manifestação contra a recente decisão tomada pelo governo, que vem proibindo o acesso de crianças aos seus colégios.

Jaebum soube a merda que daria no momento em que ouviu a notícia ser anunciada no rádio. Claro, o governo estaria afastando as crianças dos colégios, estariam tirando das mesmas o conhecimento e também o poder de opinar, a expressão de liberdade, e Im sabia o quanto seu líder odiava a ideia de uma nova sociedade alienada. Na realidade, todos odiavam a ideia de uma sociedade que fossem apenas marionetes do presidente e seus ministros.

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