Happy New Year!

Água morro abaixo, fogo morro acima...

Se eu fosse discursar sobre como a semana pós-Natal é um prelúdio para o ano seguinte, eu estaria completamente ferrada. Primeiro, porque eu acabaria chorando e entrando em depressão. Segundo, porque não era possível que a pior semana da minha vida fosse justamente a mais importante.

O Natal até que havia sido legal, com tudo aquilo de ceia, de presentes, amigo secreto, gente insuportável, entre outras coisas. Até a hora que o tio João Luiz, insuportável ao quadrado, decidiu que aquele era o momento de falar sobre política. Aquele enrustido que se escondia atrás de pessoas hipócritas.

Foi quando eu abri a boca para expor a minha opinião que eu fui gentilmente desconvidada de passar o Ano Novo com a minha família. Ah, qual é, como se eu quisesse passar minhas "boas festas" com gente intolerante. Tudo bem que eu possa ter me exaltado e quase, - eu disse quase – levantado a faca pra ele. Tudo bem também que eu, como tenente-coronel da Polícia Militar, não deveria me alterar, mas foi impossível. Acho que o medo deles era eu sacar minha arma do cinto ali mesmo. Como se isso fosse um problema, imagina. Eu nem tava usando cinto, tava de vestido.

Não me estressei, mesmo assim. Aceitei calmamente que eu não seria mais bem-vinda. Cecília, minha irmã, até tentou acalmar os ânimos, mas quem não queria mais essa obrigação extenuante era eu. E ainda mais, passaria o fim de ano com meu noivo.

Bom, tecnicamente meu "noivo", já que eu ainda não havia pedido. Sim, eu já tinha até comprado a linda e grossa aliança que eu planejaria pra ostentar no dedo dele. Sim, eu ia pedi-lo em casamento, esse negócio de mulher esperar é super old school, e eu já tava cansada. Ele não era a pessoa mais esperta do mundo, mas eu nem ligava. Amor é cego, mesmo.

Doce ilusão a minha. Isso de amor parecia que só cuspia na minha cara. Cuspia demaquilante na minha cara coberta de maquiagem. Nada mais explicava todo esse azar que parecia querer me castigar pelas sortes do ano todo. Papai Noel estava bravo comigo. Quase que eu podia vê-lo balançando a cabeça em algum lugar do gelo que ele mora dizendo "Giovanna, você passou dos limites. Não vai ganhar presente, e vou ferrar com a sua vida."

E ele ferrou. Naquele dia 27 de dezembro, eu estava decidida, pediria Leandro em casamento. Já estava com todo discursinho de amor e declarações prontas, com a caixinha dentro da bolsa e o celular na mão. Ele havia viajado com a família para uma das filiais que ele administrava, e eu devia ter percebido ali, quando ele praticamente me baniu da viagem. Mas, muito ocupada com meus plantões, achei cômodo só passar com os meus parentes. E cheguei ali, na casa dele de surpresa, porém quem foi surpreendida fui eu.

Nem precisei abrir a porta para escutar os gemidos. Reprimi um sorriso malicioso em pensar que ele estava se aliviando sozinho. Ilusão, de novo, já que logo em seguida, a voz enjoativa parecia que tinha parido um filho. Abri a porta com a velocidade da luz, e aqueles coelhos safados nem tinham esperado ir pro quarto; entrelaçados no sofá, nem dava pra diferenciar os corpos.

- Gio? – A voz do filho da mãe soou após o som do estatelo do meu celular no chão me denunciar.

- Filho da puta. – O ódio espumava de todos os meus poros.

- O que você ta fazendo aqui? – Ele se afastou da mulher – a qual eu só percebi repassando o momento em casa que era a ex-mulher dele, totalmente deformada pelas plásticas - que me encarava totalmente dissimulada, alisando os cabelos.

- É, ainda não sei. – Joguei a chave de seu apartamento na cara dele, vendo sua boca emitir o grito de dor e o filete de sangue escorrer de seu supercílio.

- Você 'tá louca? – O grito do infeliz fez meus tímpanos reclamarem, mas somente revirei os olhos.

- Tem sorte de eu ter esquecido minha arma. – Leandro arregalou os olhos. Não havia tristeza em mim, só raiva. Raiva de ter sido uma idiota e ter sido feita de otária.