3 Capítulo

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- Oi. - chamei enquanto descia as precárias escadas do meu porão, sem ouvir nenhuma resposta.

Por um momento eu me perguntei se talvez eu não tivesse sonhado aquilo tudo. Porém, para o bem da minha sanidade, ele se mexeu num canto do porão.

O porão da minha casa nessa época servia exclusivamente para guardar entulio que ninguém liga que mofe. E o meu Anjo está lá, no chão molhado, vasculhando caixas e mais caixas e segurando um caderno roxo nas mãos como se fosse algo precioso.

- Eu trouxe comida para você. - comecei deixando a bandeja no chão ao seu lado.

Ele parecia meio confuso e fez um sinal para que eu sentasse ao seu lado. Ficamos ali em silêncio, enquanto ele comia sem soltar o caderno.

Olhando mais atentamente vi que a capa trazia a foto de Emilie, com os cabelos com tiras amarelas, pintadas com tinta lavável. Notei também que se tratava do diário da minha irmã. Ela fazia um a cada ano deis que aprendeu escrever.

- Acho que não devia ler isso. Se Emilie descobrir ela é capaz de te matar.

Ele pareceu empolgado.

- Você acha que eu poderia conhecê-lá?

Confesso que isso me incomodou. Me afastei alguns centímetros e fechei a cara. Será que até aqui eu teria que viver o fantasma de Emilie.

- Desculpa. Sei que não deve querer que alguém como eu se meta com sua irmã. - Se desculpou genuinamente, passando os dedos com delicadeza sobre sua foto. O que me deixou furiosa. - Ele parece ser tão delicada. Como uma pérola. Mas tem tanta confiança e...

- É, É. - perdi a paciência me levantando para ir embora. - Ela é tudo de bom. É maneira pra caramba. Agora para de encher o saco!

Tranquei a porta, ignorando aquela cara bonita de sonso do cara mais lindo que já vi. E fui para sala.

Lá Emilie entrou radiante segurando um troféu com formato de rainha.

- Olha que lindo! - esticou o braço enquanto eu a jogava de lado para ver a TV.

- Que saco Emilie, eu já vi que você ganhou. - reclamei, pela primeira vez em muito tempo séria.

- Eu não ganhei. Quem dera! Mas meu amigo me deu o troféu, porque ele já tem muitos. Não é legal? Você está bem? - se explicou rapidamente meio preocupada.

- Estou. E antes que você comece, não aconteceu nada, ninguém me fez nada. E, principalmente, eu não preciso ou quero sua ajuda!

Emilie deu de ombros e foi para nosso quarto. Me proporcionando horas sem a cara dela na minha frente. Sem ouvir ninguém falar de Emilie

Meus pais chegaram horas depois, perguntando como sempre do jantar. Do qual era era a responsável, já que "a perfeita Emilie" era incapaz de produzir um macarrão instântaneo de qualidade.

Minha mãe era tão baixa quanto a minha irmã, e seu rosto era quadrado como o de Emilie, mas ele era gorda e tinha cabelos ainda mais curtos e finos do que os meus.

Meu pai, era na verdade meu padrasto e era um homem negro de 50 anos, que todos não davam mais de 35. E não era gordo.

Além disso ele carregava no colo o meu irmão menor, esse realmente filho dele, Henzo de 3 anos.

- Eu não fiz nada mãe, mas nós poderíamos comprar um pizza sei lá. Só por hoje.

- Eu apoio! - gritou minha irmã descendo as escadas e beijando as bochechas infantis de Henzo até ele reclamar. - Você tá muito chatinho. - reclamou.

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