Capítulo 4

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Fernanda

Cheguei na entrada do morro. Eu estava assustada, tinha vários homens armados fazendo o que acredito ser a segurança do morro, uns usando drogas,outros conversando, mas todos com armas muito potentes em mãos. Realmente, o nosso país é uma merda. Enquanto nós policiais nos fodemos com armas não tão potentes, bandidos andam com armamento de fazer inveja a qualquer um.

Meu nome aqui seria Dafine. Sempre quis ter esse nome e agora é uma oportunidade. Caralho eu estou brincando com minha vida, só pode.

Não me movi nem um pouco. Apenas peguei meu celular acionando o único contato que poderia me ajudar. Jade.

" Eu já estou aqui, e acho que o pessoal não vai me deixar passar " risos.

Tentei ser o mais transparente possível. Para todos eu tinha que estar acostumada com esse ambiente e estava me mudando porque estava fodida na outra comunidade.
Eu estava com raiva.. queria fuzilar um por um desses caras, só em saber que caras como esses podem ter matado os meus pais,doí tudo.

- Ei ei, o que a patricinha quer aqui? - um cara armado até os dentes segurou meu braço.

- Você pode soltar meu braço por favor? -falei contendo a raiva, a vontade era de sacar minha arma pra esse cara.

- Ah. - riu. - Primeiro fala o que você quer gostosinha.

- Solta ela D2! - uma garota falou. - Ela está comigo, vai morar aqui agora,deixa de ser idiota.

- Não sabia patroinha.- ele soltou meu braço e sussurrou um "desculpa gata".

Nojo define.

Me aproximei da garota, eu só queria sair de perto desses caras asquerosos.

- Suponho que você deve ser a jade.- sorri.

- Sim! E você a Dafine.

- A própria.

Ia ser difícil me acostumar com esse nome mas eu iria conseguir.

Ela me mostrou a comunidade inteira. Fiquei impressionada como as pessoas pareciam ser felizes aqui, apesar de ter algumas fofoqueiras que ficaram me encarando.

Pra mim estava sendo foda. Eu não sabia o quanto demoraria aqui, nem como eu me aproximaria do tal Iury,só sei que quando eu quero eu consigo. E se for pra dar minha própria vida por justiça,eu darei.

- Como era sua comunidade?- Jade perguntou me deixando totalmente encabulada.

- Normal.- falei. - Eu... Perdi meus pais muito cedo e só sobrou eu e a minha avó lá sabe. Foi duro e é até hoje. Mas me envolvi com um carinha lá que fodeu minha vida e por isso tive que sair de lá.

- Entendi. Difícil. Eu também perdi meus pais... - ela falou triste.

Dei um abraço nela como se fôssemos amigas de longa data. Eu entendi bem a dor dela,mais do que ninguém eu sei o quanto é doloroso perder seus pais.
Mas o pior de tudo, é que ela sabe como eles se foram. E eu... bom,eu,fui deixada sem pistas,rastros, nada. Só fotos deles me restaram. Só queria que meus pais estivessem aqui.

- Não é hora de falar de coisas tristes! - falei.

- Você tem razão. Quer almoçar na minha casa?

- Jamais. Eu não posso te dar tanto trabalho assim, mais do que já estou dando.

- Af, nem vem com esse b.o. Tu vai sim!

- Boletim de ocorrência?

- An?? - ela riu. - Mano tu é engraçada pra cacete. Tu sabe o que é b.o, toda mina de comunidade sabe.

- Claro boba, eu estava te zoando.- ri sem graça.

É, eu precisaria pesquisar o que é isso e aprender todas as gírias se eu quisesse ser uma "mina de comunidade".

Aceitei ir, afinal eu tinha que fazer amizade com ela. Quanto mais melhor. Ela era muito legal, me sinto uma farsante fazendo isso mas é, sou uma farsante.

Uns caras que aqui eram chamados de vapor levaram minhas coisas até a casa de Jade. Era estranho, mas iria me acostumar.

- Meu lar doce lar.

- Cacete! - fiquei boquiaberta. - Que casa é essa?

- A minha. Quer dizer do meu irmão. Sinta- se em casa.

Era uma mansão! Provavelmente o irmão dela deve ser um puta ladrão pra ter uma renda dessas. Eu trabalhando como agente federal não consegui nem terminar de pagar meu apartamento.

- Muito linda.

- Senta no sofá pô. Só iremos esperar meu irmão chegar pra comer.

- Ele não vai se incomodar? - perguntei preocupada.

- Claro que não gata. Relaxa.

- Muito obrigada pela sua estadia.

- Você é estranha. - riu. - Fala tudo diferente, parece ser inteligente, estudada.

- É que minha avó sempre me botou pra estudar! - bolei uma resposta rápida. - Eu ganhei bolsa em colégio particular e tudo mas ultimamente não me liguei nisso muito.

- O carinha lá fodeu com tudo né?

- É, demais.- ri totalmente sem graça.

- Sei bem, homem quando fode bem deixa a gente doida.

- Ô se é . - me limitei a falar só isso.

Eu não estava nem um pouco a vontade. Jade era gente fina mas estava claro que era de um mundo bem oposto ao meu, eu não era assim.. Ser reservada e calada sempre foi meu tipo, afinal não é atoa que virei uma agente investigativa.

O tal irmão dela chegou e eu arregalei os olhos. Nunca vi um homem tão... Largado e atraente.

- Quem é essa?

- Essa é Dafine! Nova moradora da comunidade e minha amiga, ela veio almoçar aqui maninho.

- Ah, de boa. Satisfação. - estendeu a mão para mim.

- Prazer. - sorri morrendo de vergonha.

- Só na cama tio. - ele riu achando a maior graça naquela merda.

- Bom Dafine, esse é meu irmão Iury, dono da NH.

Meu coração quase saiu pela boca. Pensei que iria desmaiar e passar mal entregando o jogo ali mesmo mas permaneci calma,ou aparentemente calma. O destino só está me favorecendo! Puta destino.

- Não sabia que o seu irmão era o dono daqui Jade. Assim me sinto muito mais desconfortável.

- Por que? - ele perguntou. - Eu não mordo,só se pedirem.

- Haha.- falei.

- Desculpa não avisar. Eu só não queria te assustar .

- Por que me assustaria? - ri.- Eu sou de boa em relação a isso. - falei olhando fixamente para ele.

Almoçamos e ele não parava de me encarar. Eu tinha noção que podia estar comendo junto ao assassino dos meus pais mas eu iria até o final.
Eu não sei se foi ele. Mas se ele estava na casa dos meus pais naquela noite é porque os conhecia. E eu iria desvendar essa porra toda.

Ponto fracoOnde histórias criam vida. Descubra agora