Capítulo 3 - imprevistos

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Limpei as lágrimas mais persistentes que conseguiram sair dos meus olhos castanhos com a palma das minhas mãos. Isto nunca me tinha acontecido. Nunca me tinha sentido tão mal por perder alguém. Alguém como o Harry. 

Tudo bem que somos apenas amigos, mas ele é bem mais que um amigo para mim, ele é o meu refúgio e sabe disso. Ele sabe que é a pessoa que me consegue pôr um sorriso na cara, os meus olhos a brilhar e, acima de tudo, faz-me sentir viva. 

Dirigi-me ao balneário, e arrumei todas as minhas coisas dentro da mala. As dores de cabeça estavam presentes, para mal dos meus pecados. Dores essas provenientes do choque com a pequena mesa ou será antes a minha consciência pesada? Estremeço com os pensamentos e coloco a mala ao ombro, pronta para abandonar o edifício sem qualquer tipo de explicação. 

Sei que quando chegar a casa a minha mãe já lá estará – e provavelmente vai-me matar – Mas, desta vez, tenho desculpa, posso sempre dizer que bati com a cabeça e não me estava a sentir bem, encobrindo assim as reais razões para estar em casa tão cedo. 

Os meus pés moviam-se lentamente, parecendo não ter força suficiente para os levantar, pela calçada tão familiar, o vento embate-me na cara e agradeço mentalmente por não ter desfeito o meu rabo-de-cavalo, um arrepio percorre a minha espinha assim que passo pela casa do rapaz alto, com cabelo aos caracóis e as suas perfeitas pérolas verde-esmeralda. Quero saber onde ele está, com quem, quero pedir-lhe desculpa por ser tão estúpida, quero dizer-lhe que preciso dele e que o amo. Mas eu não posso. Não agora que ele seguiu em frente. 

“ Oh querido! Não sabia que vinhas mais cedo do trabalho” oiço a minha mãe a falar da cozinha com uma voz amável e um toque de felicidade. Ando até à cozinha bastante devagar, pois as minhas forças parecem ter sumido.  “Estou a preparar o lanche queres-“ interrompe as suas palavras assim que me encontra encostada à ombreira da porta, aproxima-se e examina-me profundamente “Samanta? Estás bem, filha? Pareces lastimável!” finalmente fala. 

“ E estou” suspiro pesadamente, segurando as minhas lágrimas, não querendo mostrar a minha vulnerabilidade em frente à minha progenitora.

“ Porque estás a faltar às aulas?” 

“Bati com a cabeça no ínicio da aula de educação física e não me estava a sentir muito bem.” Acrescento alguns pormenores não a querendo deixar preocupada, mas parece ter feito ainda pior. 

“Precisas de ir ao médico? Sentes-te bem? Samanta, estás pálida! Estiveste a chorar?! Deixa-me ver!” 

“Mãe… calma! Preciso apenas de descansar e, talvez, de um comprimido para as dores de cabeça” tento tranquiliza-la, sei que não adianta de muito, porque mãe é mãe. 

“Mas tens de comer algo” diz caminhando até ao balcão, encheu um copo com sumo natural de laranja e colocou duas panquecas no prato “Queres alguma coisa nas panquecas?” 

“Não tenho fome” torço o nariz, mas não adianta de nada assim que observo o olhar da minha mãe, decido não perder mais tempo. “Ok, tudo bem, eu como. Está bom assim!” 

Comi o lanche que minha mãe me preparara carinhosamente e, de seguida, tomei o químico que julgo ajudar-me nas próximas horas. Subi as escadas que pareceriam ser infinitas e entrei na porta em frente, o meu quarto, fechei a porta atrás de mim e encaminhei-me até à minha cama que recebeu todo o meu peso. As roupas brancas que cobrem a cama nunca pareceram tão reconfortantes, nunca pareceram tão minhas amigas. 

O peso das lágrimas e da exaustão deste longo dia, faz os meus olhos pesados, quase fazendo com que os arranque, mas em vez disso, deixo-me levar para um mundo bem mais profundo, envolvendo-me num sono que, espero mesmo, leve toda esta mágoa de mim. 

Um enlouquecedor vibrar na minha mesinha de cabeceira, quase digno dos meus sonhos, mas que rapidamente me apercebo ser um som verdadeiro, faz-me acordar. Pego no iPhone branco, reparando ser um número desconhecido, despertando em mim alguma curiosidade. 

“Sim?” 

“Pensava  que não ias atender por ser um número desconhecido!”

“Quem és?” pergunto impacientemente.

“Sou a Sarah! A namorada do Harry, desculpa ter tirado o teu número do telemóvel dele, mas queria saber como estás. Estás bem?” engulo a seco, tentando ignorar a dor que sinto no meu estômago.

“Estou bem, obrigada. Estou apenas cansada.”

“Então descansa. Mais uma vez, desculpa, querida” 

“Não tem mal!” 

Desligo a chamada que parece ter durado anos e encontro os meus pensamentos. 

Ela tirou o meu número do seu telemóvel o que significa que eles estiveram juntos, enquanto eu estou aqui, fechada em casa como se o fim de mundo se estivesse a aproximar, eles estão juntos e felizes. Talvez o Harry não precise mesmo de mim. É melhor assim. 

“Mana, vamos jantar!” a pequena Luana grita do outro lado da porta.

Não é que a minha fome seja muita, mas não vou deixar de comer só porque os meus problemas teimam em sufocar-me. 

“Estás melhor?” pergunta o meu pai, com os seus lindos olhos cinzentos em mim. Dedico-lhe um sorriso para o despreocupar. 

“Sim, estou bem. O comprimido fez efeito.” Digo enchendo o meu copo com água e comendo um pouco de frango assado. 

“Convidei a Anne e a família para passarem cá depois do jantar.” A minha mãe informa. 

“Porque é que fizeste isso?” a minha voz sai mais desesperada do que queria, odeio-me por isso. Nunca me consigo controlar. 

“Isso nunca te incomodou, Samanta… O que se passa?” 

“É o namorado dela, mamã!” Luana lança. 

“Luana? Estás parva?!”

“Samanta, não fales assim com a tua irmã!”  reviro os olhos ao pedido do meu pai. 

Decido ignorar a pergunta inicial da minha mãe e o desenrolar dessa mesmo. Porque raio a minha mãe convidara os Styles para virem cá numa sexta à noite? Por muito que tente obter respostas para as minhas perguntas isso não me é permitido – como sempre.

“Porque os convidastes?” atrevo-me a perguntar, interrompendo qualquer tipo de conversa que a minha pequena família estava a ter enquanto estava mergulhada nos meus pensamentos.

“Porque é sexta à noite e quero ter um bom serão em família.”

“Eles nem são família!” cuspo. É inevitável não ter qualquer tipo de atitude infantil no que toca ao Harry. Eu não compreendo. 

“Sempre consideraste o Harry e os seus familiares membros desta família, volto a repetir o que se passou?” a campainha pôs um ponto final à conversa, o que me fez soltar um suspiro de alívio. “Vai abrir, Sammy”

Prefiro não resmungar com a minha mãe quando me manda abrir a porta, eu realmente não quero abrir aquela porta, mas mais uma mini discussão agora não me ajudaria em nada. Engulo a seco, pensando na probabilidade do meu ex-namorado se encontrar atrás daquela porta, do meu melhor amigo – por quem estou completamente apaixonada – se encontrar lá. 

Assim que abro o pedaço de madeira que me separa do exterior, imediatamente o sorriso caloroso  de Anne e Gemma me faz esboçar o meu genuíno sorriso, dou um abraço a cada uma delas. Os meus olhos param quando vejo a figura de Harry, com as suas calças cinza largas e confortareis e uma t-shirt preta coberta, igualmente, por um casaco preto. Como adoro vê-lo assim, casual. 

I'll be thereOnde histórias criam vida. Descubra agora